CÂMARA CASCUDO E OS MÉTODOS DA HISTÓRIA CLÁSSICA

Tatiana Moreira Campos Paiva
Bolsista de Iniciação Científica do Projeto Modernos Descobrimentos - PUC-Rio

Este relatório, juntamente com o relatório técnico das atividades desenvolvidas pela equipe de pesquisa de 2001.2 a 2002.1, é continuação do trabalho desenvolvido no primeiro semestre de 2001 quando o projeto de pesquisa “O Encantamento do Passado: Luis da Câmara Cascudo historiador”, coordenado por Margarida de Souza Neves encontrava-se em sua primeira etapa .
O objetivo deste relatório é desenvolver as hipóteses iniciais e identificar como Câmara Cascudo trabalha a história, considerando os diferentes aspectos que esta disciplina pode ter em seu trabalho intelectual. Para isso também é necessário considerar o papel do historiador para Câmara Cascudo levando sempre em conta sua posição de importante intelectual nordestino.
Este trabalho terá como proposta principal uma análise aproximativa, considerando as semelhanças e apontando as diferenças, entre a História Clássica tal como se apresenta na obra de Heródoto e a produção histórica de Câmara Cascudo. Como uma ampliação deste objetivo de trabalho, pretendo igualmente incluir de maneira menos enfática, mas igualmente importante, o conceito de História Mestra da Vida desenvolvido por Cícero. Esse aspecto da pesquisa deverá ser objeto de ampliação na próxima etapa do trabalho. Esta análise tomará como base, além de obras de Cascudo de caráter histórico, algumas de suas obras de caráter folclórico uma vez que estes dois campos – história e folclore – estão em constante relação em sua produção intelectual.
Estarão presente ainda neste relatório os conteúdos atribuídos ao conceito de "história", que para Câmara Cascudo aparece em diversos campos de sua produção bibliográfica.
Podemos identificar quatro abordagens diferentes da história nos seus trabalhos. Em primeiro lugar pode ser destacada sua produção voltada para a história em geral, e, particularmente, à história do Rio Grande do Norte e da cidade de Natal. Temos em segundo lugar suas biografias de personalidades ilustres tanto do Rio Grande do Norte como nacionais. Também encontramos, em terceiro lugar, a história nos seus livros memorialísticos, e por último, num quarto grupo de trabalhos seu, nos livros em que Cascudo escreve sobre a “história das coisas miúdas”, a micro-história, e que para ele não são escritos historiográficos mas sim estudos etnográficos e etnológicos, como a “História da Alimentação no Brasil”[1], “Jangada”[2], “A Rede de dormir”[3] entre outros. Faça uma nota remetendo para o meu artigo no Projeto História (PUC-SP) e para o projeto. O Relatório de vê usar e abusar de citações e notas, ao contrário do texto preparado para ser lido.
Para a construção desta análise é igualmente importante considerarmos como Cascudo pensa a relação entre o universal e o particular, o nacional e o regional, a tradição e o progresso, sua preocupação constante com a busca das origens de seus objetos de estudo, e o seu papel de “testemunha ocular” de processos históricos.
Farei uso neste relatório como material de pesquisa de uma seleção de livros, cartas, entrevistas e artigos escritos por Câmara Cascudo ao longo de sua trajetória de trabalho, assim como de trabalhos escritos sobre ele e de outros intelectuais sobre o campo da história.
Luis da Câmara Cascudo não é propriamente conhecido hoje, nos meio acadêmicos, como um historiador. É como folclorista que é reconhecido. "Mas é curioso observar a recorrência com que é identificado, sobretudo no Rio Grande do Norte, como o historiador Luis da Câmara Cascudo."[4] Sua mulher, Dáhlia Freire, seus amigos, como Mário de Andrade, aludem com freqüência a ele como historiador e, em homenagens feitas, Cascudo era freqüentemente lembrado como historiador.
Seu reconhecimento (nacional e internacional) sempre foi como o folclorista brasileiro, nordestino, ou melhor, o folclorista de Natal. Mesmo sendo advogado por formação, lecionava folclore na Universidade Federal do Rio Grande do Norte no curso de Direito Internacional. Tem uma produção bibliográfica de cerca de 150 livros sobre os mais variados assuntos. Escrevia livros, artigos, e escreveu uma coluna diária no jornal “A República” durante cinqüenta anos[5]. Sem dúvida foi um dos grandes intelectuais nordestinos de sua geração, mostrando-se um estudioso apaixonado pelo Brasil, pelo Nordeste e muito particularmente pelo Rio Grande do Norte e a cidade de Natal, que sempre aparecem como foco privilegiado de seu trabalho e pela cultura popular do país, preferencialmente analisada a partir de sua experiência de vida e lugar de inserção.
A cultura popular sem dúvida era a sua verdadeira paixão e objeto de estudo interminável de suas obras, que ele mesmo se refere como a cultura que vivemos. É a cultura tradicional e milenar que nós aprendemos na convivência doméstica. A outra é a que estudamos nas escolas, na universidade e nas culturas convencionais pragmáticas da vida. Cultura popular é aquela que até certo ponto nós nascemos sabendo. Qualquer um de nós é um mestre que sabe contos, mitos, lendas, versos, superstições, que sabe fazer caretas, aperta mão, bate palmas e tudo quanto caracteriza a cultura anônima e coletiva.[6]

