CÂMARA CASCUDO NO SOLO SAGRADO DA MEMÓRIA

Mariana Giardini Beti
Bolsista de Iniciação Científica do Projeto Modernos Descobrimentos - PUC-Rio

Introdução

O projeto de pesquisa orientado pela professora Margarida de Souza Neves, que tem como título O Encantamento do Passado. Luís da Câmara Cascudo, Historiador, conclui mais uma etapa de seu desenvolvimento e esse relatório é mais um de seus frutos.
Iniciado em março de 2001, o projeto tem como principal objetivo trabalhar com o lado menos conhecido de um dos maiores folcloristas do Brasil, Luís da Câmara Cascudo, na cultura brasileira: seus caminhos percorridos no campo da História.

O projeto, que envolve o trabalho de uma equipe que foi formada pela Coordenadora do Projeto Professora Margarida de Souza Neves, contando com a participação de Heloisa Serzedello Corrêa (mestre professora do Departamento de História da PUC-Rio, pesquisadora em caráter voluntário a partir de agosto de 2000) e Silvia Ilg Byington (mestre em História a partir de fevereiro de 1999, professora do Departamento e pesquisadora da equipe a partir de março de 2000). Constituem ainda este grupo, Mirella De Santo Faria (formada em História pela PUC-Rio em julho de 2001), Luiza Laranjeira da Silva Mello, Tatiana Moreira Campos Paiva, Camila Lembo Ribeiro e Isabel Tibiriçá (todas graduandas em História pela PUC-Rio com bolsa de iniciação científica CNPq- quotas do Projeto Integrado de Pesquisa, PIBIC e FAPERJ).

O objetivo pretendido é aprofundar o que pode representar a história no conjunto da produção de Cascudo e em seu perfil intelectual. Trata-se de verificar o sentido e o alcance de sua produção historiográfica múltipla no conjunto de seu projeto intelectual. A hipótese de trabalhar com Cascudo Historiador efetivou-se ao longo do desenvolvimento de um projeto de pesquisa anterior quando pudemos verificar que Cascudo publicou diversos livros de cunho histórico e que faz de suas obras – sobretudo de seu trabalho como folclorista e etnógrafo – uma forma de descobrir o Brasil, na medida que desenha uma identidade para o Brasil e para os brasileiros. Essa produção historiográfica ou relacionada com a história foi classificada por nós em quatro grandes conjuntos, sendo que meu interesse é pelas obras memorialísticas desse autor, percebendo sua relação com a história.

Meu particular estudo no presente relatório pretende relacionar memória e história, com base nos livros memorialísticos e de história de Cascudo, demonstrando a contradição existente na sua maneira de fazer História e a estória que faz de sua própria vida.
Quando analisamos a obra de Cascudo percebemos que o autor utilizaria o registro memorialístico para a construção de sua persona, como se antevisse uma possível consagração futura, e ao mesmo tempo para desenhar uma identidade para o Brasil, ao construir uma memória coletiva para o país. Cascudo assim constrói sua própria memória e, ao fazer isso, estabelece uma relação com a história na medida em que ao narrar sua própria vida revela, tanto pela seleção daquilo que inclui nesses textos quanto por seus silêncios e omissões, como se vê a si próprio na história vivida, como lê o tempo em que lhe toca viver, como relaciona os diversos espaços por onde circula, como entende a função do intelectual na vida social. Enfim, como vê a história passar por dentro de sua própria vida e como percebe o sentido histórico de sua existência.

A relação entre memória e história é um tema, que nos dias de hoje, aparece com grande freqüência nos trabalhos de diversos historiadores, tendo despertado meu interesse. Não é difícil perceber a existência de uma relação aparentemente natural entre esses dois campos, já que para ao fazer história estamos permanentemente recorrendo à memória, e ao mesmo tempo ao fazer história estamos construindo uma memória para o futuro. A relação entre os dois campos é de tal forma direta que permite a confusão dos conceitos e os limites da fronteira de quando uma lembrança deixa de ser memória e torna-se história podem se confundir. A memória é a matéria-prima da história, que em conseqüência é o encadeamento dos fatos memoráveis. Assim, a história é uma seleção da memória e é também sua forma acadêmica. Mas não podemos esquecer que a própria memória é seletiva, já que não lembramos de tudo que aconteceu. Não podemos cometer o erro de confundir esses dois conceitos, atitude freqüente, na medida em que o ofício do historiador é construir memória, ou podemos dizer que a matéria prima do historiador é a memória.
Jacques Le Goff aponta que os conceitos de memória e história tendem a se confundir até os dias de hoje. Esse autor nos lembra que, como leitura do real, a história é sempre construção da memória coletiva, e nela, como em toda memória, entrecruzam-se o “objetivo e o subjetivo; o registro e a criação; a lembrança e o esquecimento.”[1]

