Sertão Verde:
as cores do Integralismo no Rio Grande do Norte

Isabel Tebyriçá Ramos 

Introdução
Capítulo 1: Anos 30: Escolhas e Caminhos 
Capítulo 2: Amigos de Biblioteca 
Capítulo 3: Despertar a Nação 
Capítulo 4: Informar e Comentar
BIBLIOGRAFIA E DOCUMENTAÇÃO

 

Introdução

O presente trabalho visa a aprofundar a relação do intelectual norte-riograndense Luis da Câmara Cascudo com o Integralismo. 

Juntamente com a professora Margarida de Souza Neves[i] e um grupo de pesquisadoras do Departamento de História da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, venho pesquisando o sentido da História para este autor, que é reconhecido por muitos, inclusive dentro do Movimento Integralista, como historiador.  Pretendo mostrar como Cascudo fez parte da equipe de intelectuais que se aproximaram do movimento por se sentirem identificados com seus princípios, mas também porque o Integralismo sublinhava a função pedagógica que cabia aos intelectuais que dele participavam.

Para cumprir os objetivos propostos nessa monografia, é importante analisar o momento político do Brasil nos anos 30, no qual os intelectuais tiveram papel fundamental.  Interessa pesquisar o papel exercido por Câmara Cascudo dentro do Movimento Integralista, pois considero relevante uma análise mais profunda da relação desse singular escritor brasileiro com a AIB (Ação Integralista Brasileira) , seja para enriquecer os estudos sobre a mesma seja para ampliar o campo de pesquisa sobre o multifacetado autor norte-riograndense. 

A Ação Integralista Brasileira foi um movimento filo-fascista fundado em 8 de Outubro de 1932 por intelectuais do Rio de Janeiro e de São Paulo liderados por Plínio Salgado.  Tratava-se um movimento baseado em preceitos morais e religiosos como seu próprio lema "Deus, Pátria e Família" deixa entrever.  O nacionalismo era de extrema importância para os integralistas, embora estivesse mais referido, para os membros da AIB, a seu aspecto cultural e político do que econômico.  Não visava à tomada imediata do poder e sim uma ação lenta e duradoura de reeducação do povo brasileiro para que seu espírito adormecido fosse despertado e o Brasil pudesse exercer a posição de destaque no cenário internacional a que acreditavam estar o país destinado e pela qual esse mesmo espírito seria o principal responsável.  Após uma frustrada tentativa de golpe em 1938, a AIB foi extinta por Getúlio Vargas e seu líder, Plínio Salgado, exilado. 

Este estudo concorda com as afirmações de Marcos Chor Maio e Roney Cytrynowicz a respeito da reduzida produção historiográfica sobre o assunto, principalmente quando comparado "à vasta bibliografia sobre partidos e movimentos de esquerda, e mais ainda se analisada no contexto da produção sobre o primeiro período Vargas e o Estado Novo"[ii].  Embora tenha progredido bastante desde aquele que pode ser considerado marco inicial dos estudos sobre a Ação Integralista Brasileira, o abrangente trabalho de Hélgio Trindade[iii], acredito que as ciências sociais ainda devem uma maior atenção àquele que Daniel Pécaut[iv] considera o maior surto fascista observado na América Latina no conturbado momento da década de 30. 

Chor e Cytrynowicz classificam a historiografia a respeito do integralismo em quatro vertentes principais: a primeira, encontrada no já citado livro de Hélgio Trindade, procura esmiuçar o caráter essencialmente brasileiro do movimento tendo como parâmetro sua vinculação ideológica com a definição clássica do que é o fascismo europeu.  A segunda vertente estaria presente nos estudos de José Chasin e Antonio Rago[v] e teria como premissa básica a negação deste mesmo vínculo entre o integralismo e o fascismo, ao responsabilizar a instauração tardia do capitalismo no Brasil pelo surgimento de movimentos de extrema-direita como a AIB.  Já Gilberto Vasconcellos, em seu trabalho intitulado Ideologia curupira: análise do discurso integralista[vi], corporifica a terceira vertente que, se por um lado não nega a associação das idéias fascistas ao arcabouço teórico integralista, também atenta para a relação entre o capitalismo retardatário e os preceitos dos seguidores de Plínio Salgado.  A quarta e última corrente proposta pelos autores citados é a que se concentra numa detalhada análise da ideologia de Plínio Salgado e visa estabelecer a estreita correlação entre o integralismo e o totalitarismo.  Sua principal expressão seria encontrada no trabalho de Ricardo Benzaquem de Araújo, tanto em seu artigo para o nº 21 da Revista de Ciência Política[vii] em 1978 quanto, e principalmente, em seu livro Totalitarismo e revolução. O integralismo de Plínio Salgado[viii]

A presente monografia concorda com a obra de Hélgio Trindade, distanciando-se, portanto, dos trabalhos já citados de José Chasin e Antonio Rago.  Ela procura combinar os argumentos propostos tanto por Gilberto Vasconcellos quanto por Ricardo Benzaquem de Araújo, embora seu principal objeto de estudo não seja a discussão sobre a ideologia integralista e sim uma pesquisa a respeito de Luis da Câmara Cascudo, intelectual fundamental por seus trabalhos sobre o folclore brasileiro e sobre nossa cultura popular. 

Nesse sentido, o trabalho se insere no que talvez pudesse ser considerado como uma quinta vertente no vasto campo de pesquisa documental ainda a ser explorado no âmbito da temática da Ação Integralista Brasileira, e que também é proposto por Chor e Cytrynowicz em seu artigo.  Na nota de número 2, os autores afirmam haver muitos temas e questões a respeito do integralismo ainda não estudados, sugerindo 

"recortes estaduais, como o estudo de João Ricardo de Castro Caldeira sobre o Maranhão; monografias sobre a atuação da AIB nos municípios em que se elegeu; estudos sobre autores secundários da AIB; integralismo e mulheres; e muitos outros."[ix].

  Seria um trabalho a respeito de um autor secundário da AIB mas que é, também, um autor essencial para pesquisas a respeito da cultura brasileira.

Geralmente lembrado como um grande folclorista, Câmara Cascudo é apreciado tanto pela direita como pela esquerda, o que torna interessante uma análise a respeito de seu conservadorismo e a manifestação pública do mesmo através da associação ao integralismo.  O estudo visa enriquecer as pesquisas a respeito de Câmara Cascudo.  Não se trata, naturalmente, de denegrir a imagem do autor e sim de demonstrar que o momento vivido demandava posições definidas, sendo a opção pela direita, representada, sobretudo, pela AIB, uma das possibilidades que se apresentava aos intelectuais de então. 

Após sua breve ligação com a AIB, Cascudo jamais manifestou publicamente qualquer opinião política, mas sua obra deixa bastante claros os elementos conservadores que norteavam seu pensamento.  Gostaria de trazer à tona o momento em que Cascudo explicitou na arena pública sua ideologia por acreditar ter encontrado um movimento capaz de canalizar suas convicções.

O conservadorismo de Cascudo pode ser observado através de pequenos indícios[x] que, geralmente, passam desapercebidos na trajetória do autor.  O primeiro a chamar a minha atenção foi o fato de sua produção literária durante os anos mais duros do governo militar no Brasil ficar restrita a livros de memorialística, nos quais relata vários aspectos de sua vida sem fazer qualquer menção ao momento pelo qual o país passava.  Nenhuma palavra sobre os direitos de liberdade do povo e da cultura do país que estava sendo barbaramente atacada pela censura e pela repressão[xi].  Cascudo manifesta assim o que  Paulo Mercadante[xii] afirma ser característico do pensamento conservador brasileiro, uma tranqüila aceitação da realidade existente como se fosse a exata ordem das coisas e do mundo e uma conseqüente negação do conflito. 

Outro indício revelador é a relação com o tempo que, como autor, expressa em sua vasta obra.  Cascudo valoriza o passado e as tradições.  Para ele o presente ofusca, não deixa ver.  Assim ele, de forma análoga aos historiadores clássicos, busca no passado a exemplaridade para regular as ações no presente[xiii].  Aqui aparece um elemento inegavelmente conservador: quem vai buscar no passado o que deve ser usado no presente é ele.  E se é verdade que ocupou boa parte de seu esforço intelectual e de sua obra com estudos sobre a cultura popular, também é certo que, para ele, o povo não está apto a buscar seus próprios exemplos, ele é visto  como muito ingênuo e necessita de alguém como Cascudo para guiá-lo[xiv].  Essa função vicária de Cascudo pode ser observada através de uma análise mais detalhada de sua obra.  A relação que estabelece com o povo e o papel que reserva para si mesmo de detentor do saber ainda a ser desvelado é condizente com a posição assumida pelos intelectuais de sua geração e com postura ideológica análoga à sua.  Justamente por possuírem uma sabedoria reservada a poucos é que Cascudo e seus contemporâneos puderam reivindicar sem contestações uma maior participação na elaboração do novo projeto de nação, numa interessante aliança entre Estado e intelectuais[xv].

Para atingir os objetivos de análise propostos,  procurarei traçar um panorama da conjuntura mundial da década de 30, que permita compreender a escolha política de Cascudo.  Nunca mais, ao longo de sua longa trajetória, o autor potiguar declararia publicamente um posicionamento político definido.  Daí a necessidade de um maior esclarecimento acerca da sociedade brasileira na década de 30, na que todos aqueles que desejavam participar dos debates político-ideológicos deveriam ter sua posição definida e as posições extremadas de direita ou de esquerda permitiam o alinhamento dos intelectuais em trincheiras simétricas e opostas. 

Os intelectuais tomaram para si a responsabilidade da elaboração de um novo projeto de Brasil que deveria ser posto em prática após a Revolução de 30.  Sendo assim, Cascudo engajou-se na Ação Integralista Brasileira, um movimento político que privilegiava o aspecto cultural, e que ressaltava a necessidade de "despertar a nação".  Seguindo os preceitos da ideologia de Plínio Salgado, para o surgimento efetivo de um novo Brasil, forte e consciente de sua singularidade era necessário que os próprios cidadãos do país estivessem conscientes de sua brasilidade.  Assim, as tradições deveriam ser preservadas e a influência estrangeira deveria ser combatida.  Era um retorno a um mítico país original, sem os vícios da antiga intelectualidade com os olhos voltados para a Europa.  É nesse aspecto que o mote cultural da Ação Integralista Brasileira se identifica com aquilo que, então e por toda sua vida, presidiu a obra de Câmara Cascudo.

O estudo da ligação de Luis da Câmara Cascudo com a Ação Integralista Brasileira complementa os estudos sobre o autor.  Este aspecto de sua trajetória ainda não foi devidamente analisado, em parte porque pesa sobre sua adesão ao integralismo um certo desejo de esquecimento.  O presente trabalho pretende contribuir para o debate a respeito deste aspecto menos conhecido do autor potiguar. 

Considero que seu envolvimento com a AIB, mesmo que pontual, revela elementos que têm profunda relação com sua obra, não só o que foi produzido na época, mas também com tudo o que foi produzido posteriormente, em particular com sua aproximação ao tema da tradição, ao lugar do popular na cultura, à história e à noção de temporalidade.  É interessante notar que Cascudo segue um padrão que se repete na trajetória de diversos intelectuais brasileiros que, após a extinção da AIB e da redemocratização do país continuaram gozando de prestígio, embora tenham apoiado um movimento de matriz fascista, que visava à hipertrofia da centralização do poder além de classificar o povo como incapaz de fazer suas próprias escolhas.  Gustavo Barroso permaneceu no cargo de presidente do Museu Histórico Nacional, Miguel Reale tornou-se um dos nomes mais respeitados do país no meio jurídico e Cascudo continuou produzindo seus livros em Natal até ser monumentalizado como o autor do Dicionário do Folclore Brasileiro[xvi], publicado pela primeira vez em 1954.

            Friso novamente que seu vínculo com o integralismo não deve ser visto como um demérito à sua trajetória, porém também não deve ser ignorado.  Num país onde os intelectuais e a política sempre estiveram tão intimamente ligados, o pertencimento a qualquer organização política deve ser levado em consideração se quisermos compreender melhor a obra de um autor e sua contribuição para a cultura nacional. 