Mas nem só de folclore e cultura popular entendia Câmara Cascudo. Sua produção bibliográfica não pode ser restringida somente a estas áreas. Muitos são seus escritos que abordam outros campos, inclusive e sobretudo a história. Sua forma de fazer história pode, em muitos casos, ser aproximada àquela dos historiadores clássicos, e com a visão própria do mundo antigo do que é a história, em especial próxima ao trabalho de Heródoto e de Cícero.
Heródoto é considerado o “Pai da História” justamente por que foi o primeiro a diferenciar o seu relato do relato mítico. Antes dele havia os logógrofos, escritores em prosa, que já se diferenciavam dos escritores poéticos. Mas o título de historiador significa um passo a frente, uma vez que história quer dizer originariamente “busca investigação, pesquisa”. Escreve portanto a história dos homens e não dos deuses. Ele afirma no proêmio da sua obra Histórias o elemento que define o domínio da história que irá relatar: as ações humanas. Seu objetivo é tratar de assuntos humanos, relatar acontecimentos, registrar o conhecimento dos homens e do mundo terreno. O Homem é o centro de suas histórias, e o próprio Heródoto o ponto de partida:
“...prosseguirei com minha história, falando igualmente das pequenas e grandes cidades dos homens pois muitas cidades outrora grandes agora são pequenas, e as grandes no meu tempo eram outrora pequenas.”[7]
É claro que Heródoto não ignora a mitologia, nem mesmo a literatura épica de Homero. Ao contrário, são diversas as vezes em que a mitologia se faz presente no seu relato, e deixa claro que acredita na intervenção divina na vida dos homens. Mas a principal diferença é que Heródoto não faz do mito uma explicação para os fatos mundanos. A história dos homens é feita no plano terreno, mesmo que haja a intervenção divina. Não é a mitologia que ele narra, e sim a história.
Comecemos portanto ver quais são as possibilidades de aproximação e claras diferenças entre a história para Heródoto e a história tal como era pensada e escrita por Câmara Cascudo.

O primeiro capítulo do Livro I de Histórias apresenta para nós leitores o objetivo do livro e por que Heródoto o escreveu:
“1. Os resultados das investigações de Heródotos de Halicarnassos são apresentados aqui, para que a memória dos acontecimentos não se apague entre os homens com o passar do tempo, e para que feitos maravilhosos e admiráveis dos helenos e dos bárbaros não deixem de ser lembrados, inclusive as razões pelas quais eles guerrearam.” [8]
Há algumas considerações a serem feitas em relação à função da história neste primeiro capítulo do livro. Podemos apontar a função da história para Heródoto como sendo eminentemente pedagógica. Ele escreve sobre os feitos maravilhosos dos homens pois esses não podem ficar esquecidos no tempo. Devem ser passados para as gerações futuras como modelo de comportamento e exemplo de ação. A história é pedagógica pois pretende ensinar através de fatos já ocorridos, para que os erros não sejam repetidos e os acertos possam ser admirados. Aparece portanto um sentimento de herança que deve ser transmitida, uma tradição.
Para Câmara Cascudo a história pode ter uma função pedagógica, e é assim que aparece em suas biografias exemplares. As biografias são muito significativas no conjunto da obra de Cascudo, pois através delas podemos reconhecer um outro aspecto e uma outra utilização da história que permite fazer uma aproximação com a História Mestra da Vida (Magistra Vitae) tal como proposta por Cícero.
Para Cícero a história é um "tesouro" que serve para ensinar a experiência dos homens anteriores, para que os acertos sejam repetidos e os fracassos evitados. Na concepção de história deste autor, os acontecimentos se repetem e, por isso, os atos devem ser registrados para que os homens do futuro possam olhar para seus antepassados e com eles aprenderem. Assim como Heródoto, Cícero escreve a partir das experiências humanas, e não a partir da referência explicativa à vontade dos deuses, pois são os homens que fazem a história.
Temos com o conceito de História Mestra da Vida três importantes considerações que nos remetem as utilizações feitas pela história. O primeiro deles seria a vocação pedagógica da história, ou seja, ensinar a través das ações dos homens. No segundo encontramos um modelo paradigamático que tem como pressuposto ensinar através de exemplos (história exemplar). Já o terceiro corresponde a um modelo de história pragmática, que estaria em contraposição à uma história dogmática. Neste caso temos a história orientada para a ação dos homens na vida prática.
Talvez o "tesouro" para Cascudo não seja propriamente a história mas sim o que ela vai gerar, ou seja a tradição. Temos com a história antiga, desenvolvida tanto por Cícero como por Heródoto, uma função para vida pública, para a política e a diplomacia. Não podemos falar em história da vida privada ou em micro história neste período pois não era esta o propósito de se fazer e pensar a história. Cascudo desenvolve história de muitas formas, inclusive a micro história, muito mais que a utiliza para fins políticos. Entretanto o resultado que ele busca pode ser bem similar ao que buscava Cícero com uma História exemplar. A idéia de um tempo que se repete e que justamente por isso podemos nos mirar em nossos antepassados, não estaria muito distante da idéia que Câmara Cascudo passa de um passado congelado, imobilizado, adormecido, esperando que alguém (na certa um historiador honesto como o próprio Cascudo) o desencante e revele suas riquezas e verdades para outras gerações. Não é a toa que sua busca por origens, assim como sua constante preocupação com pessoas que ele considera ilustres e que permanecem esquecidas, são partes de extremo peso em sua produção intelectual.
Assim como para Cícero, a história feita por Câmara Cascudo também apresenta um acentuado viés pedagógico, pois devemos aprender dos exemplos dos que nos precederam, mas, por outro lado, deve ser também sempre informativa. No prefácio do livro “A História do Rio Grande do Norte” afirma:
“Esta HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE é um trabalho sistemático de informação...”[9]
Quando pretende escrever história em suas obras de História do Brasil, de história regional ou de história local, Cascudo considera que o historiador não deve interpretar, provar, julgar ou concluir coisa alguma: deve apenas narrar para informar, pois a interpretação leva à confusão entre dados históricos e a opinião pessoal do historiador. A interpretação também leva ao julgamento do passado, o que para Câmara Cascudo é imperdoável. Assume, portanto, nesse aspecto de sua produção historiográfica, uma postura positivista em relação ao papel da história e do historiador, uma vez que pretende chegar à verdade dos fatos e considera essa verdade como um dado, e não como uma construção do historiador.
Câmara Cascudo faz uma distinção entre o “historiador de outrora” e o “historiador de hoje”[10]. O primeiro seria aquele que se vê como uma espécie de sacerdote que interpreta e julga o passado e seus personagens. O segundo dedica-se a um trabalho de sistematização e narração de fatos históricos, e tem como objetivo principal, segundo ele, informar o leitor do que realmente aconteceu. Este historiador está comprometido com uma concepção de verdade positiva, a verdade como dado, o que parece ser indicativo de que a história é concebida por ele, nesse aspecto, como “evocação” do passado:
(...) tenta-se evocar como nasce a Capitania do Rio Grande, viveu a Província que é Estado dos nossos dias.”[11]
A tentativa de fazer renascer a história do Rio Grande do Norte mostra uma história que tem entre seus principais objetivos a busca das origens.
Temos uma outra visão da História e sua função no discurso feito por Cascudo em 1952, publicado em separata da Revista do Arquivo Público de Recife, intitulado "A Função dos Arquivos". Neste discurso revelador e curiosamente repleto de definições, Cascudo nos apresenta sua percepção sobre os arquivos históricos e qual é o papel dos documentos neles contidos, documentos esses que servem para estudos futuros. O destino dos arquivos é guardar os elementos para a posteridade com o intuito de construir a memória dos acontecimentos. É nos arquivos que o historiador encontrará o que precisa para relatar o passado construindo o futuro.
Cascudo aponta em seu texto:
"Aqui é a casa da História, Solar do seu nascimento, nascente de suas águas que vamos encontrar lá fora, diversas e coloridas, na química das convenções e das simpatias. Aqui, nas cabeceiras, são elas silenciosas em força serena, manando dos atos formadores dos primeiros fios convergentes, explicação da futura torrente...".[12] .
Nesse seu discurso podemos perceber que Cascudo se mostra um velho freqüentador de arquivos, o que o classificaria do ponto de vista metodológico como um historiador em sua concepção. Sua fala se transforma em um lento passeio pelo que ele considera ser a "casa da história", uma conversa em "tom claro e baixo", sobre o "conceito de História e a função do documento para evocá-la, determiná-la ou transformá-la".
Entretanto devemos mencionar que este não é trabalho para qualquer historiador, pois o autor afirma este tem que ser um intérprete honesto dos "segredos do arquivo" o suficiente para não interpretar os fatos, pois toda interpretação modificaria o que um dia sucedeu. Nos arquivos estão as informações que Cascudo considera como o elo que permite a relação adequada entre o passado e o futuro, e cabe àquele que escreve a história ter o compromisso com a honestidade para que a posteridade possa ter mais proveito das informações exatas e mais certeza das conclusões que delas derivem. O passado para Cascudo é o lugar simbólico onde pode ser descoberta a identidade de um povo, de uma nação, de uma região ou de uma cidade, servindo como suporte para o encontro com as origens da tradição. O futuro, nessa perspectiva, é fruto do passado e da ação daqueles que o analisam, os historiadores.