Mesmo com as dificuldades inerentes ao fato de lidarmos com conceitos polissêmicos tais como memória e história, é importante a tentativa de definir as noções centrais para o trabalho. A memória é, para alguns, uma faculdade de reter idéias, impressões e conhecimentos adquiridos anteriormente, é natural do homem, intrínseca a ele. Já a história é uma ciência e método que permite adquirir e transmitir conhecimento, ou seja, depende de uma elaboração humana.
Problematizando a questão da memória, Jacques Le Goff, consagrado historiador medievalista francês contemporâneo, define memória em seu artigo para Enciclopédia Einaudi como “não só a ordenação de vestígios, mas também a releitura desses vestígios.[2]
Ou seja, a memória não é somente lembrança e esquecimento, ela é também – e principalmente - uma construção. E o que seria a história? De acordo com o mesmo autor, algo bem parecido com o conceito de memória:

existem dois tipos de história: por um lado, a história a que chama ‘objetiva’ e que é a série de fatos que nós, investigadores, desenvolvemos e estabelecemos com base em certos critérios objetivos universais no que respeita às suas relações e sucessões e por outro lado, a história a que chama ‘ideológica’ e que escreve e ordena esses fatos de acordo com certas tradições estabelecidas”.[3]

História e memória também se aproximam na medida em que para se fazer história recorremos a todos os lugares de memória existentes. Pierre Nora, outro historiador francês contemporâneo que refletiu sobre esse tema, aponta em seu texto “Entre a memória e a história. A problemática dos lugares”[4] que nos dias atuais não existe mais memória, já que para este autor a memória verdadeira se encontrava presente apenas nas sociedades ditas primitivas, sem a escrita. O autor afirma que nos dias atuais possuímos apenas lugares de “memória”, conceito que propõe e que remete aos espaços físicos ou simbólicos em que a sociedade e os homens de nosso tempo procuram – voluntariamente - construir memória. Nas palavras dele:

A memória é a vida, sempre carregada por grupos vivos e, nesse sentido, ela está em permanente evolução, aberta à dialética da lembrança e do esquecimento, inconsciente de suas deformações sucessivas, vulnerável a todos os usos e manipulações, susceptível de longas latências e de repentinas revitalizações. (...) A memória é um fenômeno sempre atual, um elo vivido no eterno presente.”[5]

Aproximando os dois autores, de acordo com Le Goff a memória da sociedade reside simultaneamente nos depositários da história objetiva e da história ideológica. E, segundo Nora, essa memória encontra-se em lugares específicos, os lugares de memória. Assim, mesmo sem serem sinônimos perfeitos, memória e história apresentam uma íntima relação: como a memória é seletiva, a história também o será. Assim como a memória é construção, “fiel e móvel”, segundo Le Goff, a história também o será. A memória, como a história, é um campo no qual se cruzam esquecimento e lembranças, invenção e registro, projeto e identidade, ficção e realidade.
Esta estreita relação entre história e memória pode ser claramente identificada nas obras de Cascudo. Percebemos, ao longo da pesquisa como já foi dito, por um lado uma enorme preocupação do autor na formação de uma memória coletiva, construindo assim uma identidade brasileira e, em particular, um projeto para o Brasil na perspectiva do pensamento conservador brasileiro; quanto, por outro lado, a publicação de vários livros e outros escritos onde pretende deixar fixada uma memória pessoal, ou seja, textos escritos para a construção de sua persona de intelectual polifacético, reconhecido internacionalmente e cioso de seu lugar provinciano no cenário intelectual brasileiro.
Esse aspecto da produção de Câmara Cascudo, identificado pelo grupo de pesquisa como uma recorrente preocupação com o reconhecimento futuro do que ele pretendia representar na vida cultural de seu país, não causa estranhamento. Novamente recorro a Le Goff, que nos diz que:

A memória foi posta em jogo de forma importante na luta das forças sociais pelo poder. Tornar-se senhores da memória e do esquecimento é uma das grandes preocupações das classes, dos grupos, dos indivíduos que dominaram e dominam as sociedades históricas. Os esquecimentos e os silêncios da história são reveladores desses mecanismos de manipulação da memória coletiva”. [6]