Ao longo da pesquisa tenho procurado entender de que maneira a ideologia integralista interage com o conteúdo, a forma e o sentido da obra de Cascudo.  O silêncio a respeito de sua única manifestação pública de um posicionamento político é bastante revelador, pois não se trata apenas de um possível desconforto com sua ligação com o integralismo.  Câmara Cascudo foi, sobretudo, um intelectual e foi nessa qualidade que ele se envolveu com a AIB, uma vez que privilegiava o aspecto cultural do Movimento, e parecia deixar as implicações políticas do movimento em segundo plano.  Mesmo quando ocupava o expressivo cargo político de Chefe Provincial do Integralismo no Rio Grande do Norte, ainda se considerava, como se consideraria por toda a vida, como um intelectual avesso à política e imune ao canto da sereia das funções de estado.

Nem mesmo quando Getúlio Vargas convidou para o senado, Cascudo deixou o Rio Grande do Norte.  Recusou o cargo, embora agradecido e lisonjeado com a lembrança.  Porém, nas palavras do próprio: 

"Alguém deveria ficar estudando o material economicamente inútil. Poder informar dos fatos distantes ba hora sugestiva da necessidade. 

Fiquei com esta missão."[xvii].

A aludida missão era a dedicação à  sua extensa obra como folclorista, cronista, professor, poeta bissexto, historiador, etnógrafo, jornalista, advogado, crítico literário, memorialista, musicólogo e outras tantas ocupações encontradas por Cascudo para preencher sua longa existência, produtiva até sua morte aos 86 anos,. 

            Nessa tentativa de mapear sua controvertida relação com o Movimento Integralista, o trabalho foi organizado em três capítulos. 

No primeiro capítulo pretendo reconstruir a atmosfera de efervescência política mundial dos anos 30.  O objetivo é analisar a ascensão dos movimentos fascistas na Europa, a crescente polarização do mundo entre comunistas e capitalistas e focalizar o Brasil e sua própria efervescência política e cultural do final dos anos 20 e início dos anos 30.  Dessa maneira pretendo tentar compreender como Cascudo foi levado a manifestar-se politicamente e porque ele se identificou com o Movimento Integralista.

Em seguida, no segundo capítulo, procurarei trabalhar com o acervo pessoal do autor que tive oportunidade de visitar durante um essencial estágio de pesquisa em Natal[xviii] no mês de Janeiro de 2002 e, através da análise das dedicatórias encontradas nos livros de sua biblioteca pessoal, hoje conservada no Memorial Câmara Cascudo, tentar estabelecer seus vínculos com outros intelectuais integralistas.  Gostaria de focalizar também neste capítulo o livro Viajando o sertão escrito por Cascudo em 1934, quando acompanhou o interventor federal Mario Câmara em uma viagem ao interior do Rio Grande do Norte[xix].  A análise deste livro é interessante, pois Cascudo ocupava o cargo de Chefe Provincial do Integralismo na época em que foi escrito e o livro é, até hoje, o vestígio mais conhecido e a manifestação mais explícita de sua ligação com o movimento integralista. 

No terceiro capítulo, analiso as crônicas publicadas por Cascudo no jornal integralista A Offensiva.  Esse material ainda não foi trabalhado pelos que se dedicaram ao estudo de Câmara Cascudo e, no entanto, é o que há de mais representativo de sua relação com o movimento.  É importante a elaboração de uma breve etnografia do jornal para que as crônicas que Cascudo nele escrevia possam ser melhor compreendidas e consideradas como os escritos mais reveladores da posição de Cascudo dentro do movimento.

CAPÍTULO 1 - Anos 30: escolhas e caminhos

A conjuntura mundial após a Primeira Grande Guerra evidenciava uma crise do liberalismo.  A vitória dos revolucionários russos de outubro de 1917 deixava transparecer que talvez uma nova alternativa fosse possível.  No entanto, nem todos concordavam com o ideário estabelecido por Karl Marx e Joseph Engels e posto em prática por Lenin.  Parecia haver somente uma certeza: o capitalismo liberal não estava cumprindo o seu papel. 

O imperialismo feroz das potências mundiais relegava muitas outras nações a um papel meramente secundário, que destinava povos inteiros ao papel de produtores de matéria-prima e consumidores de produtos manufaturados, submetendo regiões vastíssimas aos interesses das potências hegemônicas, portanto, afastando-se cada vez mais dos ideais liberais da igualdade e da liberdade.  Nesse contexto, muitas idéias fervilhavam, e a noção de soberania nacional passava a exercer um papel fundamental.

Independentemente do posicionamento político, fosse de direita ou de esquerda, a defesa dos interesses nacionais sobrepujava todas as demais questões no debate intelectual.  O nacionalismo estava em alta. 

Os comunistas, por mais que tivessem aspirações patrióticas, não podiam fugir ao pressuposto internacionalista da doutrina que postulavam e às implicações de um aparato ideológico proveniente do modelo russo e nele calcado. 

Nesse ambiente conturbado floresceu a ideologia fascista, que, entre outras coisas, permitiu que o patriotismo se expandisse indiscriminadamente.  Países-símbolo do fascismo foram Itália e Alemanha, no entanto a divulgação desse pensamento ultrapassava fronteiras nacionais e o jornal integralista A Offensiva, publicado no Rio de Janeiro, afirmava, em 9 de agosto de 1934, que Bulgária, Turquia, Portugal, Polônia, Estônia, Lituânia e Finlândia também possuíram governos fascistas.  Diversas organizações de inspiração fascista podiam ser identificadas, ainda segundo A Offensiva, como protagonistas do debate político travado nos anos 30 na Inglaterra, na  França, nos EUA, na Holanda, na Romênia, no México, no Peru, na Espanha, na Bélgica e inclusive na China[xx]

A ideologia fascista utilizava-se consideravelmente desta presença em diversos países e do clima reinante no panorama internacional para respaldar suas teorias e salientar seu papel fundamental na recuperação do mundo liberal que via como decadente. 

É importante assinalar, porém, que embora o caráter "universal" das propostas fascistas fosse constantemente lembrado, não havia uma organização fascista mundial.  Cada uma das organizações originadas do movimento fascista priorizava as singularidades e a soberania de seu país de origem, uma vez que se tratava de uma ideologia primordialmente nacionalista.

Abaixo da linha do Equador, nessa imensidão chamada Brasil, a questão da nacionalidade era discutida desde a invenção do Brasil no século XIX e ganhara novo alento com a República.  Em 1902, com a publicação da obra maior de Euclides da Cunha[xxi], essa discussão ganhará novos contornos.  Segundo Hélgio Trindade, 

"o impacto da publicação de "Os sertões" provocou a conscientização da nossa elite intelectual europeizada.  O período do após-guerra marcaria o desencadeamento de uma crescente consciência nacionalista"[xxii]

Hélgio Trindade destaca também o significado do ano de 1922, quando ocorreram quatro acontecimentos de forte conotação simbólica "que continham em embrião, a mutação da sociedade brasileira entre as duas guerras mundiais"[xxiii].  Em primeiro lugar a Semana de Arte Moderna que trouxe uma revolução estética, na qual a busca do autenticamente brasileiro e a definição do caráter nacional eram extremamente valorizadas.  Em seguida, com a fundação do Partido Comunista Brasileiro, surgia uma nova organização política da classe operária que, ao contrário do que sucedera com o movimento anarquista, reconhecia a arena política formal e assumia a forma de um partido político como meio para reivindicar um maior protagonismo nas decisões sobre os destinos do país. 

Na outra ponta do espectro ideológico, a renovação dos grupos ligados ao catolicismo do país ficou por conta da criação do Centro Dom Vital, para onde convergiam os expoentes da nova intelectualidade católica que veiculavam suas opiniões e posicionamentos políticos através da revista A Ordem.  Por fim, anunciando a revolução política pela qual o Brasil passaria em breve, deu-se a rebelião da jovem oficialidade do Forte de Copacabana, que passará para a história como o episódio dos 18 do Forte e marcará simbolicamente o início dos movimentos ligados aos tenentes .

Como se vê, o momento era de agitação em muitas instâncias da sociedade, o que resultava numa crescente polarização das tendências políticas e expressava as fissuras no ordenamento construído pela Primeira República e que pressupunha o equilíbrio instável mas necessário entre os dois cenários da República: a Capital Federal, desde os primeiros anos do século XX remodelada segundo os padrões sanitaristas e cientificistas que encarnavam os ideais do progresso e travestida de Paris no cenário da Avenida Central e os Estados da federação, onde a ordem republicana lançava seus alicerces mais profundos no coronelismo, na fraude eleitoral e na lógica do favor [xxiv].  O próprio Modernismo, ainda que pretendesse romper com esse contexto, só pode ser entendido a partir dele, pois foi inicialmente uma "manifestação estética que se transformou em político-ideológica"[xxv], daí o fato de ter sido um movimento tão heterogêneo, do qual fizeram parte figuras muito diferentes entre si como Mario de Andrade, Manuel Bandeira, Plínio Salgado e até um jovem intelectual do Rio Grande do Norte, Luis da Câmara Cascudo.

Câmara Cascudo, na época beirando os trinta anos, ainda não havia se tornado "uma pessoa em dois grossos volumes, em forma de dicionário que convém ter sempre à mão, para quando surgir uma dúvida sobre costumes, festas, artes do nosso povo"[xxvi]

como o definiria mais tarde Carlos Drummond de Andrade, referindo-se à obra que monumentalizou o escritor potiguar, o Dicionário do Folclore Brasileiro.  Não obstante, estava longe de ser um ilustre desconhecido no meio intelectual do país e principalmente em sua cidade de origem, Natal. 

Sua participação no movimento não foi tão ampla ou tão significativa quanto a de seu amigo Mário de Andrade, com quem manteve assídua correspondência entre 1928 e 1944[xxvii], mas o simples fato de Cascudo marcar presença na agitação cultural promovida pelos modernistas já demonstra sua identificação com as preocupações e pensamentos dos outros intelectuais da época. 

Usando as palavras de Jean Paul Sartre: "O intelectual é alguém que se intromete no que não lhe diz respeito"[xxviii], Daniel Pécaut inicia seu trabalho a respeito da relação entre intelectuais e política no Brasil.  Não seria difícil imaginar que Câmara Cascudo e seus contemporâneos não concordariam com a epígrafe escolhida pelo estudioso francês.  Para eles o intelectual poderia intrometer-se em qualquer assunto que desejasse, pois não haveria nada que ficasse fora de sua alçada, uma vez que se pretendiam a vanguarda da nação e os intérpretes da cultura do país.  É justamente essa a marca de identidade específica e a fonte do poder proveniente de ser um intelectual no Brasil na década de 20 do século passado, momento vivido e percebido como de definição da identidade nacional.

O momento urgia que a realidade do país fosse repensada, e como pudemos observar no emblemático ano de 1922, havia brasileiros de diversas tendências empenhados em fazê-lo.  No entanto, para além da idéia de forjar uma nova nação, havia algo mais que unia esses brasileiros:  eram todos intelectuais e provinham das elites dirigentes do país.

Embora para os dias de hoje possa soar estranho que elementos provenientes das elites sejam os responsáveis por mudanças radicais na sociedade e na interpretação da cultura do país, nos anos 30 isso não era visto com estranhamento.  Aliás, o fato de os intelectuais serem egressos dessas elites era até percebido como um argumento favorável, pois dessa maneira podiam agir com mais liberdade, uma vez que circulavam com desenvoltura pelos salões da elite e, quando conveniente, podiam arvorar-se o título de intérpretes qualificados do povo. 

O conhecimento, o domínio da norma culta, a preparação específica e a sintonia com os movimentos da vanguarda cultural européia  eram os diferenciais que os intelectuais possuíam para liderarem a reflexão a respeito do país, de sua cultura, e de sua identidade.  Assim, após a Revolução de 30 e mais ainda, posteriormente, com o Estado Novo, os intelectuais assumiriam um papel fundamental na elaboração tanto de um novo arcabouço político para o estado como de um sentido para a memória e o projeto de um novo país.  Helena Bomeny, pesquisadora dedicada ao estudo desse período e, em especial, da vida intelectual no Estado Novo, traduz bem os impasses e desafios desse momento cultural em seu livro Constelação Capanema: intelectuais e políticas, ao afirmar:

"A montagem de um Estado nacional com vistas ao estabelecimento de políticas de proteção para esferas importantes da vida social " educação, saúde, cultura, artes e arquitetura, patrimônio, administração e etc.- justificou a demanda de especialistas, envolveu intelectuais de várias áreas do saber, e deu chance a homens ilustrados propositivos."[xxix]

Câmara Cascudo, ao contrário de Mário de Andrade que assumiu a Secretaria de Cultura de São Paulo e atuou no Governo Federal no gabinete de Capanema,não participou ativamente de nenhum órgão público ou função de governo, mantendo-se sempre, como afirmado anteriormente, em sua cidade natal.  Foi de lá, e atuando apenas como professor e escritor que construiu sua imagem de intelectual e sua obra que tanto colaborou para o movimento modernista na década de 20 quanto, desde então e até sua morte, contribuiu para os estudos do folclore brasileiro e da cultura popular, alimentando assim uma das vertentes de análise que contribuíram para a construção de uma identidade nacional. 