A questão da tradição é muito presente nos estudos de Câmara Cascudo, e constitui uma preocupação constante em seu trabalho intelectual. E é precisamente nesse aspecto que é possível encontrar um outro ponto de tangência –e algumas diferenças - com o historiador clássico. Apesar de Cascudo não estudar os feitos maravilhosos dos helenos e dos bárbaros, como pretendia fazer Heródoto, ele também procura os atos heróicos dos homens, que na sua opinião resumem uma civilização:
"O fato memorável é um saldo das nossas imperfeições sublimadas, dos nossos sonhos positicados no plano superior da materialização. Cada herói é um resumo do seu tempo, do seu mundo, de sua civilização, um índice positivo do esforço orgulhoso da maioria que ele simboliza e eleva ad immortalitatem...".[13]
Em um outro discurso de Cascudo, este feito em homenagem à Luiz Fernandes Manuel Sobrinho quando Cascudo toma posse na Academia Norte Rio Grandense de Letras e escolhe Luiz Fernandes para ser seu patrono, Cascudo aponta que "A procura do heróico anula muita virtude diária e maravilhosa de exemplo e reprodução social."[14]
Para Cascudo os atos maravilhosos dos homens são registros da cultura popular, como o canto do pescador, a forma como se faz a jangada, a comida tradicional das regiões nordestinas e do Brasil. Esta particularidade pode ser identificada como mais uma diferenciação entre Cascudo e Heródoto, pois para o primeiro os fatos memoráveis são os acontecimentos do dia a dia, os fatos cotidianos. Já para Heródoto os acontecimentos heróicos são as disputas, a guerra, ou seja, os acontecimentos mais gerais. Para Cascudo a banalidade da vida cotidiana tem extrema importância pois os heróis são, para ele, pertencentes a duas linhagens: por um lado os grandes homens cuja trajetória pode apresentar-se aos demais como exemplaridade ética e, por outro, aqueles que mantêm viva a cultura popular, e esses são os homens que constroem a tradição que será narrada pelo próprio Cascudo.
Seus objetos de pesquisa são diferentes, mas seu objetivo como pesquisador e estudioso da cultura popular é muito próximo: resgatar o passado e registrá-lo como tradição. A tradição representa muito mais que o passado, representa a origem, entendida não propriamente como o marco inicial, mas como o lugar do encontro entre o particular de uma dada história com o Universal da civilização. Não é sem razão que, para ele, o estudo do folclore possui três fases: colheita, confronto e pesquisa de origem.[15] Trabalhe textos do Cascudo que mostrem isso, e não apenas cite.
Heródoto não se mostra tão preocupado com as origens dos fatos por ele narrados, mas enfatiza a relevância disto ao afirmar por diversas vezes a importância do povo egípcio como primeira civilização do mundo. Ao comparar relatos, Heródoto privilegia os povos mais antigos, aqueles que puderam estar mais perto do fato em si. Em Heródoto os testemunhos possuíam “qualidade”, hierarquia, baseados em quatro critérios: 1) o mais importante é a opinião coletiva, maior. 2) valoriza mais o testemunho de alguém do país que está ou que procura investigar. 3) privilegia o testemunho dos povos gregos, apesar de contar também a história dos bárbaros. 4) os egípcios eram mais dignos de confiança por serem mais antigos. O povo egípcio teria maior credibilidade de testemunho, pois possui “mais passado”, era como se representasse uma ligação com o início do mundo.[16]
Temos desta forma um importante ponto de aproximação entre o método de Câmara Cascudo e o de Heródoto, podendo permitir que o primeiro seja entendido como um historiador que cultiva um fazer histórico com alguns traços daquele que é próprio do historiador clássico. Se a história nos remete à “busca, investigação, pesquisa” então, nas palavras de Mário da Gama Kury,, “o historiador, do ponto de vista etimológico, é uma pessoa que se informa por si mesma da verdade, que viaja, que interroga, em vez de limitar-se a transcrever dados à sua disposição e repetir genealogias, cronologias e lendas, ou compilar registros relativos à fundação de cidades, tudo com o intuito exclusivo de satisfazer a curiosidade ingênua de um público ainda pouco exigente, sem estabelecer a menor distinção entre acontecimentos reais ou relatos imaginários, entre fatos ou peripécias fantásticas.”[17] Ambos são investigadores da origem, ambos procuram a raiz do que investigam, e ambos pensam na tradição que deve ser herdada pelos povos e pelo futuro.

