"A Memória é a Imaginação do Povo, mantida comunicável pela Tradição, movimentando as Culturas, convergidas para o Uso, através do Tempo. Essas Culturas constituem quase a Civilização nos grupos humanos. Mas existe um patrimônio de observações que se tornam Normas. Normas fixadas no Costume, interpretando a Mentalidade popilar. (...) Não lhe sentimos a poderosa e onímoda influência como não percebemos a pressão atmosférica em função normal. Nem provocam atenção porque vivem no habitualismo quotidiano" (CÂMARA CASCUDO, Luis da: Tradição, ciência do povo. Pesquisas na cultura popular do Brasil. São Paulo, Editora Perspectiva, 1971, p. 9.) | |||
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"Pertenço a famílias do Sertão onde vivi e deixei já rapazinho. O material desse depoimento constitui cenário de infância e juventude. Gado, cavalo, vaqueiros e cantadores. Residindo em Natal, a casa de meu Pai era o ‘Consulado do Sertão’ , cheia de exilados das caatingas e derrubadas. Como não entender a referência temática de minha Raça? A imagem que me aplicavam na inquietação menina, ainda emprego, maquinalmente, aos netos inocentes de Sertão: ‘Você está adivinhando chuva’? (CÂMARA CASCUDO, Luis da:Tradição, ciência do povo. Pesquisas na cultura popular do Brasil. São Paulo, Editora Perspectiva, 1971, p. 30) | ||
"Ao lado da literatura, do pensamento intelectual letrado, correm as águas paralelas, solitárias e poderosas da memória e da imaginação popular" (CÂMARA CASCUDO, Luis da: Contos Tradicionais do Brasil. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/ EDUSP, 1986, p.15) |
![]() Capa do Caderno mais!, 27/12/1998, Folha de São Paulo |
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"A Memória é a Imaginação do Povo, mantida comunicável pela Tradição, movimentando as Culturas, convergidas para o Uso, através do Tempo." (...) " O Povo guarda e defende sua Ciência Tradicional, secular patrimônio onde há elementos de todas as idades e paragens do Mundo". (CÂMARA CASCUDO, Luis da: Tradição, ciência do povo. Pesquisas na cultura popular do Brasil. São Paulo, Editora Perspectiva, 1971, p. 9 e 29.) | |||
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"Todos os países do Mundo, raças, grupos humanos, famílias, classes profissionais, possuem um patrimônio de tradições que se transmite oralmente e é defendido e conservado pelo costume. Esse patrimônio é milenar e contemporâneo. Cresce com os conhecimentos diários desde que se integrem nos hábitos grupais, domésticos ou nacionais. Esse patrimônio é o FOLCLORE. Folk, povo, nação, família, parentalha. Lore, instrução, conhecimento na acepção da consciência individual do saber. Saber que sabe. Contemporaneidade, atualização imediadista do conhecimento." (CÂMARA CASCUDO, Luis da: Folclore do Brasil (pesquisas e notas). Rio de Janeiro/São Paulo: Fundo de Cultura, 1967. P 9.) | ||
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"Depois de relativamente alfabetizado, adoeci da moléstia livresca. (...) Foi então que comecei a encontrar nos livros, como coisas distantes e antiquíssimas, quanto vira e vivera no Sertão e na velha Natal. (...) Com essas reminiscências quero explicar que não encontrei o folclore nos livros e nas viagens. Não o estudei depois de vê-lo valorizado pelo registo. Encontrava nele as estórias de meu Pai, de minha Mãe, da velha Bibi, dos pescadores, rendeiras e cantadores, familiares." (CÂMARA CASCUDO, Luis da: Folclore no Brasil (pesquisas e notas). Rio de Janeiro, São Paulo: Fundo de Cultura,1967. P.248.) |
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"Nenhuma ciência como o Folclore possui maior espaço de pesquisa e de aproximação humana. Ciência da psicologia coletiva, cultura do geral no Homem, da tradição e do milênio na Atualidade, do heróico no quotidiano, é uma verdadeira História Normal do Povo." (CÂMARA CASCUDO, Luis da: Contos Tradicionais do Brasil. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/ EDUSP, 1986. p. 15.) | ![]() Ex-Libris, Henfil |