Cascudo manteve-se distante do protagonismo político, contrariando assim o que parece ser o destino manifesto de boa parte dos intelectuais brasileiros.  Seu distanciamento de uma participação mais direta nas estruturas e funções de um Estado sempre tão ávido pelo envolvimento de especialistas, prática que, aliás, não fica restrita a forma de relacionamento entre a esfera pública e os intelectuais no Brasil, mas é comum em toda a América Latina[xxx], demonstra mais uma vez o intelectual singular que foi Luis da Câmara Cascudo e, acima de tudo, torna ainda mais interessante um estudo a respeito de sua única manifestação política na arena pública: sua adesão ao Movimento Integralista e seu protagonismo como quadro intelectual e como dirigente regional da Ação Integralista Brasileira.
 
 

CAPÍTULO 2: AMIGOS DE BIBLIOTECA

Em 1926 Luís da Câmara Cascudo escreve um poema, que será publicado em uma das mais importantes revistas modernistas.  Seu título é sugestivo, Não gosto de sertão verde.[xxxi] Nele Cascudo afirma preferir o sertão ressequido pela seca ao verdor do sertão de inverno, quando as chuvas fazem renascer a vida do solo rachado pelo sol.  Ele o escreve no início de sua aventura como intelectual e como literato.  Nos anos 30, parece ter se reconciliado com o verde, ao menos no que diz respeito à conotação que essa cor  então assume no cenário político brasileiro. O caminho que Cascudo percorreria até se transformar em uma eminência do folclore brasileiro e em um intelectual de tamanho renome que chegou a estampar a nota de 50.000 cruzeiros, é bastante conhecido.  Ninguém foi capaz de compilar as tradições populares, os dizeres, cantares, lendas e cultura do povo brasileiro como Luis da Câmara Cascudo.  "Sua vasta bibliografia de estudos folclóricos e históricos marca uma bela vida de trabalho inserido na preocupação de "viver" o Brasil", diria Drummond em 1958, ao assinalar "sua contínua investigação de um sentido, uma expressão nacional que nos caracterize e nos fundamente na espécie humana"[xxxii]

Cascudo foi, como muitos de sua geração, um estudioso que tentou a sua maneira responder a questão que até os dias de hoje assombra a elite intelectual brasileira: que país é esse?[xxxiii] Além de buscar resolver este enigma, a geração de Cascudo viveu o conturbado momento de polarização política dos anos 30. 

Durante toda sua existência Cascudo insistiu em reafirmar sua aversão à política.  No entanto, ao analisar mais aproximadamente sua obra, não é difícil perceber os valores conservadores que norteavam a vida, o pensamento e a ação deste singular autor potiguar.  O único momento de sua vida em que deixou claro seu posicionamento político foi na década de 30: Luis da Câmara Cascudo foi Chefe Provincial da Ação Integralista Brasileira. 

Se esse dado não chega a ser totalmente desconhecido de seus biógrafos e estudiosos, e nem é uma prerrogativa exclusiva de Câmara Cascudo, já que as tensões do momento nacional e internacional tendiam a alinhar os intelectuais em algum dos dois extremos do espectro ideológico, a pertença de Cascudo, nos anos 30, aos quadros do integralismo é quase sempre silenciada, e, por isso faz-se necessário um olhar mais atento a esse aspecto de sua trajetória.  A pergunta a ser feita é: de que maneira a ideologia integralista interage com o conteúdo, a forma e o sentido da obra de Cascudo?

A única manifestação pública de seu pensamento político não pode ter seu valor esvaziado e ser encarada como uma escolha juvenil e ingênua.  Ela deve ser analisada para além dos preconceitos que rondam o Integralismo.  Dessa maneira Cascudo não deve ser visto como um anti-semita, racista, totalitário e outros tantos adjetivos pejorativos que surgem à simples menção da palavra integralista.  Um posicionamento político bem definido era, naquela época, premente, não só para qualquer cidadão brasileiro, que participasse ativamente dos debates na arena pública, mas principalmente para aqueles que tinham em mente a questão da soberania nacional.

Um novo projeto de Brasil parecia imprescindível naquele momento e os intelectuais exerceram um papel muito importante nos debates sobre o Brasil e seu destino.  Eles trouxeram para si mesmos a responsabilidade da elaboração deste projeto.  Assim, surgiram diversas correntes de pensamento e outros tantos movimentos intelectuais e políticos em torno dos quais os homens de pensamento e de ação iam agrupando-se de acordo com suas idéias sobre os possíveis caminhos para a construção de um Brasil melhor.

Cascudo vestiu a camisa-verde dos integralistas e depois dela, nenhuma outra.  É difícil inclusive precisar como teve acesso à ideologia fascista e por quanto tempo pertenceu à organização.  Somente em seu livro Viajando o sertão[xxxiv] de 1934, quando ainda era Chefe Provincial do Integralismo no Rio Grande do Norte, menciona seu vínculo com a Ação Integralista Brasileira.  O livro é composto por dezoito crônicas que narram a viagem pelo sertão do Rio Grande do Norte feita por Cascudo a convite do interventor federal Mário Câmara no ano de 1934. 

Em uma das crônicas, intitulada "Memorial Day", ele descreve o percurso até Paraú discorrendo sobre as paisagens, o povo e sua intimidade com a região desde o tempo remoto de sua infância sertaneja.  Ao descrever a chegada a Paraú, à noite, assinala: 

"Depois do jantar fico dentro do automóvel parado com Alcides Franco falando sobre Integralismo, liberalismo e república democrática.  Para mim é um encanto narrar como Plínio Salgado começou com nove rapazes e tem duzentos mil em dois anos, com o silêncio dos jornais e todas as baterias do ridículo assentadas contra ele.".[xxxv]

É  uma da poucas menções ao Integralismo feita no livro, embora Cascudo ocupasse o expressivo cargo da Chefia Provincial. 

Na nota de apresentação á terceira edição de Viajando o sertão, escrita por M. Rodrigues de Mello em 1974, o prefaciador menciona a necessidade do Interventor de levar em sua viagem "um escritor de renome capaz de ver com olhos voltados para o futuro os grandes problemas artísticos e culturais do Estado".  Cascudo, mesmo ocupando um cargo na chefia regional do Movimento Integralista, é escolhido justamente pelo que Rodrigues de Mello afirma ser sua posição de eqüidistância dos grupos políticos do Rio Grande Norte em 1934.  É um fato bastante interessante, pois deixa entrever que mesmo por ocasião de sua única manifestação política declarada, Cascudo ainda podia ser encarado como um escritor não-engajado.  Contudo, o momento era de agitação ideológica e sua participação na viagem não foi vista com bons olhos nem por seus confrades integralistas, nem por seus opositores políticos liderados pelo deputado José Augusto Bezerra de Medeiros. 

Político tradicional de Natal, inconformado com sua perda de poder após a Revolução de 30, Bezerra de Medeiros denunciou o suposto pagamento de "quatro contos e tantos mil de réis" pelo Governo Estadual a Cascudo.  Não obstante, havia ainda a acusação de que o escritor aproveitara-se da viagem para fazer proselitismo da doutrina de Plínio Salgado.

A essa dura crítica, o intelectual potiguar respondeu com artigo intitulado "Suborno", publicado em 04 de setembro de 1934 no diário A República, publicado em Natal e, no dia 13 de Setembro de 1934, no semanário integralista A Offensiva, publicado no Rio de Janeiro e de distribuição nacional.  Nas duas publicações ele rejeita a acusação de suborno, dizendo que o pagamento mencionado por Bezerra de Medeiros fora realmente feito, porém tratava-se de seu pagamento de professor do estado.  Quanto à insinuação de que estaria divulgando a ideologia integralista, Cascudo é contundente: 

"Por convite do Sr Interventor e do diretor do Departamento de Educação tenho visitado o sertão e assistido inaugurações de 15 prédios escolares.  Tenho feito vários discursos em presença de chefes locais do Partido Popular e Povo e desafio, de maneira formal, que qualquer um desses senhores afirme sob sua assinatura que me ouviu abordar qualquertema que se referisse ao movimento político atual.  Se o tivesse feito assumiria absolutamente toda e completa responsabilidade.  Chefe Provincial Integralista, miliciano convicto, considero os Partidos Políticos meras fórmulas desacreditadas e incapazes de uma renovação social.  Não pertenço a nenhuma agremiação partidária e mantenho relações íntimas com vários próceres que não ignoram a retidão de minha atitude, assumida publicamente a 14 de julho de 1933.  Aos camisas-verdes de minha Província não dou explicação, porque eles me conhecem de perto.  Aos políticos é desnecessária qualquer justificação em contrário às suas afirmativas, porque política é isso mesmo...."[xxxvi]

A leitura atenta dessas palavras deixa entrever que Luis da Câmara Cascudo parecia atribuir prioridade ao caráter cultural da Ação Integralista Brasileira, e relativizava qualquer vínculo do que fizera, dissera ou buscara em sua viagem pelo sertão norte-riograndense com a política partidária.  Sua identificação e a provável razão de adesão ao movimento seria em função, primordialmente, do empenho pelo que considerava a "renovação social" do país, da qual acreditava não serem capazes os partidos políticos. 

A AIB, segundo suas convicções, preconizava uma revolução espiritual do povo brasileiro, valorizava suas tradições esquecidas, e convocava os intelectuais a incorporar à sua produção literária uma maior dedicação aos problemas do Brasil.  É principalmente neste aspecto que o pensamento de Cascudo encontra eco na ideologia dos camisas-verdes. Sua preocupação com os problemas reais do país e, principalmente, com a preservação das tradições, estão presentes em toda a sua obra.  E não é de espantar que o monarquista, maçon convertido ao catolicismo e cultor de todas as tradições se deixasse encantar pelas propostas integralistas.

Hoje, se por um lado a memória monumentalizada de Cascudo apaga o período de suas convicções integralistas, por outro,  a pesquisa de sua inserção histórica e de seu trabalho de historiador reclamam o aprofundamento desse período de sua vida, significativo para a compreensão de sua trajetória, para o entendimento da opção em prol do integralismo tomada por não poucos intelectuais de sua época, e para um aprofundamento de sua percepção do sentido da História. 

São poucos os documentos que permitem seguir as pistas do Cascudo-integralista, algumas alusões esparsas em sua obra, como aquelas das crônicas de 1934,  algumas fotografias que escaparam à damnatio memoriae dos registros iconográficos dos integralistas[xxxvii], uma alusão que passa quase desapercebida nas cartas de Mário de Andrade a Câmara Cascudo[xxxviii].

É nos livros de sua biblioteca, que ele gostava de denominar a minhaBabilônia e que hoje estão conservados no Memorial Câmara Cascudo em Natal, que podem ser encontrados os indícios, no sentido que Carlo Ginzburg atribuiu aos fragmentos de passado esparsos e desconexos que se oferecem à análise do historiador[xxxix], que permitem traçar alguns percursos dessa trajetória. 

O historiador Pierre Nora sugere que existem lugares de memória[xl] onde ela pode ser criada e conservada.  São lugares de memória porque se constituem em suportes materiais de memória, porque têm a função de construir memória e porque, simbolicamente, reforçam o que a memória produz.  São lugares, enfim, carregados da vontade de memória que caracteriza o mundo em que vivemos.  Sob essa ótica a biblioteca de um intelectual é lugar de memória, no sentido em que, nela, é possível identificar os alicerces de sua identidade intelectual, sua interlocução com outros autores e os percursos de suas leituras.  A Babilônia de Cascudo guarda a memória de suas leituras, pois lá é possível encontrar seus livros lidos e anotados intensamente com diversas canetas e lápis diferentes, que denunciam o momento em que cada livro foi lido, pondo em evidência o leitor voraz que foi Câmara Cascudo. 