A questão da tradição em Câmara Cascudo tem uma importante contraposição com o progresso, que não está nem poderia estar, por tratar-se de uma questão moderna, em Heródoto. Quando Câmara Cascudo faz uma viagem ao sertão do Rio Grande do Norte, a convite do Interventor Federal Mário Câmara, juntamente com quatro personalidades ligadas à Educação, à Agricultura e à construção de açudes; Anfilóquio Câmara (Diretor Geral do Departamento de Educação), Antônio Soares Júnior (Prefeito de Mossoró), Alcides Franco (Chefe da Segunda seção técnica do Serviço de Plantes Têxteis) e Oscar Guedes (inspetor do mesmo serviço), viagem que foi objeto de estudo de Mirella de Santo Farias[18], também bolsista desse projeto de pesquisa, muitas vezes fica indignado com os hábitos alimentares da região e a degradação da cultura sertaneja. Na Crônica VII “Em Defesa da Cozinha Sertaneja” coloca:

“A cozinha sertaneja está decadente. Menos por sua própria essência do que pelo indesculpável acanhamento em mostrar-se (...) O nosso sertanejo disfarça, esconde, mistifica sua culinária quando tem visitas. Crê ficar desonrado servindo Coalhada com carne-de-sol, costela de carneiro com pirão de leite, paçoca com bananas, milho cozido, feijão verde, o mungunzá que o africano ensinou e a carne moqueada que ele aprendeu com o indígena. (...) Nós devemos ter orgulho de nossa alimentação tradicional, formadora de rijos homens de outrora, vencedores da indiada, lutando com onças a facão e morrendo de velhos.”[19]

Em outra passagem aponta e lamenta também como os hábitos alimentares estão modificados na região do sertão:
“(...) Não vi comer farinha com açúcar, sobremesa típica, nem angu de ovos, prato de crianças em idade escolar, superior ao Toddy ao Quaker Oats”[20]
Câmara Cascudo não nega o progresso. Admite que existem vantagens com os avanços tecnológicos, e que estes avanços podem trazer benefícios para o homem, como o avião, o automóvelBusque base empírica e cite.. Mas quando o progresso rompe com a tradição, como fez com a cozinha sertaneja, a herança da cultura popular está, para ele, comprometida, logo a nossa história também.

A investigação traz um outro ponto de aproximação entre Câmara Cascudo e Heródoto, que seriam as viagens feitas por ambos em sua atividade de investigação. Câmara Cascudo viajou o sertão, fez pesquisas na África sobre a alimentação africana que deu origem aos livros “Made in África” e “História da Alimentação no Brasil”. As viagens eram uma forma de chegar até a fonte, até a origem. Heródoto escreveu Histórias durante sua trajetória pelo oriente do Mediterrâneo, passando pelas ilhas do mar Egeu, a costa da Trácia, a Macedônia, as cidades da Grécia e do Peloponeso, bacia ocidental da Sicília e Magna Grécia que teria sido o limite de seu percurso. Foi a partir de suas passagens por esses lugares que ele pôde recolher dados para sua obra. A investigação presente sobre outros povos só poderia ser feita com uma longa jornada, uma vez que não havia arquivos ou qualquer tipo de documento histórico. O método investigativo desenvolvido por Heródoto foi sem dúvida um dos importantes diferenciais para que ele pudesse, como foi posteriormente, ser considerado o Pai da História. Uma vez que seu trabalho não se limita apenas em citar grandes nomes e narrar as guerras e batalhas que influenciavam a vida pública, principalmente o âmbito político da Antiguidade, temos aí uma referência no fazer histórico que permaneceu para os tempos posteriores, pois a investigação, referência e levantamento de dados constituem o trabalho do historiador.
Provavelmente Câmara Cascudo não seria igualmente capaz de escrever sobre o que vê, como a decadência do que considera a autenticidade do sertão se não tivesse visto com seus próprios olhos. Também não seria capaz de escrever um livro sobre a alimentação africana, e sua influência no Brasil, sem visitar a África, ver como é feita a comida, como se come, o que se come.
As viagens, assim como visitas a certos lugares, dão à Cascudo um importante elemento para sua produção intelectual e sua memória construída, por outros e por ele mesmo. O fato de ir aos lugares e entrar em contato com as pessoas que ele estuda, constrói a convivência com seus objetos de estudo. É esta convivência que faz dele uma testemunha da história, um historiador honesto, uma vez que sua experiência não é apenas teórica mas também empírica. "Cascudo tenta aliar sua bagagem intelectual proveniente de suas vastas leituras, e, desse modo, seu contato, com o que ele mesmo denomina, de a 'Biblioteca', referindo-se à cultura livresca e conformada através do estudo e da erudição letrada, quanto o aspecto da experiência, que ele chama de 'Convivência, do trato cotidiano com o povo simples do sertão como da cidade, que sempre considerou seus informantes privilegiados, adquirida pelo fato de ter nascido na Província e permanecer nela."[21]. Cascudo mesmo afirma isto numa entrevista cedida à Folha de São Paulo em 1979 quando acabara de completar oitenta anos. O repórter pergunta que contribuição acredita Cascudo ter dado ao Brasil. E ele responde:
Eu dei ao Brasil uma bibliografia leal e legítima, porque não foi feita de imaginação e de livros sobre livros, mas do contato direto com o povo. Com a legitimidade do apurado, com a confissão e a contribuição de um pesquisador direto, levando aos quadros brasileiros os elementos fundamentais da sua marcha para o progresso.[22]