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"Menino, fui com minha mãe para o Sertão. (...) Não estudei a vida sertaneja há mais de meio século. Vivia integralmente. Todos os motivos de pesquisa foram inicialmente formas de existência natural, assombrações, alimentos, festas, soluções psicológicas." (Seleta : Organização e notas de Américo Oliveira Costa. Rio de Janeiro: Ed. José Olympio, Instituto Nacional do livro, 1972. p. 7.) | |||
"Nunca pensei em deixar minha terra. |
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"Ter permanecido na Província, ‘provinciano incurável’ dizia-me Afrânio Peixoto, constituiu-me uma fonte de informação, na mesma autoridade das outras, com a vantagem de não poder ser enganado pela imaginação da burla, podendo confrontar as notícias no processo da equivalência." (CÂMARA CASCUDO, Luis da: Folclore do Brasil (pesquisas e notas). Rio de Janeiro/ São Paulo, Fundo de Cultura,1967. p. 249.) | |||
"Conhece-te a ti mesmo! É a fórmula da impossibilidade introspectiva. Não há roteiros para esse país de revelações assombrosas, submergidas no meu peito. O Passado vive em mim! Mas o Passado é identificável. Posso conhecer suas procedências, origens, raízes. E o que não existia? O que não li, não vi, não ocorreu comigo? ...Podemos dizer "pensamentos idos e vividos" porque não sabemos calcular a duração do percurso na extensão da elipse. Certo é que voltarão, para nós ou para outros. Persistem, indefinidamente sem que envelheçam...Existirão pensamentos básicos dos quais se ergue a estrutura conseqüente de todos os demais? É a mesma técnica instintiva dos contos populares, anônimos e universais. Não são incontáveis, como parecem, mas consistem na combinação dos contos tipos, os modelos essenciais. Comunicam-se, ampliam-se, percorrem o mundo no recurso das variantes locais, regionais, nacionais. As idéias, pensamentos, atos de elaboração, obedecem ao mesmo ritmo de formação, aglutinante e de expansão útil, como participantes da convivência humana."(CÂMARA CASCUDO, Luis da: O tempo e eu. Confidências e proposições. Natal, UFRN, 1998, p.212) | |||
"Fiquei, definitivamente e sem recalques, provinciano. Ia ser, até a velhice, professor jagunço." (CÂMARA CASCUDO, Luis da: O tempo e eu. Confidências e proposições. Natal, UFRN, 1998, p.48) | "Todo o "material", utilizado nessa viagem, foi aparecendo num percurso de setenta anos, o Tempo e eu, andando juntos, inseparáveis, vendo a vida passar com suas multidões." e "A curiosidade ausente, o abandono displicente, a fingida ignorância, não anularão a existência vivida. Nem mesmo Deus tem o poder para modificar o Passado."(CÂMARA CASCUDO, Luis da: O tempo e eu. Confidências e proposições. Natal, UFRN, 1998, p. 19) | ||
"As minhas viagens pelo mundo retificaram ou ratificaram leituras e deduções anteriores. Não modificaram a mentalidade pessoal que sabia, com limpidez e lealdade, constatar a diversidade das civilizações e a multidão das culturas, adaptadas ou sobreviventes. Sempre me dispensei discorrer sobre essa gloire viagère... Foram cursos no espaço, ensinando-me a universalidade de certos atos e a uniformidade de determinadas reações psicológicas. Como não fui caçador de curiosidades anedóticas ou reminiscências pitorescas, emprego-as como canela em mingau, leve pitada oportuna e leve, para dar o sabor prestigioso das coincidências longínquas..." (CÂMARA CASCUDO, Luis da: O tempo e eu. Confidências e proposições. Natal, UFRN, 1998, p.278) | ![]() |
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"Perguntou o que eu queria fazer. Pesquisar, estudar, expor, a Cultura do nosso Povo, informei... Investigar o mundo popular, mergulhar nas raízes, procurando as constantes e permanentes da nossa mentalidade alheias às influências da educação clássica e do influxo europeu. Conhecer o que realmente é brasileiro e suas fontes de formação. Tal é o plano." (CÂMARA CASCUDO, Luis da: O tempo e eu. Confidências e proposições. Natal, UFRN, 1998, p.149) | |||
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"Posso, como o velho timbira do Y Juca Pirama dar o depoimento testemunhal: — Meninos, eu vi!..." (CÂMARA CASCUDO, Luis da: O tempo e eu. Confidências e proposições. Natal, UFRN, 1998, p.136) |