Muitos livros foram lidos mais de uma vez, outros foram tão manuseados que se esfacelam ao toque do pesquisador. Ao folheá-los, é  possível inclusive perceber que livros foram usados para consulta na realização de seus próprios livros, como é o caso do exemplar de Hiléia Amazônica[xli] de Gastão Cruls, exaustivamente marcado, com anotações feitas em função da preparação de seus livros História da alimentação no Brasil[xlii], Rede de dormir[xliii]Jangada[xliv]

O conteúdo desta biblioteca nos permite traçar um esboço muito revelador do intelectual que foi Câmara Cascudo, do momento em que viveu, da geração da qual fez parte, da latitude ideológica que demarca sua produção das leituras que chegam àquela região nordestina que imprime marcas indeléveis em seus habitantes. A quantidade de livros e a diversidade de autores que conformam sua biblioteca é bastante representativa de todas as facetas da vida intelectual deste escritor.  Perder-se em suas prateleiras, é viajar pela vida intelectual brasileira do século XX.  Estão todos lá:  Monteiro Lobato, Mario de Andrade, Gilberto Freyre, Oliveira Vianna, Francisco Julião, Capistrano de Abreu, Silvio Romero e muitos outros.  É também possível encontrar nela um mapa expressivo do mundo intelectual nordestino em geral e norte riograndense em particular.  É, sobretudo, o lugar mais adequado para conhecer melhor Luis da Câmara Cascudo.

Os livros que forram as paredes da Babilônia de Cascudo também se abrem para possibilitar a descoberta da rede de suas relações pessoais e intelectuais, através das inúmeras dedicatórias encontradas em seus exemplares.  Uma leitura atenta de algumas delas fornece material mais consistente para a tentativa de mapear sua relação com a Ação Integralista Brasileira. 

É inegável sua estreita relação com Gustavo Barroso, antes mesmo da fundação do Movimento, uma vez que existem quarenta e seis livros do Chefe da Milícia Integralista na biblioteca de Cascudo.  Nenhum outro autor o suplanta em títulos na biblioteca de  Câmara Cascudo.  A amizade entre os dois intelectuais floresceu devido ao fato de ambos serem escritores nordestinos apaixonados por sua terra e incansáveis na busca da preservação das tradições.  Os primeiros contatos entre os futuros integralistas podem ser observados quando em 1927 Gustavo Barroso publica Através dos Folk-lores[xlv] e oferece um dos exemplares do livro: "Ao velho amigo, D. Luiz da Câmara Cascudo, fidalgo de espírito e de modos, com asaudade do G. Barroso.".  Entretanto o escritor de Fortaleza já habitava a Babilônia desde 1913, quando Cascudo tinha apenas 15 anos, e adquirira seu livro Terra do Sol.  Natureza e costumes do Norte[xlvi], publicado originalmente em 1912.  O livro encontra-se extensamente anotado e manuseado e provavelmente foi lido mais de uma vez por Cascudo. 

As dedicatórias de Barroso a Cascudo deixam transparecer grande intimidade, Gustavo chama Cascudo de "Cascudinho", apelido com que era conhecido nas rodas boêmias de Natal; revela sempre estar com muitas saudades, assinando na maioria das vezes as dedicatórias como "do velho amigo Gustavo" ou simplesmente, "Gustavo".  No livro Luz e Pó[xlvii] de 1932, encontra-se uma pequena biografia de Gustavo Barroso, um registro que Cascudo costumava fazer em alguns de seus livros, reservado a poucos escolhidos ilustres como pode ser observado em seu exemplar de O ABC da política internacional[xlviii] de Carlos Ferrão, no qual o escritor potiguar completa os dados de Mussolini, Hitler, de Gaulle, Goebbels e até de Gandhi. 

A amizade entre os dois escritores e o fato de Barroso ter se tornado um dos maiores expoentes do Integralismo e o grande mentor intelectual do movimento leva a crer que Cascudo tenha tido seu primeiro contato com os camisas-verdes e sua ideologia através deste autor.  Infelizmente a relação destes dois autores ainda não pôde ser mais aprofundada, pois a correspondência entre ambos, provavelmente extensa, não encontra-se disponível para a pesquisa. 

Em 1935, quando o escritor potiguar já era Chefe Provincial da AIB, pode-se observar no livro Brasil, colônia de banqueiros[xlix], a expressiva dedicatória: "Ao querido Cascudo, Anauê! Gustavo".  Selava-se naquele momento a amizade entre os dois escritores na crença em um mesmo projeto de Brasil.

Outros autores integralistas também estão presentes na Babilônia cascudiana, embora não com a freqüência e as dedicatórias expressivas de Gustavo Barroso.  Hélio Vianna, intelectual envolvido nas articulações que deram origem a AIB e figura constante no seu desenvolvimento posterior, tem nove livros seus na biblioteca.  O conteúdo das dedicatórias não transparece a mesma intimidade de Gustavo Barroso, mas deixa clara uma relação bastante duradoura. 

O livro mais antigo desse autor encontrado na biblioteca de Cascudo é Formação brasileira[l], de 1935, e é também o que apresenta a mais significativa dedicatória:  "Ao Luís da Câmara Cascudo, off. Com o seu anauê, o companheiro Hélio Vianna.  Rio, 20.11.1935.  Rua Santa Clara 158".  As datas dos outros livros são posteriores à década de 30, demonstrando que mesmo após o fim da aventura integralista Cascudo continuou em contato com seu ex-companheiro, que inclusive visitou-o em Natal conforme anotação de Cascudo no livro Estudos de História Colonial[li]:  "Esteve com a senhora e o filhinho Hélio em nossa casa a 22-1-49 na tourné do "D. Pedro I"". 

Miguel Reale, que tanto escreveu sobre e para a Ação Integralista Brasileira, só figura na Babilônia com o livro Os problemas do nosso tempo[lii], de 1970, que dedica "Ao caríssimo amigo, Luis da Câmara Cascudo, mais do que ninguém capaz de compreender e superar os problemas do nosso tempo.  Do Miguel Reale", sem deixar nenhum vestígio de um relacionamento mais profundo.  Entretanto, a própria ausência de um número maior de obras do ex-chefe do Departamento Nacional de Doutrina do Integralismo não deixa de ser expressiva. 

Reale participou intensamente do Movimento e nunca negou seu passado, embora admitisse mais tarde não ter passado de uma paixão juvenil.  A posição que ocupava, na elaboração e divulgação da doutrina dos camisas-verdes era de fundamental importância.  Seus livros ABC do Integralismo[liii] e O Estado Moderno (Liberalismo, Fascismo e Integralismo)[liv]eram amplamente divulgados nos jornais integralistas e o segundo, inclusive figura na lista "Livros que o integralista deve ler" publicada em 26 de Junho de 1934 pelo jornal oficial A Offensiva, do qual era freqüente colaborador.  É no mínimo interessante que nenhum de seus escritos da década de 30 estejam presentes hoje na Biblioteca de Câmara Cascudo, ele também freqüente colaborador da Offensiva

No entanto, não são apenas as dedicatórias integralistas as pistas tênues que permitem seguir as pegadas do Cascudo integralista.  O autor potiguar deixou 31 crônicas publicadas pelo jornal integralista A Offensiva, entre 1934 e 1938.  Embora não seja muito extenso, esse material é extremamente valioso, principalmente se levarmos em consideração a importância dada pelos integralistas a publicações que divulgassem a sua ideologia.  Escrever para um jornal integralista de circulação nacional salienta o conceito elevado de Cascudo dentro do movimento.

CAPÍTULO 3: Despertar a nação[lv]

Rosa Maria Feiteiro Cavalari, em seu trabalho "Integralismo: ideologia e organização de um partido de massa no Brasil"[lvi],  evidencia o alto valor atribuído pelos integralistas às suas publicações.  Elas eram o principal meio de divulgação da doutrina do movimento, que tinha uma importante função: educar as massas. 

De acordo com um dos preceitos básicos da ideologia conservadora, os integralistas viam no povo uma massa de indivíduos fracos e desnorteados, necessitando de alguém mais forte e ilustrado para guiá-los[lvii].  Conforme essa linha de pensamento, a educação se torna imprescindível para a formação da unidade nacional, uma vez que ela é a responsável pela eliminação de qualquer tipo de resistência ao estado totalitário.  Para este estilo de pensamento, para o Estado, a homogeneização de  seus cidadãos é imprescindível, pois ela faz  com que se sintam unidos por valores maiores que sua individualidade.  A família, a obediência e as tradições são exemplos de ideais que ultrapassam o indivíduo na proposta de estado defendida pelo movimento integralista. 

Embora o povo brasileiro ainda não se encontrasse apto para auto gerir-se, era necessário também que cada vez mais os cidadãos participassem ativamente da Nação, que trabalhassem por ela, tanto física quanto ideologicamente. Dessa maneira o papel desempenhado pelos livros e jornais integralistas era fundamental.  Os livros agiam na esfera da intelectualidade do movimento, aprofundando a doutrina entre aqueles que seriam os responsáveis pela transferência deste conteúdo para a turba ignorante.  Existiam também livros destinados à massa popular, embora seu conteúdo diferisse daqueles destinados aos mais instruídos.  Para competências diferentes, livros diferentes, como observa Rosa Maria Cavalari. 

Para os que iriam influir nos destinos do povo, a doutrina integralista apelava para a razão, e procurava demonstrar ao "leitor ruminante"[lviii] que a única solução para o país era o Integralismo.  Já os livros a serem lidos pelo povo tinham forte apelo à emoção para assim tocar o coração dos simples e trazê-los para o movimento. 

Plínio Salgado considerava que somente uma revolução interior possibilitaria o surgimento quilo que denominava a Quarta Humanidade que levaria o Brasil a uma posição de destaque no cenário internacional.  Era preciso alimentar o espírito do povo adormecido.  Ele destacava o costume brasileiro de não-envolvimento com a política como o principal responsável pela situação do país, e alegava que unicamente pela modificação dessa característica é que se atingiriam as condições necessárias para a fundação do Estado Integral.  Era preciso "despertar a nação" e o caminho a seguir era o da valorização da cultura. 

            Assim, inicialmente o Integralismo não se apresentava apenas como um movimento político mas também, como uma ação cultural.  Havia um determinado grupo de brasileiros que possuía a erudição necessária para a elevação do nível de instrução das massas.  A campanha integralista era eminentemente pedagógica e é exatamente devido a este fato que não é de se estranhar a presença de Luis da Câmara Cascudo na elite intelectual dos camisas-verdes e, muito menos, a sua participação em um dos principais jornais do movimento. 

Embora houvesse também livros para a massa, seu número era bastante limitado.  Os jornais eram os responsáveis pela maior difusão e, sobretudo, pela popularização da doutrina.  Os assuntos tratados eram basicamente os mesmos:  a situação calamitosa em que o país e o mundo se encontravam, a ameaça bolchevique e a defesa do argumento de que somente o Estado Integral poderia solucionar esses problemas de uma maneira definitiva.   As publicações eram reguladas pela organização Sigma Jornais Reunidos, devidamente autorizada pela Chefia Nacional.  Essa regulamentação do material impresso deveria garantir a padronização da forma, uma vez que todas as notícias deveriam ser divulgadas da mesma maneira, não sendo raro a repetição de uma mesma matéria em jornais diferentes, locais ou nacionais. 

A idéia de apoiar-se na emoção para tocar e mobilizar o homem comum e torná-lo um instrumento em prol do desenvolvimento do Estado Integral, fez com que as manchetes do semanário A Offensiva fossem bastante contundentes como pode ser observado, por exemplo, no número 17 desse jornal, publicado no dia 06 de setembro de 1934: 

"Enquanto a tempestade comunista se aproxima, [ilegível] se divertem e os burgueses gozam a vida!  Os "camisas-verdes", infatigáveis constroem a arca salvadora da nação: nela não cabem os miseráveis espectadores da nossa batalha, mas cabe a honra da pátria que saberá castigar os indiferentes à nossa dor.".[lix]

  Este tipo de apelo era bastante comum n" A Offensiva, o comunismo era considerado uma ameaça constante e o liberalismo não estava sendo suficientemente forte para combatê-lo.  O Estado, tal como se apresentava, era visto como uma entidade fraca e incapaz de solucionar os problemas brasileiros, apenas os integralistas possuíam, na perspectiva do jornal, a força e a coragem necessárias para uma revolução que poria um fim ao espectro comunista e proporcionaria o verdadeiro bem-estar ao povo brasileiro. 