Não é difícil vê-lo mencionar pessoas confirmando sua autoridade de testemunha histórica pelo fato de que conheceu tal agente ou fez parte de um certo contexto histórico. Voltando ao seu discurso de posse na Academia Norte Rio Grandense de Letras sobre seu patrono Luis Manuel Fernandes Sobrinho, por diversas vezes fica claro sua intimidade com o homenageado, mostrando que além de conhecê-lo bem é Cascudo que o dá o verdadeiro valor:
"O menos conhecido é o meu patrono. (...)Luís Fernandes reaparecerá, com seu boné de seda, seus olhos parados, seu sorriso triste, contemporâneo a quem o for encontrado, através do tempo."[23].
Essa era uma forma bastante recorrente de Cascudo se referir aos seus homenageados, ou aqueles que achava que deveriam ser lembrados. Voltaremos nesta questão mais a frente, mais gostaria de reafirmar este ponto com outra passagem do discurso de Cascudo mencionando mais uma vez sua familiaridade com seu patrono: "Conheci de perto (...) Em Natal, nunca deixei de passar uma semana sem uma visita, conversada, debatida, obrigada a café, anedota, recordação e planos de trabalhos comuns."[24]

A questão do “ver”, do “olhar” é sem dúvida muito relevante para os dois escritores, ainda que, necessariamente, o olhar de um homem do século XX seja radicalmente distinto daquele de um homem do mundo helênico. Em Heródoto o testemunho ocular é tão significativo como para Câmara Cascudo, que é a “testemunha ocular” de acontecimentos e fatos. Seu papel como tal fortalece sua autoridade ao escrever, da credibilidade a Cascudo, como o estudioso das origens, pois ele olhou e viu, esteve no lugar, falou com o povo da região que estuda, comeu a comida que descreve, dormiu na rede que analisa, e testemunhou as experiências que relata. Em “Tradição, Ciência do Povo” dá início ao o livro com uma epígrafe retirada dos versos de Gonçalves Dias, epígrafe aliás que utilizará em outras ocasiões, como síntese de seu método de pesquisa e expressão daquilo que legitima seu trabalho:
“E à noite nas tabas, se alguém duvidava do que ele contava, tornava prudente: - Meninos, eu vi!”[25]
Uma vez que ele viu, ele pode expressar-se com segurança e autoridade sobre o quiser, não sendo necessário citar fontes precisas, ou documentos que comprovem o que está dizendo. No seu livro “Dois Ensaios de História” defende sua posição em relação ao método de sua pesquisa, respondendo antecipadamente possíveis questionamentos de historiadores que pudessem vir a criticá-lo:

“Nenhuma autoridade de historiador possui o direito de deslumbrar-me com seu prestígio. Minha condição de professor provinciano libertava-me da sugestão hipnótica dos grandes nomes citadinos. A todos conhecia na aquisição silenciosa das leituras serenas e lentas sem a ostentação da notoriedade erudita. Estudava para os meus alunos, para transmitir-lhes o conhecimento claro das pesquisas reveladoras e não dos mestres sucessivos que disputavam o primado das interpretações. (...) Creio no Espírito Santo e não no espírito de alguns ‘santos’ universitários. Amém.”[26]

Hérodoto utiliza um método de trabalho de certa forma convergente com o de Cascudo, baseando sua legitimidade em ser também ele a "testemunha ocular". Segundo François Hartog "...trata-se do olho como marca de enunciação, de um 'eu vi' como intervenção do narrador em sua narrativa para provar algo."[27] Hartog Continua indagando sobre o mesmo tema e lembra que Histor, é, em época muito antiga, a testemunha, "a testemunha enquanto aquele que sabe, mas desde logo, também enquanto aquele que viu”.[28] Em uma passagem do Livro II no capítulo 12, Heródoto nos dá um exemplo de como seu testemunho era importante:
"A respeito do Egito, então, creio, naqueles que falam assim e eu mesmo estou plenamente convencido disso, pois vi que o Egito avança mais pelo mar que os territórios vizinhos..."[29]
Assim como quando Heródoto testemunha um fato ele se transforma na autoridade que pode relatá-lo, o contrário acontece quando ele não viu sobre o que está falando:
"São essas as versões dos persas e dos fenícios. Quanto a mim, não direi a respeito dessas coisas que elas aconteceram de uma maneira ou da outra, mas apontarei a pessoa que, em minha própria opinião, foi a primeira a ofender os helenos, e assim prosseguirei com minha história..."[30]
Por não ter presenciado o que fez desencadear a Guerra de Tróia, Heródoto dá a sua opinião, não confirma, não desmente, apenas escreve o que lhe parece ser o mais certo.
Há também, além do "ver" e do "olhar", o "ouvir". Em “Locuções Tradicionais do Brasil” Cascudo começa o livro anunciando um possível método de pesquisa logo no prefácio:
“Todas as locuções reunidas neste livro foram ouvidas por mim. Nenhuma leitura sugeriu indagação. Vieram para documentá-las no Tempo.”[31]
Temos um outro exemplo do "ouvir" para Cascudo em "Tradição, Ciência do Povo":