Memória e História Pessoal
O maior interesse desse pesquisador e estudioso da cultura popular é resgatar o passado e registrá-lo como tradição, fazendo folclore e etnografia. A tradição representa muito mais que o passado, representa a possibilidade de encontrar uma “origem” – conceito caro a Cascudo e que, mais que a localização de uma temporalidade originária do Brasil e dos brasileiros significa a identificação das relações de nossa cultura com a cultura universal - e, para captá-la Cascudo torna-se um homem-memória. A hipótese que pretendo desenvolver é que o poder que é inerente a um homem-memória reconhecido como tal pela sociedade em que se insere fez com que Cascudo se preocupasse constantemente e intensamente com a memória que iria deixar de si mesmo, negando, de certa forma, toda sua filosofia acerca do que é fazer história. Mas para um maior embasamento dessa hipótese, precisamos primeiro saber quem foi Cascudo, e em seguida o que ele entendia como o labor do historiador.

Luís da Câmara Cascudo, mais conhecido como folclorista e etnógrafo, talvez devido a sua obra fundamental que é O Dicionário do Folclore Brasileiro[7], texto de consulta obrigatória para todos que se interessam pela cultura popular nacional, chegou a escrever mais de 150 livros, nos deixando a certeza de que possuía uma enorme preocupação com o registro escrito. E os caminhos por ele percorridos não ficaram presos ao folclore: considerado um autor polígrafo, Cascudo possui escritos de cunho memorialístico, histórico, biográfico, muitas biografias, literatura, e é claro, folclore e etnografia. Nas horas vagas, como registra em sua memorialística, Cascudo era um pesquisador incansável e um correspondente compulsivo.
Cascudo, que é natalense, nasceu a 30 de dezembro de 1898, na antiga Rua das Virgens, no Bairro da Ribeira. Seu pai, o Cel. Francisco Cascudo, era um dos homens mais ricos de Natal, logo cedo deu todo apoio ao interesse pelas letras do seu filho, adquirindo obras, até no estrangeiro e fundando um Jornal, "A Imprensa", para que o curioso jovem pudesse desenvolver suas qualidades intelectuais de escritor.
Como relatam seus biógrafos, Luís da Câmara Cascudo freqüentou a Faculdade de Medicina da Bahia até o 4° ano, e depois mudou de carreira freqüentando o curso de Direito, na Faculdade de Direito do Recife. Segundo ele próprio afirmava em seus relatos memorialísticos, nunca exerceu a profissão de advogado, no entanto, com os conhecimentos adquiridos no curso universitário e os estudos posteriores que realizou, tornou-se professor emérito.
Foi sua a iniciativa de fundar a Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, e o ato fundacional dessa instituição que reunia e reúne os letrados norte-riograndenses realizou-se em sua própria residência, a 14 de novembro de 1936. Anos mais tarde, fundou a Sociedade Brasileira de Folclore, em Natal, da qual foi o presidente. Pertenceu a todos os Institutos Históricos e Geográficos do Brasil, inclusive o do Rio Grande do Norte, onde era Sócio Benemérito. Era associado a várias entidades culturais do Brasil e do exterior, além de possuir várias condecorações e títulos honoríficos.
O autor múltiplo e polígrafo, era na intimidade famoso por passar as noites em claro, lendo e escrevendo, por isso, nunca atendia visitantes na parte da manhã. Especialmente nas últimas décadas de sua longa vida, havia verdadeira romaria de personalidades, estudiosos, estudantes ou, simplesmente de curiosos que desejavam conhecer o grande mestre. A todos – faz questão de sublinhar em seus livros de memória – ele atendia com benevolência, embora já estivesse no fim de sua longa vida:

Aos 70 anos sinto ao derredor de mim, não la rebelión de las massas, de Ortega Y Gasset, mas a indisciplina do material de outrora fiel ao meu comando. (...) Pernas, dedos, olhos, servem precariamente, em visível e parcial ignorância ao imperativo da Vontade, ineficiente para a obediência muscular.[10]