O sucesso do movimento era outro dado constantemente anunciado n" AOffensiva, pois seu anúncio reiterado assegurava aos antigos e aos novos adeptos do Integralismo que não se tratava de um movimento pequeno e desacreditado e sim de uma longa marcha rumo a um Brasil melhor.  A manchete do número 15 do dia 23 de agosto de 1934 é bastante representativa dessa convocação: 

"As inúmeras e repetidas concentrações dos camisas-verdes em todas as províncias demonstram que somos hoje a única força nacional organizada.  No Norte, no Centro e no Sul somos a mesma idéia, a mesma disciplina, a mesma organização miliciana, preparando-se para a grande revolução.".[lx]

A nação não estava apta a reagir contra as terríveis forças que a ameaçavam.  Organização e disciplina eram fundamentais para o bom funcionamento do Movimento Integralista e, conseqüentemente, benéficas para o país na busca da afirmação de sua grandeza perante as demais nações.  Como afirma Rosa Maria Feiteiro Cavalari, não cabia a um integralista questionar as ordens recebidas, pois esse tipo de comportamento acabaria gerando a desordem e a anarquia, "quem não sabia obedecer, jamais saberia comandar"[lxi].

Para registrar o amplo crescimento da AIB, havia em A Offensiva uma sessão especializada na divulgação das atividades regionais da organização, intitulada "O integralismo nas províncias".  Embora a sessão fosse fixa, era obrigação de cada Chefia regional mandar boletins de atividades e realizações dos camisas-verdes em seu âmbito de competência, ainda que não fosse possível a publicação das atividades de todos os núcleos provinciais em todos os números, que variavam, nesse particular, a cada edição.  A publicação dos relatos dos acontecimentos regionais funcionava como estímulo para todos os núcleos, e a Chefia Nacional considerava essa competitividade salutar para o desenvolvimento da organização. 

O núcleo integralista do Rio Grande do Norte aparece nove vezes nesta sessão entre 1934 e 1937.  Essas notas trazem relatos sobre as atividades de Câmara Cascudo como Chefe Provincial no Rio Grande do Norte, e também auxilia em uma tentativa de estabelecer por quanto tempo Cascudo ocupou o cargo. 

Desde a fundação da Ação Integralista Brasileira no Rio Grande do Norte em 1933, Cascudo sempre marcou presença como uma das figuras proeminentes do movimento na província.  Compôs o triunvirato que inicialmente chefiou a agremiação até meados de 1934, quando, nas palavras de Luiz Gonzaga Cortez "galgou a Chefia Provincial do Integralismo potiguar"[lxii]

De acordo com a notícia veiculada pelo jornal A Offensiva, em 27 de abril de 1935, Cascudo teria deixado o cargo, que passaria a ser ocupado por Waldemar de Almeida.  Em julho de 1935, ele aparece no jornal como diretor interino do Departamento Nacional de Educação do movimento e depois não há menção da ocupação de nenhum cargo oficial na AIB por  Cascudo.  Entretanto, Luiz Gonzaga Cortez, em sua Pequena História do Integralismo no RN[lxiii], afirma que em 1936 o historiador Manoel Rodrigues de Mello ocupou interinamente o cargo da Chefia Provincial, por ocasião de uma viagem de Cascudo ao Rio de Janeiro, o que faria supor que continuava a exercer então essa função. 

Com base nessas informações é possível estimar que Luis da Câmara Cascudo teria iniciado seu trabalho na Chefia Provincial em 1934, após o triunvirato, e encerrado suas atividades como chefe provincial do Movimento em meados de 1936.  Se o material escrito por Cascudo para A Offensiva salienta seu comprometimento com a AIB no plano nacional, as notícias publicadas na sessão "O integralismo nas províncias" deixam entrever que, na esfera regional, seu engajamento era ainda maior.

Segundo os relatos publicados em "O integralismo nas províncias", Cascudo parece ter sido um chefe participativo e o núcleo integralista do Rio Grande do Norte, bastante movimentado.  Em 05 de julho de 1934, anuncia-se a criação de diversos núcleos municipais, a realização de uma série de palestras sobre a doutrina, além da criação da milícia regional, anunciada como frutífera.  A Chefia Regional ocupou-se da organização do primeiro aniversário da fundação da AIB-RN.  Cascudo teria visitado, nessa ocasião, todos os núcleos regionais e dado uma palestra sobre "Economia Dirigida" na sede do movimento em Natal. 

Como se vê, no primeiro registro de suas atividades no jornal oficial do movimento, os camisas-verdes do Rio Grande do Norte aparentavam estar amplamente engajados no desenvolvimento de seu núcleo.  Esse comprometimento se repete em todas as outras notícias sobre o movimento integralista do Rio Grande do Norte publicadas n" A Offensiva, que sempre relatava a realização de cursos de estudos integralistas, a criação de novos núcleos, inclusive de três núcleos exclusivamente femininos: na Escola Normal, na Escola Doméstica e por fim, o núcleo feminino da cidade de Natal.  Este último apresenta um dado bastante interessante: sua diretora provisória era Dahlia Freire Cascudo, esposa de Luis da Câmara Cascudo.  Tal informação, embora curiosa, não chega a causar grande surpresa se levarmos em conta as convicções do movimento integralista, que destacavam o papel da unidade familiar e da subordinação da mulher no interior da célula familiar.  Nada mais conforme a esses ditames, portanto, que o fato do próprio movimento regional reproduzir a estrutura da família de seu chefe regional. 

Ao ingressar na AIB o candidato a integrar o Movimento respondia a pergunta: "Já pensou maduramente na responsabilidade que vai assumir?"[lxiv], pois não se tratava apenas de um compromisso com um ideal político e sim com uma nova maneira de viver e vislumbrar o mundo, uma renovação do espírito.  Um integralista devia seguir padrões uniformes de comportamento moral condizentes com sua ideologia.  Devia levar uma vida simples, desprendida de valores materiais.  Quanto mais alto fosse o cargo ocupado, mais importante era a  conduta do integralista, pois esta deveria servir de exemplo para os demais. 

Assim, a presença da esposa do Chefe Provincial na diretoria de um núcleo integralista da cidade de Natal, ressalta a seriedade com que esse compromisso foi levado a cabo por Câmara Cascudo e, conseqüentemente, por sua família.  Essa não é a única vez que o envolvimento dos familiares de Cascudo pode ser observado no jornal, uma vez que, em 1935, A Offensiva publica uma foto[lxv] de alguns dos membros do Movimento de Natal.  Envergando seu uniforme integralista encontra-se Luis da Câmara Cascudo, sua esposa e seus filhos, Fernando Luis - então com quatro anos - e Ana Maria, , ambos com um uniforme integralista igual ao de seu pai.

A vida do Chefe Provincial deveria ser  um exemplo, e encarnar a manifestação pública da absorção da ideologia integralista por seu expoente máximo, um envolvimento familiar era quase que obrigatório.  Não se deve esquecer que tratava-se de um movimento em expansão, portanto, as estratégias de persuasão eram fundamentais.  É necessário ponderar-se o quanto a credibilidade de um líder seria afetada se, dentro de sua própria casa, a ideologia por ele adotada e defendida não fosse seguida por todos.

A mais extensa matéria encontrada n" A Offensiva sobre o andamento do movimento integralista no Rio Grande do Norte foi publicada em 27 de setembro de 1934 e relata a visita à cidade de Natal do então padre e membro ativo da AIB, Hélder Câmara.

Inicialmente o jornal refere-se às atividades de Câmara Cascudo na chefia ao comentar: 

"O Chefe tem visitado quase todos os municípios e mantém copiosa correspondência com os elementos simpatizantes, animando-os para as próximas fundações de núcleos municipais"[lxvi]

O endereço da nova sede é publicado e coincide com o endereço residencial de Câmara Cascudo, Avenida Junqueira Ayres, 393, a casa familiar que herdara de seu sogro, hoje aberta à visitação pública na cidade de Natal, ainda que com um diferencial e relação ao endereço publicado no jornal integralista de 1934, já que a avenida onde ela se encontra chama-se, agora, Câmara Cascudo.

Cascudo foi o cicerone de Hélder Câmara durante sua visita à cidade de Natal, e levou o então clérigo integralista a vários estabelecimentos de ensino, tais como a Escola Doméstica, um internato feminino voltado à educação das moças de elite, em especial daquelas do interior, que ali aprendiam, além do essencial da instrução e da cultura geral, as artes de ser uma dona de casa prendada. 

O jornal registra que, por ocasião de um discurso do padre Hélder, o Chefe Provincial encerrou a sessão comandando "os "anauês" dos estilo ao Chefe Nacional, ao Ceará e ao padre Hélder Câmara que os retribuiu entusiasticamente."[lxvii].  Mais significativo, entretanto foi o fato de a visita ter se dado durante as comemorações do 7 de setembro e de que tanto o padre Hélder como Câmara Cascudo terem participado das comemorações oficiais da independência no estado do Rio Grande do Norte, na qualidade de membros destacados da AIB.  A pedido do Interventor federal Mario Câmara, Cascudo, após ter mencionado em uma preleção-de-mestre diante da concentração escolar a "onda verde e renovadora que fará a grande Pátria Integral"[lxviii], dirigiu a leitura do juramento coletivo à Bandeira Nacional após o desfile.  E assim,

"Ante todos os pavilhões reunidos (...), o Dr. Luis da Câmara Cascudo leu vagarosamente o juramento acompanhado pela multidão.  Ao findar a fórmula o Dr. Luis da Câmara Cascudo, envergando a camisa verde, no próprio coreto onde as altas autoridades assistiam o desfile e fizeram o juramento, saudou o pavilhão com o braço para o alto, gesto que foi imitado por incontável número de simpatizantes, seduzidos pela beleza da atitude."[lxix]

Evidencia-se aqui o completo envolvimento de Cascudo com suas funções de Chefe Provincial.  Era um chefe participativo, acessível e desafiador, uma vez que não intimidou-se diante das autoridades locais e saudou as comemorações do 7 de setembro com o gesto que considerava mais apropriado, um mudo e emblemático "Anauê".

CAPÍTULO 4: Informar e Comentar

De todos os títulos atribuídos a Cascudo, o de professor sempre foi o mais estimado por esse "provinciano incurável", tal como gostava de ser conhecido, ao fazer uso de uma expressão cunhada por Afrânio Peixoto para qualificá-lo.  Sua missão de "ficar estudando o material economicamente inútil" não visava a simples vaidade erudita, e sim pretendia "poder informar dos fatos distantes na hora sugestiva da necessidade"[lxx].  O saber deveria ser compartilhado e utilizado de maneira correta.  Quem definia qual seria essa maneira correta era o próprio Cascudo.  Ele decidia o que valeria a pena ser estudado e lembrado pelas gerações futuras.  Como todo conservador, o escritor norte-riograndense via o presente com olhos do passado e é exatamente por este motivo que  uma dada concepção de História exercia um papel fundamental no universo cascudiano.  Através dela obtinham-se as orientações necessárias para guiar a vida no mundo atual, pois segundo Robert Nisbet 

"Quando corretamente entendido, o passado é, conforme têm dito todos os historiadores comparativos desde Heródoto, um vasto e maravilhoso laboratório para o estudo dos êxitos e dos insucessos na longa história do homem."[lxxi]

            No ideário de Luis da Câmara Cascudo, a História exercia essa função primordialmente pedagógica.  O estudo do passado evitaria a repetição de erros, tal qual afirmava Cícero, a História era "Mestra de vida"[lxxii].  Diante do desafio imposto pela imprevisibilidade do futuro, o passado se apresentava como terra firme geradora de um mínimo necessário de precisão para dar continuidade à vida sem a ameaça da mudança.  Encarar a História através de uma ótica conservadora não consiste em simplesmente olhar para trás no tempo e nem no mero relato de acontecimentos pretéritos, é, sobretudo, ser capaz de mostrar que tudo o que está no presente tem raízes que podem ser localizadas  no passado. 