"Não me foi possível maior extensão geográfica por que trabalho sozinho. Houve, no entretanto, a vantagem do conhecimento direto em que a reminiscência se defende do Olvido. A maioria do registro não resultou de cousas olhadas para a notação curiosa, espécie de turismo em Wonderland, mas vistas, vividas na adolescência sertaneja e maturidade urbana. (...) Ouviremos a Tradição, Ciência do Povo... ."[32]

Os relatos orais são muito valorizados por Câmara Cascudo. O "ouvi" deve ser apreciado por todos os intelectuais, segundo ele. Em seu livro "Literatura Oral no Brasil" aponta para a importância deste tipo de literatura, que não dispõe de grandes atenções, estudada nem muito menos respeitada. A tradição oral está para Cascudo viva quando se trata de costumes, danças, cantos, contos etc. A literatura oral está, para Cascudo, em oposição à Literatura Oficial, enquanto a primeira é modesta e ignorada e a segunda subordinada a vaidade, busca sempre homenagens.
"A literatura oral é como se não existisse. Ao lado daquele mundo de clássicos, (...) cientes da atenção fixa do auditório, outra literatura, sem nome em sua antigüidade, viva e sonora, alimentada pelas fontes perpétuas da imaginação, colaboradora da criação primitiva com seus gêneros, espécies, finalidade, vibração e movimento, continua rumorosa e eterna, ignorada e teimosa, como rio na solidão e cachoeira no meio do mato."[33] Continua Cascudo sobre a diferença entre as duas: "A literatura que chamamos oficial, pela sua obediência aos ritos modernos ou antigos de escolas (...) expressa uma ação refletida e puramente intelectual. A sua irmã mais velha e popular, age falando, cantando, representando, dançando no meio do povo, nos terreiros das fazendas, nos pátios das igrejas (...)"[34]
A literatura oral é aquela que o povo pratica, por isso Cascudo valoriza sua importância, pois ela fornece ao estudioso a possibilidade de ter acesso aos vestígios de tradições milenares que estão no popular, na prática do cotidiano da cultura popular.