Repete uma e outra vez que sempre tinha à mão caneta e folhas de papel nas quais as questões a serem estudadas, os dados pesquisados, as referências iam sendo anotadas. E, enquanto tirava longa baforada de seu charuto, ia respondendo as questões de seus interlocutores, escrevendo compulsivamente, lendo, produzindo seus livros e artigos.
Como podemos contar um pouco da história de uma pessoa que já faleceu? Como podemos dizer que Cascudo tinha a personalidade excêntrica pela qual ficou famoso, com mania de fumar charutos e responder a todas as cartas? A única forma de conseguirmos escrever uma pequena biografia que seja, de qualquer pessoa, inclusive a de Cascudo, é recorrendo à memória e à documentação histórica. E para isso existem vários caminhos: contato com familiares e amigos ainda vivos, relatos que o próprio autor deixou por meio de vídeos, cartas, fotografias, sua casa, seus livros, etc. Como diria Nora, ao circular pelos lugares de memória – no caso, da memória individual - é possível identificar as pegadas de uma história de vida.
No caso de Câmara Cascudo, conhecer sua personalidade – ou ao menos a versão dessa personalidade que quis deixar para a posteridade – não é uma tarefa difícil. No decorrer da pesquisa pudemos perceber a enorme preocupação do autor em deixar uma memória construída de si mesmo.
Cascudo escreveu livros e artigos de cunho memorialístico, e quatro deles foram recentemente republicados em Natal, por ocasião do centenário de seu nascimento em 1998 e que se intitulam: O tempo e eu, publicado originalmente em 1968; Pequeno Manual do doente aprendiz: notas e imaginações, livro de 1969, escrito por ocasião de sua internação hospitalar para tratamento de saúde; Na ronda do Tempo: diário de 1969, publicado em 1971; e Ontem: imaginações e notas de um professor de província, o último a ser publicado, em 1972, portanto, quando o autor já completara seus 74 anos de idade. Na maioria destes livros encontramos pequenos flashes de memória que registram, como ele mesmo diz, “encontros sucessivos com pessoas e coisas, pensamentos e paisagens, idos e vividos[11]. Chamadas por ele de “peregrinação ao derredor de mim mesmo[12], as obras marcam passagens de sua vida que constituem o seu universo de memória afetiva. Somente com a leitura destes livros temos acesso ao registro que fez de passagens significativas de sua vida, e, como sempre nas obras memorialísticas, uma expressiva seleção das lembranças de Cascudo.
Outra importante característica é perceber que todos estes livros memorialísticos foram escritos depois de 1968, ou seja, Cascudo já estava com 70 anos, e escreve suas memórias para estas tivessem sua assinatura e o peso de sua autoridade intelectual , como se assim fosse possível preservar sua imagem do atrito do tempo, garantir sua própria marca autoral na fixação de sua trajetória como homem e como intelectual e revestir com sua própria autoridade de etnógrafo nesses anos já respeitado nacional e internacionalmente na versão que dá de si mesmo.
É importante chamar a atenção para o fato, muito expressivo, de que num momento particularmente tenso e conflitivo para a sociedade brasileira – o final dos anos 60 -, Cascudo, que convém não esquecer foi o coordenador do integralismo no nordeste na década de 30 e sempre manteve a marca de um pensamento fortemente conservador em sua visão de mundo, em seus escritos e em sua inserção na sociedade, parece querer isolar-se da cena pública, e fechar-se em sua casa para escrever suas memórias.
Como o título da pesquisa, “O encantamento do passado”, sugere, utilizando, aliás, uma expressão do próprio Cascudo, é possível atribuir à escrita – e em especial à escrita autobiográfica - um certo poder de encantamento, uma vez que a palavra escrita parece ter o dom de suspender o tempo, de cristalizar o vivido, de encantar o passado e de eternizar o que é manuscrito e publicado. Não sem motivos Jacques Le Goff, afirma que:

O conceito de memória é crucial[13]. Le Goff sustenta que o “uso das letras foi descoberto e inventado para conservar a memória das coisas. Aquilo que queremos reter e aprender de cor fazemos redigir por escrito a fim de que o que se possa reter perpetuamente na sua memória frágil e falível, seja conservado por escrito e por meio de letras que duram para sempre. Como sabemos, toda memória humana é instável e maleável, enquanto que a memória das máquinas se impõe pela sua grande estabilidade, algo semelhante ao tipo de memória que representa o livro”.

A “fragilidade da memória individual é maior do que a coletiva. A imprensa revoluciona, embora lentamente, a memória ocidental. (...) Com o impresso não só o leitor é colocado em presença de uma memória coletiva enorme, cuja matéria não é mais capaz de fixar integralmente, mas é freqüentemente colocado em situação de explorar textos novos. Assiste-se então à exteriorização progressiva da memória individual; é do exterior que se faz o trabalho de orientação que está escrito no escrito.”[14], continua a argumentar Le Goff.