            A História, na perspectiva dos conservadores, atua de forma análoga à seleção natural para os cientistas, ou seja o que é observado hoje somente pode sê-lo pois resistiu à ação corrosiva do tempo.  O presente é construído pela persistência, aquilo que for útil, será mantido, o supérfluo desaparecerá.  Cascudo viu na Ação Integralista Brasileira um movimento que agindo na esfera da política, priorizava a cultura e destacava o nacionalismo. 

            O material utilizado por Plínio Salgado para "despertar a Nação" preconizava um retorno às origens do país, a valorização das tradições e especificidades do povo brasileiro.  Ora, esse era justamente o conteúdo primordial do projeto de vida de Cascudo, o Brasil seria soberano na medida em que fosse fiel a suas singularidades. 

            O verdadeiro espírito nacional se encontrava "encantado" no passado[lxxiii], sendo necessário empreender aquilo que Cascudo entendia ser um resgate das tradições de maneira a ressuscitá-lo.  A História do Brasil deveria ser estudada e principalmente compreendida como manancial empírico para a reestruturação do país.  Os erros cometidos anteriormente não deveriam ser repetidos, pois eles eram os responsáveis pela situação em que o país se encontrava.  Mas, não era qualquer um que possuía a sensibilidade de discernir apropriadamente os modelos a serem seguidos.  O povo era visto como uma criança inocente cuja pureza deveria ser preservada, portanto cabia aos esclarecidos guiar essa massa ingênua. 

            As crônicas escritas por Luis da Câmara Cascudo em A Offensiva são bastante representativas desse pensamento.  Seus artigos podem ser encontrados na sessão intitulada "Semana Internacional", na qual era traçado um panorama político mundial bastante tendencioso.  A maioria das matérias consideradas informativas publicadas em A Offensiva não eram assinadas, como não são até os dias de hoje em qualquer jornal.  O fato de todos os artigos escritos por Cascudo serem autorais é um forte indicativo de seu prestígio dentro e mesmo fora do movimento.  Ter Luis da Câmara Cascudo citado entre os membros da Ação Integralista Brasileira era benéfico para o movimento, uma vez que a importância de seus admiradores era imediatamente transferida para o movimento.  O autor potiguar já era então reconhecido nacional e internacionalmente por sua obra de etnógrafo e folclorista e sua assinatura nos artigos de A Offensiva era um argumento de autoridade para as teses defendidas pelo jornal.

            Seu nome figura numa extensa listagem sobre os principais nomes dos integralistas elaborada por Plínio Salgado e publicada no número 281 do jornal integralista em 10 de setembro de 1936, juntamente  com os de outros membros ilustres do Movimento tais como Miguel Reale, Olbiano de Mello, Gerardo Mello Mourão, além de Gustavo Barroso[lxxiv]

            Outras duas notas publicadas por A Offensiva dão conta do reconhecimento internacional de Cascudo pela alta qualidade de suas obras. Em 10 de janeiro de 1935, no número 35, o artigo intitulado "Luiz da Câmara Cascudo e a ´Societé des americanistes`", relata a eleição unânime do escritor potiguar "brilhante historiador conterrâneo" e "prezado colaborador" para esta sociedade, descrita como "a mais alta corporação destinada ao estudo, pesquisa e divulgação de assuntos de antropologia, história e etnografia das Américas". O jornal publica cópia da carta recebida por "nosso ilustre companheiro"[lxxv], que encontra-se parcialmente ilegível, em francês e assinada por ninguém menos que Charles Langlois. 

            As glórias e conquistas públicas dos membros ilustres da AIB são costumeiramente publicadas em A Offensiva.  O número destes privilegiados, no entanto, não é muito extenso.  Portanto é bastante emblemática uma segunda nota a respeito de uma honraria conferida a Cascudo, publicada em 13 de julho de 1935, no número 61[lxxvi] do jornal e cujo tema é sua eleição para a Academia Nacional de História e Geografia do México.  Novamente a carta recebida pelo autor está publicada no corpo do jornal, desta vez assinada pelo presidente da sociedade, Dr Enrique E. Schluz.  O reconhecimento ao trabalho de Cascudo fica, portanto, evidenciado nas páginas de A Offensiva, porém ainda nos resta esmiuçar o conteúdo de sua contribuição para o jornal integralista.

            Na maioria das vezes Cascudo utilizava o espaço cativo que o jornal integralista reservava para seus artigos e crônicas para publicar minuciosas descrições dos movimentos fascistas em vários pontos  do planeta, fazer fortes críticas ao comunismo e, sempre que possível, reafirmar sua fé no Integralismo como única organização capaz de salvar o país.  Fazia assim uma contabilidade dos vários movimentos e lideranças fascistas e seu crescimento, uma crítica feroz e contumaz ao comunismo e uma apologia do movimento integralista, e, assim, ao mesmo tempo que situava o integralismo no universo das idéias políticas contemporâneas como antípoda e antítese do comunismo internacional, defendia o espaço e a legitimidade da AIB no cenário político brasileiro.  Os números a respeito dessas suas crônicas são bastante reveladores: das trinta e uma crônicas publicadas, onze podem ser classificadas como anticomunistas, seis trazem informações sobre política internacional, três retratam a situação preocupante do Brasil e sete fazem alusões explícitas à ideologia fascista. 

            O Cascudo folclorista notório, etnógrafo reconhecido, estudioso da cultura popular aparece somente quatro vezes em A Offensiva.  Uma de suas crônicas faz um relato sobre a música sertaneja, outra apresenta uma pequena resenha sobre o cinema.  Uma terceira transcreve um trecho extraído do livro História da Literatura Norte-riograndense[lxxvii] que, segundo carta escrita a Mario de Andrade em 5 de dezembro de 1930, havia concluído em dezembro de 1930.[lxxviii]

            Chama atenção, no entanto, a quarta referência a obra do autor potiguar, em crônica publicada em 24 de janeiro de 1935, "Ermano de Stradelli", na qual Cascudo louva o trabalho do pesquisador italiano sobre quem publicaria um ano mais tarde um livro intitulado Em memória de Stradelli[lxxix].  Tal trabalho lhe renderia uma comenda oferecida pelo próprio Benito Mussolini em 1938, o mesmo ano em que se desliga do movimento integralista.  A honraria seria devolvida por Cascudo em 1942 ao Governo Italiano, quando soube do ataque dos submarinos italianos aos navios mercantes brasileiros. 

            Haja visto o teor polêmico de toda a publicação integralista, não chega a ser surpreendente o fato de as crônicas que criticam o comunismo serem as mais numerosas.  Para Cascudo, sem dúvida o maior inimigo a ser combatido era aquele representado pela URSS.  Uma das características mais destacadas pelo autor é a suposta violência dos comunistas, citada em praticamente todas as crônicas.  As palavras escolhidas por Cascudo para ilustrar a ideologia de Marx posta em prática pelos governos socialistas são sempre muito violentas construindo imagens hediondas na mente do leitor.  "Governo sem escrúpulos"[lxxx], "doutrina sanguinária"[lxxxi], "Deus Vermelho"[lxxxii], "nação verdadeiramente bélica"[lxxxiii] são exemplos da linguagem por ele utilizada, seguindo os moldes da imprensa integralista, que preconizavam apelar para a emoção para convencer. 

            Entretanto, Cascudo não visa apenas a emoção de seus leitores, Ele recheia suas crônicas alarmistas de informações. É bastante interessante observar como no texto intitulado "Violência bolchevista", utiliza poemas de diversos intelectuais russos, como Maiakovsky, para comprovar sua teoria de que a violência é a essência do regime bolchevista e de como, sem ela, o regime não passa de um "cachorro sem dentes, inofensivo e barulhento"[lxxxiv].  Em uma outra crônica, a trajetória do bispo D. Sloskan, nascido na Lituânia e preso pelos soviéticos é descrita pelo autor, os planos qüinqüenais são ironizados, nem mesmo a reforma do ensino soviético passa incólume sob a áspera pena do Cascudo anticomunista[lxxxv]

            Cascudo utilizava seu espaço no principal jornal da Ação Integralista Brasileira para deixar seus leitores informados a respeito das ameaças e perigos a serem enfrentados na lenta marcha rumo ao Estado Integral.  No entanto, embora concordasse com a imagem de inocência e ingenuidade atribuída ao povo e com a responsabilidade das elites intelectuais em dirigir essa massa informe, o escritor norte-riograndense oferecia a seus leitores um pouco mais do que um apelo à emoção.

            Seus textos eram também tecidos com informações precisas, obtidas em jornais internacionais, com citações eruditas em línguas estrangeiras e, por isso mesmo, desviavam-se do padrão mais duro e panfletário de outras seções da publicação.  As crônicas encontradas na seção internacional funcionavam como uma verdadeira aula do  professor Cascudo, que as ministrava por escrito, destinando-as tanto para participantes do movimento quanto para aqueles que ainda tinham dúvidas sobre qual o caminho seguir no confuso momento político vivido. 

            Na crônica "O pretexto do armamentismo alemão", Cascudo traça um interessante panorama da situação européia às vésperas da guerra para seus leitores.  Segundo ele, a notícia de que a Alemanha estaria se preparando para uma guerra, divulgada pelo governo francês, teria sido, na verdade, fornecida pelo governo russo.  Agindo assim, os russos pretendiam aliar-se à França e visavam, posteriormente, torná-la uma colônia russa, uma vez que apenas os comunistas seriam beneficiados por uma guerra.  Para encerrar o artigo, afirma 

"Estamos assistindo a uma comédia trágica, jogada entre gigantes mecânicos.  A corda é dada pela Rússia."[lxxxvi]

            A suposta ingenuidade da França diante da malícia da União Soviética é tema de outra crônica, esta intitulada "Moral Política da URSS".  Nela, Cascudo faz uma crítica à obediência cega dos russos às palavras de Lênin, dizendo que marxismo na União Soviética só é visto com a ótica de Lênin.  Classifica a aliança entre a Rússia e a França na Liga das Nações como "espiritualmente francesa e moralmente bolchevista", ressaltando que a moral dos russos é "tudo quanto torne favorável ao aniquilamento da antiga sociedade de exploradores e à união do proletariado"[lxxxvii].  Dessa maneira, os franceses estariam brincando com fogo, pois ignoravam as verdadeiras intenções dos soviéticos.

            Câmara Cascudo não utilizaria apenas uma linguagem forte e convincente, pois isso não seria o suficiente para provocar um sentimento de repulsa ao governo comunista.  Ao fundamentar suas críticas com informações precisas, ele estaria indo além do apelo à emoção, adentrando o campo da razão e aumentando ainda mais o raio do espectro de leitores a serem atingidos por suas palavras. 

            A natureza erudita dos textos de Cascudo jamais lhe permitiria o simples emprego de uma fórmula desenvolvida para convencer o mais inocente dos leitores.  É importante não esquecer sua identificação com o enriquecimento cultural da nação prometido pela doutrina integralista, fato que certamente nunca foi relegado a segundo plano pelo, então, professor de História do Atheneu Norte-riograndense.  A Rússia, utilizando palavras do autor, esse "paraíso de onde todos os anjos querem fugir"[lxxxviii], deveria ser combatida e detestada, mas era imprescindível que os leitores soubessem porquê deveriam fazê-lo.

            Para fornecer ainda mais elementos à compreensão dos simpatizantes da AIB sobre o momento vivido, o intelectual potiguar escreveu também seis crônicas nas que oferecia a seus leitores informações diversas sobre a política internacional da época.  Esses artigos não são tão persuasivos quanto aqueles contra o comunismo, mas deixam entrever suas simpatias. 

            Em "A Turquia Moderna"[lxxxix], exalta as realizações de Mustafá Kerral Pachá, o Bhazi, presidente da Turquia, que resultaram, de seu ponto de vista,  em uma melhoria impressionante do país.  É interessante notar que este mesmo presidente, nas palavras do próprio Cascudo, "é o poder executivo", evidenciando sua preferência por estados de governo autoritário.  A Turquia aparece novamente na crônica "O mistério persa"[xc], crônica na que tem-se o relato do encontro secreto entre o presidente da Turquia e o Xá Reza Pahlevi, da Pérsia.  O autor destaca a importância desse encontro, tendo em vista a localização estratégica da Pérsia, dado que teria aguçado a curiosidade dos serviços secretos inglês, francês, alemão e russo, provavelmente os únicos a saberem o motivo da reunião sigilosa entre os dois líderes. 