Há uma curiosidade que permite uma aproximação inesperada entre Heródoto e Câmara Cascudo. Heródoto é “Heródoto de Halicarnassos”, algo que era muito comum entre os escritores, poetas, filósofos na antigüidade: assinarem desta forma unindo sua identidade àquela do lugar de seu nascimento. De qualquer maneira este tipo de identificação aponta para algo muito significativo, que seria sua autoridade como uma personalidade da cidade, uma figura importante pertencente àquele e sobretudo àquele lugar. Foi assim que ele entrou na memória dos homens de gerações futuras, pois é desta forma que se auto-denomina no primeiro capítulo do Livro I.
Câmara Cascudo não chega a assinar seus livros como Câmara Cascudo de Natal, mas em diversas cartas assina “Luis Natal”. Em 27 de abril de 1967 escreve à Edson Carneiro e assina a carta “Seu Luis Natal”[35]. É certo que Câmara Cascudo não é reconhecido como “Luis Natal”, mas o gesto de assinar sua correspondência associando seu nome ao de sua cidade demonstra como ele estava enraizado na cidade em que nasceu, e como a cidade muitas vezes se refletia em sua figura pública. Em seu artigo “Um Provinciano Incurável”[36] Cascudo se define a partir de sua identidade provinciana, enfatizando os convites que já recebera para deixar Natal, como por exemplo o feito por Getúlio Vargas para que fosse para o Rio de Janeiro, e depois por Agamenon Magalhães, para se mudar para o Recife. Recusara ambos e permaneceu no Rio Grande do Norte sendo aquele que dá aulas na Universidade Federal, que escreve dezenas de livros, mas que também freqüenta bares, conversa com os pescadores, senta nos bares, e é conhecido por todos, desde os intelectuais, os letrados, como pelos humildes. Cascudo se torna um elemento de autoridade quando trata-se de confirmar algo, ou pesquisar um assunto sobre o Rio Grande do Norte e cultura popular. É como se a palavra final fosse dele. Ele confirma, ele desmente, ele afirma.
Um excelente exemplo disto podemos encontrar no artigo escrito por Carlos Drummond de Andrade “Imagem de Cascudo” no qual ele faz uma análise sobre o papel do Dicionário Brasileiro de Folclore. O artigo começa da seguinte forma:
“- Já consultou o Cascudo? O Cascudo é quem sabe. Me traga aqui o Cascudo. O Cascudo aparece, e decide a parada. Todos o respeitam e vão por ele. Não é propriamente uma pessoa, ou antes, é uma pessoa em dois grossos volumes, em forma de dicionário que convém ter sempre a mão, para quando surgir uma dúvida sobre costumes, festas, artes do nosso povo.”[37]
Existe algo de peculiar nesta passagem, considerando que o “Dicionário de Folclore” é sua obra prima, ou seja, aquela pela qual ele é recordado com mais freqüência. Sem dúvida isto não aconteceu por acaso. Ainda mais se considerarmos a função dos dicionários. Segundo a historiadora Martha Abreu, a confecção de Dicionários, sempre preocupados com a busca das origens de determinados assuntos, no caso o folclore e a cultura popular, revela um enorme esforço de pesquisa.[38] Ser reconhecido como um dicionarista e identificado a seu dicionário, revela mais um elemento que sublinha sua recorrente busca das origens. Ele, personificado no Dicionário do Folclore, acaba se transformando naquele que é o dono de um saber, o dono de uma verdade. Sua autoridade como pesquisador das origens se reflete nesta personificação. Para Drummond, e para muitos, não há diferença entre a pessoa e a obra. Ele é aquele que possui o conhecimento das origens, pois ele não deixa que elas se apaguem.
Heródoto escreve para gerações futuras aprenderem com o passado, para que as ações humanas não sejam esquecidas. Cascudo busca as origens para que o progresso não deteriore por completo as tradições. Ele é capaz de fazer isto pois acredita ser dos poucos que enxergam a necessidade de fazer tal esforço. Cascudo faz o desencantamento do passado, desadormece seu estado encantado, acordando-o para o presente. O que Heródoto escreve se tornará tradição. Já Cascudo escreve a tradição, e, ao fazê-lo, pretende mantê-la viva.
É justamente por isso que o esquecimento é para Cascudo algo extremamente significativo. Parece que sua árdua tentativa de fazer permanecer tantos nomes para a posteridade resulta de seu próprio medo de ser esquecido. No "Livro da Velhas Figuras", uma publicação do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, reunindo diversas crônicas da Acta Diurna, podemos ver o esforço e o desespero de Cascudo ao imaginar que aquelas pessoas que ele considera memoráveis, ilustres, heróicas, possam ficar esquecidas no passado. Caso alguém – o historiador – as faça permanecer vivas pela rememoração, será possível afirmas, como o faz Câmara Cascudo que “a morte existe, os mortos não”.
Na sua crônica sobre Auta de Souza Cascudo escreve:
"Os mortos estão realmente vivos porque para eles não existe o tempo. Nós somos contigentes e efêmeras referências, sinais de passagem que uma breve aragem apaga. Quanto mais o homem atira para o alto, mais a sua vida é breve, fugitiva e rápida. Auta de Souza pode esperar que o Brasil faça justiça a uma de suas mais soberbas, originais e poderosas vitalidades poéticas."[39].
Cascudo é portanto aquele que registra a lembrança de Auta de Souza e de tantos outros, fazendo assim que seu nome não se apague do livro dos vivos, o que assume particular importância uma vez que a história e os historiadores não fizeram, a seu juízo, justiça a esses homens e mulheres, uma vez que deles não se ocupam em seus escritos.
A História é portanto, para o escritor natalense, um instrumento para que seja conservada a memória de fatos e de pessoas que o próprio Cascudo selecionará para o panteão da posteridade, ou seja, será o trabalho de historiadores que partilhem de sua concepção de história que definirá quem deve ser lembrado e ficar na lembrança das gerações futuras. Mais uma vez citando "A Função dos Arquivos":
"História é o registro dos fatos memoráveis... Dos fatos memoráveis apenas. Um fato memorável como pode ser fixado? Naturalmente pelo consenso dos homens que o motivaram. Mesmo negando a imortalidade divina amaríamos emprestar os halos da perpetuidade aos nossos atos. Decretamos a vitaliciedade da admiração futura aos mesmos assuntos que admiramos agora. Escolhemos um homem, uma doutrina, um livro, um poema, uma estátua, um vício, uma idiossincrasia e declaramos sua inarredável eternidade no tempo. Falemos como outrora nas páginas da História..."[40] .
Esta memória irá fazer a tradição permanecer intacta para outras gerações, pois
"História é memória no Tempo. Estabelece a continuidade do esforço humano, articulando-nos aos trabalhos que justificam nossa presença. Sem ela, seriamos uma horda bravia. Ai de nós! Nenhuma horda, por menor e mais bárbara que seja, ontem, hoje e amanhã, deixou e deixa de possuir sua História, a sua recordação, o seu orgulho,. Na solidão do deserto (...) estão esses homens, ouvindo a voz de um velho, de um poeta, a se projetar-se, existir, além da Morte."[41]



Bibliografia:
ABREU, Martha. “Câmara Cascudo para historiadores” IN Sesmaria – (Revista do NEHPS). Rio de Janeiro, ano 1, #1, 2001.
CASCUDO, Luis da Câmara "A Função dos Arquivos". Separata da Revista do Arquivo Público, ano 7a 10, n. 9-12, Recife, Arquivo Público, 1952-1956.

_______________________. Dicionário do Folclore Brasileiro. São Paulo, 1988.

_______________________. Dois Ensaios de História. Natal, Imprensa Universitária do Rio Grande do Norte, 1965.
_______________________. História do Rio Grande do Norte. Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Cultura, 1955.
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______________________ .O Livro das Velhas Figuras. vol 03. Natal, IHGRN, 2001.
_______________________. Locuções Tradicionais no Brasil. Rio de Janeiro, Funarte, 3a ed., 1997.
_______________________. Tradição, Ciência do Povo. São Paulo, Ed. Perspectiva, 1971.
_______________________. Viajando o Sertão. Natal, Fundação José Augusto – CERN, 3a ed, 1984.
FARIAS, Mirella de Santo. Memórias de um Menino Sertanejo. O Sertão de Luis da Câmara Cascudo (dissertação de bacharelado). PUC-RJ, 2001.
FERNANDES, Luiz. A Imprensa Periódica no Rio Grande do Norte de 1832 a 1908. Natal, Fundação José Augusto, Sebo Vermelho,2a edição 1998.
HARTOG, François. O Espelho de Heródoto: ensaio sobre a representação do outro. Belo Horizonte, Ed. UFMG, 1999.
HERÓDOTO. História. Introdução e Tradução de Mário da Gama Kury. Brasília, Ed. UNB, 2aed, 1988.
NEVES, Margarida de Souza. "Artes e Ofícios de um Provinciano Incurável." IN: Projeto História. Nº 24 “Artes da História e outras linguagens. São Paulo: PUC-SP/Programa de Pós Graduação em História. 2002. pp. 65 a 86.
PESCHANKY, Catherine Darbo. O Discurso do Particular. Ensaio sobre a investigação de Heródoto. Brasília, UNB, 1998.
REVEL, Jacques. "A Beleza do Morto" IN A Invenção da Sociedade. Difusão Editorial, Lisboa.


[1] CASCUDO, Luis da Câmara. História da Alimentação. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1967.
[2] CASCUDO, Luis da Câmara. Jangada: Uma pesquisa etnográfica. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1957.
[3] CASCUDO, Luis da Câmara. Rede de dormir: Uma pesquisa etnográfica. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1959.
[4] NEVES, Margarida de Souza. "Artes e Ofícios de um 'Provinciano Incurável' ." IN: Projeto História. Nº 24 “Artes da História e outras linguagens. São Paulo: PUC-SP/Programa de Pós Graduação em História. 2002. pp. 65 a 86.
[5] A crônica Acta Diurna escrita por Câmara Cascudo teve cinqüenta anos de publicação diária no jornal A República.
[6] Entrevista retirada dos arquivos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro realizada em Janeiro de 1979 pelo Jornal Folha de São Paulo em Natal no Rio Grande do Norte.
[7] HERODOTO. HISTÓRIA. Intr. E trad. de Mario da Gama Kury. Brasília, Ed. Universidade de Brasília, 1988. P. 20.
[8] Idem, P 19.
[9] CASCUDO, Luis da Câmara. História do Rio Grande do Norte. Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Cultura, 1955.
[10] Idem,
[11] Idem, ibidem
[12] CASCUDO, Luis da Câmara. "A Função dos Arquivos". Separata da Revista do Arquivo Público, ano 7a 10, n 9-12. Recife, Arquivo Público, 1952-1956.
[13]Idem, ibidem.
[14] FERNANDES, Luiz. A Imprensa Periódica do Rio Grande do Norte de 1832 a 1908. P.147.
[15] CASCUDO, Luis da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. São Paulo, 1988. Pp XXIII.
[16] PESCHANKY, Catherine Darbo. O Discurso do Particular. Ensaio sobre a investigação de Heródoto. Brasília, UNB, 1998.
[17] HERODOTO. HISTÓRIA. Introdução. e tradução. de Mario da Gama Kury. Brasília, Ed. Universidade de Brasília, 1988. P 9.
[18] Faço referência à dissertação de bacharelado de Mirella de Santo Farias cujo trabalho faz parte desta pesquisa e foi utilizado e citado por mim neste relatório.
[19] CASCUDO, Luis da Câmara. Viajando o Sertão. Natal, Fundação José Augusto - CERN, 3a ed, 1984. Pp 27
[20] idem, P 28.
[21] FARIAS, Mirella de Santo. Memórias de um Menino Sertanejo. O Sertão de Luis da Câmara Cascudo. (dissertação de bacharelado). PUC-RJ, 2001.
[22] Entrevista retirada dos arquivos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro realizada em Janeiro de 1979 pelo Jornal Folha de São Paulo em Natal no Rio Grande do Norte.
[23] FERNANDES, Luiz. A Imprensa Periódica do Rio Grande do Norte de 1832 a 1908. Natal, Fundação José Augusto, Sebo Vermelho, 2a edição, 1998. P.155
[24] Idem, Pp 150, 151
[25] CASCUDO, Luis da Câmara. Tradição, Ciência do Povo. São Paulo, Ed. Perspectiva, 1971.
[26] CASCUDO, Luis da Câmara. Dois Ensaios de História. Natal, Imprensa Universitária do Rio Grande do Norte, 1965.
[27] HARTOG, François. O Espelho de Heródoto: ensaio sobre a representação do outro. Belo Horizonte, Ed.UFMG,1999. Pp 273.
[28] idem, P. 274.
[29] HERODOTO. HISTÓRIA. Intr. E trad. de Mario da Gama Kury. Brasília, Ed. Universidade de Brasília, 1988. Pp. 92
[30] HERODOTO. HISTÓRIA. Intr. E trad. de Mario da Gama Kury. Brasília, Ed. Universidade de Brasília, 1988. Pp. 20.
[31] CASCUDO, Luis da Câmara. Locuções Tradicionais no Brasil. Rio de Janeiro, 3a ed, Funarte, 1997.
[32] CASCUDO, Luis da Câmara. Tradição, Ciência do Povo. São Paulo, Ed. Perspectiva, 1971.
[33] CASCUDO, Luis da Câmara. Literatura Oral no Brasil. Belo Horizonte, Ed. Itatiaia, São Paulo, Ed. da Universidade de São Paulo, 3a ed., 1984. Pp.27.
[34] idem, Pp. 27.
[35] Correspondência de Luis da Câmara Cascudo de 1951-81 situadas na Biblioteca Amadeu Amaral do Museu do folclore do Rio de Janeiro.
[36] Revista Província 2: Natal, UFRN/FJA/IHGRN,1998. Pp 5-6
[37] Idem, Pp 15-16
[38] ABREU, Martha. “Câmara Cascudo para historiadores” IN Sesmaria - (Revista do NEHPS). Rio de Janeiro, ano 1, n0 1, 2001. Pp 10.
[39] CASCUDO, Luis da Câmara. O Livro das Velhas Figuras. vol 03, Natal, Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte , 2001.
[40] CASCUDO, Luis da Câmara. "A Função dos Arquivos". Separata da Revista do Arquivo Público, ano 7a10, n 9-12. Recife, Arquivo Público, 1952-1956.
[41] FERNANDES, Luiz. A Imprensa Periódica do Rio Grande do Norte de 1832 a 1908. Natal, Fundação José Augusto, Sebo Vermelho, 2a edição, 1998 Pp. 156, 157.

 



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