            É bastante impressionante o nível de informação das notícias divulgadas por Cascudo, que, em outras crônicas, afirma que a notícia que está sendo dada não foi publicada em nenhum outro jornal fora do país de origem.  Em uma época onde a distância entre o Rio de Janeiro e Natal era consideravelmente longa, a capacidade de Cascudo de estar a par dos acontecimentos internacionais chega a ser admirável.  Em suas crônicas, nas que descreve os movimentos fascistas que, segundo ele, se multiplicam ao redor do mundo, esse traço de incansável pesquisador fica ainda mais nítido.  A situação política da extrema-direita norte-americana, por exemplo,  é minuciosamente desvendada em "O fascismo nos EUA", crônica publicada no dia 24 de maio de 1934.  Todas as organizações fascistas encontradas em território ianque são descritas, e o autor chega ao requinte de enumerar quantos membros cada uma das quatro maiores organizações possuía então.  Ao iniciar esta mesma crônica, Cascudo faz uma notável observação: 

           "A condição inicial de uma doutrina política é a sua análise sem compromissos.  A obrigação essencial de uma imprensa é informar e comentar"[xci]

            À luz desta informação poderíamos afirmar que as ambições do escritor norte-riograndense ao escrever sobre a doutrina integralista em A Offensiva , iam além de atingir apenas os leitores habituais do jornal.  Possivelmente pretenderia igualmente um trabalho de proselitismo voltado a atrair pessoas desvinculadas do movimento, que seriam bem-vindas como leitores e, através de seus escritos, aprendizes das idéias integralistas.  Contudo, aí entra o talento do escritor deste tipo de publicação, não apenas a informação por si só deve ser veiculada.  Ao seu lado, de mãos dadas, deve vir o comentário, esse sim, o verdadeiro responsável pelo convencimento.  E se Cascudo impressiona pela qualidade e quantidade de suas informações, seus comentários provavelmente renderam mais alguns membros para a Ação Integralista Brasileira. 

            Uma de suas crônicas intitula-se "O hitlerismo invade os EUA", e, apesar do título, refere-se à situação calamitosa em que se encontrava o Brasil.  Ele acusa a burguesia de achar que "governar é cobrar impostos" sem levar em conta a situação real do povo brasileiro, o que fazia que o país estivesse acorrentado cada vez mais ao capital estrangeiro.  Afirma que, para o Brasil, seria essencial uma reação tal qual a italiana ou a alemã, pois "é progredir ou desaparecer", cabendo à nova geração ser 

"capaz de formar um espírito novo e criador, organizar o Brasil sobres bases moral e materialisticamente sólidas ou sucumbiremos debaixo dos escombros de uma pátria retaliada e miserável"[xcii]

É justamente neste ambiente que ele afirma nascer o Integralismo, para ele uma "concepção completa de nacionalismo sadio e universalismo equilibrado.  Uma filosofia para o Brasil, uma literatura a serviço da Nação".  E, ao dar continuidade a sua pregação, ressalta a necessidade de um "mestre genial para que não continue acéfalo o lugar de chefe da Nação brasileira" para  encerrar, dramaticamente: 

"Avitória do integralismo virá pacífica se for possível e violenta com o sacrifício do nosso sangue se a tanto formos levados.". 

            O autor de livros como Rede de Dormir[xciii], Coisas que o Povo diz[xciv], O tempo e eu[xcv], parece irreconhecível após a leitura destas linhas.  Aparece aqui o intelectual engajado no projeto político que escolheu abraçar e que verdadeiramente acredita naquilo que escreve como militante.  É um discurso bastante ilustrativo da personalidade marcante de Luis da Câmara Cascudo, que tem a memória de sua vida confundida com a memória de sua cidade.  O intelectual que recebia até os visitantes mais ilustres vestindo pijamas e que é até hoje objeto de estudo para muitos pesquisadoresPorém, é um discurso que defende um governo autoritário, que tem como inspiração os governos nada louváveis de Adolf Hitler e Benito Mussolini. 

            Posteriormente Cascudo renegaria seu passado, queimando seu uniforme integralista.  Este fato deve sempre estar presente em nossa mente ao realizarmos a leitura de sua produção intelectual ligada ao movimento, que o próprio Cascudo jamais divulgou. 

            Em 29 de junho de 1935, em artigo sobre a relação entre o integralismo e a maçonaria, Miguel Reale afirma: "O momento é de posições definidas.  Quem não está conosco, está contra nós.".  O diretor do Departamento Nacional de Doutrina Integralista, com simplicidade, sintetiza a situação da arena política mundial da época.  Posições marcadas, esclarecidas, idéias defendidas ou refutadas.  Cascudo escolheu as suas, e como em todas as áreas de sua vida, soube articulá-las e defendê-las com ênfase e maestria. 

            Perfeccionista por excelência, não deixaria de sê-lo nos anos de militância integralista. Abraçou uma ideologia que se traduzia também em uma filosofia de vida e por ela lutou, até que sua fé se desgastasse.  Contudo, enquanto acreditava no potencial revolucionário da ideologia integralista, suas palavras são as mais expressivas das razões que nortearam suas atitudes naquele momento: 

           "Vinde para as fileiras verdes do Integralismo, trabalhar, estudar e sofrer conosco. (...)  Lembrai-vos que só existe no Brasil um sinal para reconhecermos os brasileiros que estão construindo uma Pátria na perpetuidade do esforço e do sacrifício.  Esse sinal é o Sigma.  Brasileiro (...)  estarás diante de um minuto que definirá vosso pensamento.  Lembrai-vos que esse é o momento da Escolha, da coragem, do Passo Inicial, a marcha para o alto como as nossas saudações (...)  Ficareis isolados deste movimento único em toda nossa existência política (....)  Um trapo vermelho não vos identifica como integralista.  É preciso uma profissão de fé."[xcvi]

            Foi sua fé em uma concepção totalitária de Estado, segundo a qual as liberdades individuais seriam suprimidas, que Cascudo professou ao integrar as "hostes do Sigma"[xcvii].  À primeira vista talvez tal afirmação possa parecer estranha, no entanto, após um estudo cuidadoso que ponha em evidência esse lado não muito conhecido de Luis da Câmara Cascudo, talvez seja possível perceber que embora seu objeto primordial fosse o estudo do povo brasileiro, isso não significava que ele atribuísse qualquer característica revolucionária ou mesmo ativa a esse povo. 

            O povo era ingênuo e necessitava de liderança, pois somente assim o país poderia caminhar livremente rumo ao que Cascudo e seus companheiros viam como seu grandioso destino.  Para Luis da Câmara Cascudo, naquele momento quem poderia preencher o lugar dessa liderança era Plínio Salgado e o Estado que impulsionaria o país para o futuro seria o Estado Integral.

BIBLIOGRAFIA E DOCUMENTAÇÃO

Acervos Pesquisados:

·        Biblioteca Central da PUC-Rio

·        Biblioteca Nacional

·        Memorial Luis da Câmara Cascudo (Natal " RN)

·        Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (Natal " RN)

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NOTAS:


[i] Margarida de Souza NEVES.  O encantamento do passado.  Luis da Câmara Cascudo, historiador.  Rio de Janeiro:  PUC-Rio / CNPq, 2001.  (Projeto de pesquisa, mimeo)

[ii]MAIO, Marcos Chor e CYTRYNOWICZ, Roney. "Ação Integralista Brasileira: um movimento fascista no Brasil (1932-1938)" IN:  FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (orgs.).  O tempo do nacional-estatismo: do início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo.  Rio de Janeiro:  Civilização Brasileira, 2003. (O Brasil republicano; v.2).

[iii] TRINDADE, Hélgio.  Integralismo " O fascismo brasileiro na década de 30. Rio de Janeiro/São Paulo: DIFEL, 1979.

[iv] PÉCAUT, Daniel.  Os intelectuais e a politica no Brasil : entre o povo e a nação. São Paulo: Ática, 1990.

[v] RAGO FILHO, Antonio.  A crítica romântica à miséria brasileira: o integralismo de Gustavo Barroso.  São Paulo:  PUC-SP, 1989. (Dissertação de Mestrado).

[vi]VASCONCELLOS, Gilberto.  Ideologia curupira: análise do discurso integralista.  São Paulo:  Brasiliense, 1979.

[vii] ARAÚJO, Ricardo Benzaquem de.  "As classificações de Plínio " uma análise do pensamento de Plínio Salgado entre 1932 e 1938". IN:  Revista de Ciência Política.  Rio de Janeiro, n.21, 1978.

[viii] ARAÚJO, Ricardo Benzaquem de. Totalitarismo e revolução.  O integralismo de Plínio Salgado.  Rio de Janeiro:  Zahar, 1988.

[ix] MAIO, Marcos Chor e CYTRYNOWICZ, Roney. Op. Cit., pp. 59.

[x] GINZBURG, Carlo.  "Sinais: raízes de um paradigma indiciário" IN:  Mitos, emblemas e sinais.  São Paulo:  Cia. Das Letras, 1989.

[xi] A esse respeito, crf., BETI, Mariana Giardini.  As águas vivas do Passado:  a memorialística de Luís da Câmara Cascudo.  Rio de Janeiro:  PUC-Rio/Departamento de História, 2004 (monografia de conclusão do curso de graduação).

[xii] MERCADANTE, Paulo.  A consciência conservadora no Brasil.  Rio de Janeiro:  Nova Fronteira, 1980 (3ª ed.).

[xiii] Para uma análise aprofundada da relação entre Cascudo e os historiadores clássicos, ver:  PAIVA, Tatiana Moreira Campos.  Luis da Câmara Cascudo: um historiador clássico?.  Rio de Janeiro: PUC-Rio/Departamento de História, 2003 (monografia de conclusão de curso de graduação).

[xiv] A esse respeito ver:  NEVES, Margarida de Souza.  "O sertão encantado: cores e sonoridades". IN:  STARLING, Heloisa et al. (orgs) .  Decantando a República. Inventário Histórico e político da canção popular moderna brasileira. Rio de Janeiro:  Nova Fronteira, 2004.  vol. 3 pp. 93 a 112.

[xv] PÉCAUT, Daniel.  Op. Cit.

[xvi] CASCUDO, Luis da Câmara.  Dicionário do Folclore Brasileiro.  Belo Horizonte:  Itatiaia, 1984 (5ª ed.).

[xvii]  CASCUDO, Luis da Câmara.  "Um provinciano Incurável". IN:  Revista Província nº 2.  Natal: UFRN/IHGRN, 1998 (re-edição do número especial sobre Câmara Cascudo, editado em 1969).    p. 6.

[xviii] Agradeço aqui minha orientadora Margarida Souza Neves por essa oportunidade única que enriqueceu tanto este trabalho quanto minha experiência como pesquisadora iniciante.

[xix] Uma análise mais detalhada desse livro de Cascudo pode ser encontrada em:  FARIAS, Mirella De Santo.  Memórias de um menino sertanejo: o sertão de Luis da Câmara Cascudo.  Rio de Janeiro: PUC-Rio/Departamento de História, 2001 (monografia de conclusão de curso de graduação).  Além  de :  NEVES, Margarida de Souza.  "Viajando o sertão.  Luis da Câmara Cascudo e o solo da Tradição"  IN CHALHOUB, Sidney, NEVES, Margarida de Souza e PEREIRA, Leonardo Affonso de Miranda (orgs).  A História em coisas miúdas.  Capítulos de História Social da Crônica no Brasil. Campinas:  UNICAMP, 2005.  (no prelo).

[xx] Dados extraídos da edição nº 13 do Jornal A Offensiva que lista os países de governo fascista, semi-fascista e as organizações fascistas. Rio de Janeiro: 9 de Agosto de 1934. p. 3.

[xxi] CUNHA, Euclides da.  Os sertões:  (campanha de Canudos).  São Paulo: Ateliê Editorial, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, Arquivo do Estado, 2001.

[xxii] TRINDADE, Hélgio.  "Integralismo". IN:  ABREU, Alzira Alves de. et al.  Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930.  Rio de Janeiro: FGV, 2001 (2ª ed. revista e aumentada.). pp. 2807-2814.

[xxiii] IDEM, IBIDEM.  Op. Cit. Loc. Cit.

[xxiv]NEVES, Margarida de Souza.    "Os cenários da República:  O Brasil na virada do século XIX para o século XX"  IN Jorge FERREIRA e Lucília de Almeida Neves DELGADO. (orgs) O Brasil Republicano.  Vol. 1  O Tempo do liberalismo excludente.  Da proclamação da República à Revolução de 1930.  Rio de Janeiro:  Civilização Brasileira, 2003. pp. 13 a 44.

[xxv] TRINDADE, Hélgio.  Op. Cit., Loc. Cit.

[xxvi] ANDRADE, Carlos Drummond de. IN: Revista Província nº 2.  Natal: UFRN/IHGRN, 1998 (re-edição do número especial sobre Câmara Cascudo, editado em 1969). p. 15.

[xxvii]  Sobre a correspondência entre Mario de Andrade e Câmara Cascudo, cfr. BIYNGTON, Silvia Ilg.  Pentimentos modernistas.  As cores do Brasil na correspondência entre Luís da Câmara Cascudo e Mario de Andrade.  Rio de Janeiro: PUC-Rio/Departamento de História, 2000. (Dissertação de Mestrado, mimeo) e GOMES, Edna Maria Rangel de Sá. Correspondências.  Leitura das cartas trocadas entre Luís da Câmara Cascudo e Mario de Andrade.  Natal: UFRN/Departamento de Letras, 1999.

[xxviii] SARTRE, Jean-Paul. Apud. PÉCAUT, Daniel. Op. Cit.

[xxix] BOMENY, Helena.  Constelação Capanena: intelectuais e políticas.  Rio de Janeiro: FGV/CPDOC, 2001.

[xxx] Para um recente estudo a esse respeito ver:  MANSILLA, H. C. F.   "Intelectuais e política na América Latina:  uma breve abordagem a uma ambivalência fundamental" IN: Cadernos Adenauer, n.5.  Rio de Janeiro:  Fundação Konrad Adenauer, 2004.

[xxxi] CASCUDO, L. da C. "Não gosto de sertão verde". IN: Terra Roxa e Outras Terras. São Paulo: Ano 1, n.ª 6, 1926.  Para um estudo a respeito desse poema modernista de Câmara Cascudo ver: NEVES, Margarida de Souza.  "O sertão encantado: cores e sonoridades". IN:  STARLING, Heloisa et al.  Decantando a República. Inventário Histórico e político da canção popular moderna brasileira. Rio de Janeiro:  Nova Fronteira, 2004.

[xxxii] ANDRADE, Carlos Drummond de. Op. Cit. p. 15.

[xxxiii] Margarida de Souza NEVES e Ilmar Rohloff de Mattos.  Os descobridores. Capistrano de Abreu,  Mario de Andrade e os modernos descobrimentos do Brasil.  Rio de Janeiro:  PUC-Rio-Departamento de História/CNPq, 1994. (Projeto Integrado de Pesquisa, mimeo) p. 3.

[xxxiv] CASCUDO, Luis da Câmara.  Viajando o sertão. Natal: Editora do Rio Grande do Norte/ CERN, 1984 (3ª ed.).

[xxxv] IDEM, IBIDEM. p. 21-22

[xxxvi] IDEM, IBIDEM.  p.8-19

[xxxvii]CORTEZ, Luiz Gonzaga.  Pequena História do Integralismo no Rio Grande do Norte.  Natal: CLIMA/Fundação José Augusto, 1986.

[xxxviii] BYNGTON, Silvia Ilg.  Op. Cit.

[xxxix] GINZBURG, Carlo.  Op. Cit.

[xl] NORA, Pierre. A História nova. Lisboa: Edições 70, 1977.

[xli] CRULS, Gastão.  Hiléia Amazônica.  Rio de Janeiro, José Olympio, 1958 (3ª ed.).

[xlii] CASCUDO, Luis da Câmara.  História da Alimentação no Brasil. Belo Horizonte, Itatiaia / São Paulo, USP, 1983 (2ª ed.).

[xliii]IDEM. Rede de dormir: Uma pesquisa etnográfica. Rio de Janeiro: FUNARTE/Instituto Nacional do Livro/Achiamé; Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 1983 (2ª ed.).

[xliv] IDEM.  Jangada: Uma pesquisa etnográfica.  Rio de Janeiro: Editora Letras e Artes, 1964 (2ª ed.).

[xlv] BARROSO, Gustavo.  Através dos Folk-lores,SL; SE.

[xlvi] IDEM.  Terra do sol.  Natureza e costumes do Norte.  Rio Janeiro:   Benjamin de Aguila, 1912.

[xlvii] IDEM.  Luz e pó.  Rio de Janeiro, Renascença Editora, 1932.

[xlviii] FERRÃO, Carlos.  ABC da política mundial. Lisboa, Livraria Sá Costa Editora, 1941.

[xlix] BARROSO, Gustavo.  Brasil, colônia de banqueiros.

[l] VIANNA, Hélio.  Formação Brasileira. Rio de Janeiro:  José Olympio, 1935.  (Col. Problemas Políticos contemporâneos no. 5)

[li] IDEM.  Estudos de História colonial.  São Paulo:  Companhia Editora Nacional, 1948.  (Col. Brasiliana " Série 5ª - vol. 261)

[lii] REALE, Miguel.  Problemas do nosso tempo.  São Paulo:  Grijalbo, 1970.

[liii] IDEM. O ABC do Integralismo.  Rio de Janeiro:  José Olympio, 1935.

[liv] REALE, Miguel O Estado Moderno (Liberalismo, Fascismo e Integralismo). Rio de Janeiro:  José Olympio, 1934.

[lv] Esse título foi inspirado em: SALGADO, Plínio.  Despertemos a nação.  Rio de Janeiro:  José Olympio, 1935.

[lvi] CAVALARI, Rosa Maria Feiteiro.  Integralismo: ideologia e organização de um partido de massa no Brasil (1932-1937).  Bauru:  EDUSC, 1999.

[lvii] MANHEIM, Karl. "O pensamento conservador". IN:  MARTINS, José de Souza,

       Introdução crítica à sociologia rural.  São Paulo: Hucitec, 1981.

[lviii] "O leitor atento, verdadeiramente ruminante, tem quatro estômagos no cérebro, e por eles faz passar e repassar os atos e os fatos, até que deduz a verdade, que estava, ou parecia estar escondida." MACHADO DE ASSIS IN:  Esaú e Jacó p.103

[lix] S.A.., A Offensiva, Rio de Janeiro: 06 de setembro de 1934. (nº17).

[lx] S.A. A Offensiva,Rio de Janeiro:23 de agosto de 1934. (nº15)

[lxi] CAVALARI, Rosa Maria Feiteiro. Op. Cit. p. 55.

[lxii] CORTEZ, Luiz Gonzaga.  Pequena história do Integralismo no RN.  Natal:  Fundação José Augusto, 1986.  pp. 18.

[lxiii] IDEM, IBIDEM. pp. 20.

[lxiv] Apud. CAVALARI, Rosa Maria Feiteiro. Op. Cit.pp. 168.

[lxv]A foto foi retirada do livro de Luiz Gonzaga CORTEZ. Op. Cit.

[lxvi] S.A., "O Integralismo nas províncias". IN:  A Offensiva,Rio de Janeiro:27 de setembro de 1934. (nº20) pp. 5. 

[lxvii] IDEM, IBIDEM. Loc. Cit.

[lxviii] IDEM, IBIDEM. Loc. Cit.

[lxix]IDEM, IBIDEM. Loc. Cit.

[lxx] CASCUDO, Luis da Câmara. "Um provinciano incurável". IN: Revista Província nº 2.  Natal: UFRN/IHGRN, 1998 (re-edição do número especial sobre Câmara Cascudo, editado em 1969). p. 6.

[lxxi]NISBET, Robert. O conservadorismo. Lisboa :  Editorial Estampa, 1987. pp. 41-42.

[lxxii] cfr., sobre a aproximação entre Câmara Cascudo e os historiadores clássicos,  PAIVA, Tatiana Moreira Campos. Op. Cit.

[lxxiii] Para as várias conotações desse "encantamento do passado", cfr. Margarida de Souza NEVES.  O encantamento do passado.  Luis da Câmara Cascudo, historiador.  Rio de Janeiro:  PUC-Rio / CNPq, 2001.  (Projeto de pesquisa, mimeo) e Margarida de Souza NEVES. Artes e ofícios de um "provinciano incurável". IN:  Projeto História, nº 24:  Artes da História e outras linguagens.  São Paulo: PUC-SP, Junho de 2002.


 
 

[lxxiv] SALGADO, Plínio.  "Quem são os integralistas?".  IN:  A Offensiva, Rio de Janeiro: 10 de setembro de 1936. (n°281) pp. 2.

[lxxv] S.A., "Luiz da Câmara Cascudo e a ´Societé des americanistes`". IN:   A Offensiva,Rio de Janeiro: 10 de janeiro de 1935. (n°35) pp. 3.

[lxxvi]S.A., "Luiz da Câmara Cascudo e a Academia Nacional de História e Geografia do México". IN:  A Offensiva,Rio de Janeiro: 13 de julho de 1935. (nº61) pp. 10.

[lxxvii] O livro, embora citado pelo próprio autor, não foi publicado

[lxxviii] trata-se da carta escrita em 05 de dezembro de 1930.  cfr. O site que recolhe os resultados da equipe de pesquisa, www.modernosdescobrimentos/descobridores/Cascudo/no tempo (consultado em 13/11/2004 às 14:35.)

[lxxix] CASCUDO, Luis da Câmara.  Em memória de Stradelli.  Manaus: Livros Clássicos, 1936.

[lxxx] CASCUDO, Luís da Câmara.  "O pretenso armamentismo alemão".  IN:  A Offensiva, Rio de Janeiro:  10 de janeiro de 1935. (nº35) pp. 1-2

[lxxxi] IDEM.  "O morto da praça da Sé". IN: A Offensiva, Rio de Janeiro: 20 de dezembro de 1934. (n°32) pp. 2

[lxxxii] IDEM. IBIDEM, n°35   10 de janeiro de 1935

[lxxxiii] CASCUDO, Luís da Câmara.  "Pro pace....para bellum". IN: A Offensiva,Rio de Janeiro: 19 de novembro de 1937. (n°674) pp. 11

[lxxxiv] IDEM.  "Violência bolchevista". IN: A Offensiva, Rio de Janeiro: 01 de março de 1936. (n°118) pp. 10

[lxxxv] IDEM, "O bispo D. Sloskan" . IN: A Offensiva,Rio de Janeiro:19 de julho de 1934. (n°10) pp. 3

 

[lxxxvi] CASCUDO, Luís da Câmara. "O pretenso armamentismo alemão". IN: A Offensiva, Rio de Janeiro: 10 de janeiro de 1935. (nº35) pp. 1-2

[lxxxvii] IDEM. "Moral política da URSS". IN: A Offensiva, Rio de Janeiro: 23 de fevereiro de 1936. (n°113) p. 10

[lxxxviii] CASCUDO, Luís da Câmara. "É mentira". IN: A Offensiva, Rio de Janeiro: 12 de julho de 1934. (n°09) pp.3

[lxxxix] IDEM. "A Turquia Moderna". IN: A Offensiva, Rio de Janeiro: 05 de julho de 1934. (n°8) pp.3

[xc] IDEM. "O mistério persa". IN: A Offensiva, Rio de Janeiro: 24 de janeiro de 1935. (nº37) pp. 3

[xci] IDEM. "O fascismo nos EUA". IN: A Offensiva, Rio de Janeiro: 24 de maio de 1934. (nº2) pp.3

[xcii] CASCUDO, Luís da Câmara. "O hitlerismo invade os EUA". IN: A Offensiva, Rio de Janeiro: 31 de maio de 1934. (nº3) pp. 3

[xciii] IDEM.  Rede de dormir: uma pesquisa etnográfica. Rio de Janeiro: FUNARTE/Instituto Nacional do Livro/Achiamé; Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 1983 (2ª ed.).

[xciv] IDEM.  Coisas que o povo diz.  Rio de Janeiro: Bloch, 1968.

[xcv] IDEM. O tempo e eu.  O tempo e eu: Confidências e proposições. Natal, UFRN, 1998.

[xcvi] IDEM. "In hoc sigma vinces!". IN: A Offensiva, Rio de Janeiro: 11 de outubro de 1934. (nº22) pp. 2

[xcvii] CÂNDIDO, Antonio.  "Prefácio". IN:  CHASIN, José.  O integralismo de Plínio Salgado: forma de regressividade no capitalismo hiper-tardio.  São Paulo: Ciências Humanas, 1978.pp. 7.

 



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