Constatamos que essa forma de registrar através da escrita é o que Cascudo cuidadosamente faz: escreve livros memorialísticos no final de sua vida, com 70 anos.
Então podemos levantar a hipótese que Cascudo estava criando, ao escrever livros memorialísticos, o seu lugar de memória, consagrando este lugar, pois como Nora afirma:

Se habitássemos ainda nossa memória, não teríamos necessidade de lhe consagrar lugares.” [15]

Um exemplo muito importante da preocupação de Cascudo em deixar sua persona devidamente construída está num artigo, publicado num número especial da revista Província em 1968, ano da comemoração dos cinqüenta anos da atividade de Cascudo como escritor, e que intitula-se “Um Provinciano Incurável”, onde ele diz:

Nasci na Rua da Virgens e o Padre João Maria batizou-me no Bom Jesus das Dôres, Campina da Ribeira, capela sem torre mas o sino tocava nas Trindades ao anoitecer. (...)
Nunca pensei em deixar minha terra.
Queria saber a história de todas as cousas do campo e da cidade. Convivência dos humildes, sábios, analfabetos, sabedores dos segredos do Mar das Estrelas, dos morros silencioso. Assombrações. Mistérios. Jamais abandonei o caminho que leva ao encantamento do passado. Pesquisas. Indagações. Confidências que hoje não tem preço. Percepção medular da contemporaneidade. Nossa casa no Tirol hospedou a Família Imperial e Fabião das Queimadas, cantador que fora escravo.(...) Filho único de chefe político, ninguém acreditava no meu desinteresse eleitoral. Impossível dividir para mim conterrâneos em cores, gestos de dedos, quando a terra é uma unidade com sua gente. Foram os motivos de minha vida expostos em todos os livros. Em outubro de 1968 terei meio século nessa obstinação sentimental.”

Esta citação revela quem era Cascudo de acordo com o próprio autor. Ele a escreve num momento de consagração de sua vida e nos mostra como gostaria de ser visto. Nela podemos perceber que Cascudo sublinha sua origem sertaneja, e a pertença a uma linhagem de homens de bem. É nítida também sua identificação com a cidade de Natal, relação essa com o Rio Grande do Norte que Cascudo sempre fez questão de frisar. Em alguns livros até mesmo chega a assinar “Luís Natal”.Como o próprio título do artigo menciona, é um “provinciano incurável”. Ao mesmo tempo em que Cascudo sublinha suas preferências, na qual sua opção apolítica é mencionada, percebemos alguns silêncios, pois Cascudo foi chefe do movimento integralista e possuía íntima relação com os militares nos anos 60. Traços fortes de seu conservadorismo.

História e memória coletiva
A memória é uma dimensão fundamental também nos livros de história de Câmara Cascudo, pois neles pretende dar forma a uma memória coletiva. No livro intitulado História do Rio Grande do Norte, que Cascudo publicou em 1955, o autor define que, para ele, o ofício do historiador é essencialmente o de informar e, portanto, o texto do historiador deve ser construído sob a forma de narrativa, sistematizando informações. O problema central que Cascudo identifica para o fazer historiográfico é o da verdade. Para que o historiador esteja comprometido com a verdade, com a transmissão de informação verídica ao leitor, ele não deve jamais seguir um modelo de história interpretativa, como veremos a seguir.
A maior paixão do autor era pelo tempo pretérito, tanto por fazer folclore e estar sempre resgatando e traduzindo nossa cultura popular, quanto por fazer história. Por muitos anos foi professor de História no Ateneu Norte Rio Grandense, e em suas palavras “Queria saber a história de todas as coisas do campo e da cidade”.[16]
A história, na obra de Cascudo, foi por nós classificada em cinco grupos de escritos.[17] Em primeiro lugar, sua produção voltada para a história em geral, e, particularmente, à história do Brasil. Em segundo lugar, seus escritos de história local e regional, dedicados à história do Rio Grande do Norte e da cidade de Natal. Em terceiro lugar, seus escritos biográficos de personalidades ilustres tanto do Rio Grande do Norte, como nacionais. Também encontramos, em quarto lugar, a história nos seus livros memorialísticos, e por último, num quinto grupo de trabalhos seu, nos livros em que Cascudo escreve sobre a “história das coisas miúdas”, a micro-história, o que para ele não são escritos historiográficos, mas sim estudos etnográficos e etnológicos como a História da Alimentação no Brasil[18], Jangada[19], A Rede de dormir[20], entre outros.
Para Câmara Cascudo a história pode ser pedagógica, e o é, de forma muito particular, em suas biografias exemplares. Nelas o autor nos mostra que a história é mestra da vida, assim como Cícero antes já dizia, retratando a vida de pessoas exemplares e servindo como modelos a seguir.
Mas a principal característica da história apontada por Cascudo é que ela deve ser sempre informativa. Quando diz estar escrevendo história em suas obras de História do Brasil, de história regional ou de história local, Cascudo adota a noção de que o historiador não deve interpretar, provar, julgar ou concluir coisa alguma: deve apenas narrar para informar, pois a interpretação leva à confusão entre dados históricos e a opinião pessoal do historiador. A interpretação também leva ao julgamento do passado, o que para Câmara Cascudo é imperdoável. Assume, portanto uma postura positivista em relação ao papel da história e do historiador, uma vez que pretende chegar à verdade dos fatos e considera essa verdade como um dado, e não como uma construção do historiador. Em seu livro Dois Ensaios de História, no qual o autor discute o acaso ou a intencionalidade no descobrimento do Brasil, aparece um exemplo dessa nossa constatação:

Não me convenci desses antecedentes, no exame demorado ás PROBANZAS DEL FISCAL, discutidas pelo Professor Duarte Leite, num exaustivo processo de confrontação onde a verdade deve emergir, forçosa e unicamente, da harmonia de depoimentos prestados pelos pilotos e capitães (...) Como fui advogado, sei como conseguir a prova concreta da causa, o fato jurídico, aceitando ou contrariando narrativas testemunhais, sentido-as na legitimidade da expressão, imagens indiscutíveis da exatidão ou da fraude, com as agravantes da premeditação”.[21]

Nas palavras de Cascudo: “Pareceu-nos essencial divulgar o conhecimento do Passado tendo pouco interesse na fixação de comentários pessoais, sempre discutíveis. Procura-se, na forma interpretativa, explicar a razão de acontecimentos e desenhar a psicologia dos homens que estiveram à frente dos sucessos antigos. Certamente, não é possível essa explicação, que o bizantino Procópio dizia ser ‘os secretos motivos da ação’, porque o documento é suscetível de substituição. E não sabemos se expressa realmente o ângulo verídico dos fatos.”[22]

Cascudo faz história para “corrigir” o erro que todos os historiadores cometem: a interpretação. Mas nós historiadores sabemos que a interpretação é algo inerente ao fazer história, pois quem escreve é um ser-humano, com suas paixões e emoções, seu ponto de vista.
Para Cascudo, o historiador tem que se dedicar a um trabalho de sistematização e narração de fatos históricos, e tem como objetivo principal informar o leitor do que realmente aconteceu. Este historiador está comprometido com uma concepção de verdade positiva, a verdade como dado. A história é concebida como um milagre da ressurreição do passado:

“(...) Deputado Provincial no biênio 1888/89, João Onofre sabia, como hoje saberão ainda três homens: - Felirito Elísio, no jardim do Seridó, Cipriano Santa Rosa, do Acari e Romão Filgueira, em Mossoró, narrar e ressuscitar os fatos pretéritos. Creio dever – lhe, nos meus onze anos atônitos, as primeiras ondas da paixão pela História, seus detalhes, minúcias, recortes, episódios”.[23]

Com essa concepção de história Cascudo escreve seus livros, e fundamenta sua autoridade histórica numa forma peculiar de convivência. Ele narra a história do lugar em que vive. O tempo passado do Rio Grande do Norte está contido no tempo presente, tempo em que vive Cascudo, ainda que essa presença seja transcendente ou supra-real. As lacunas desse tempo passado, que o habitante comum do Rio Grande do Norte não é capaz de preencher, são preenchidas por Cascudo, que para isto está habilitado tanto por ser letrado e dominar o “método histórico”, quanto por ter sido nascido e criado no espaço cuja história escreve. Sua trajetória individual e sua memória pessoal, familiar e de nordestino legitimam seu fazer historiográfico, portanto. Por essa razão Cascudo nunca escreveu uma História da cidade de São Paulo, ou do Rio Grande do Sul, porque escreve uma história que se legitima sobre aquilo que é o solo de sua memória.

Com essa concepção positivista de história :“a História não confidencia suas escolhas nem delega aos vivos o direito de prejulgar – lhe o veredictum. Ninguém sabe qual a página que ficará. Não há poder humano capaz de escolher seu lugar na História. Nenhuma assembléia, congresso erudito, associação de sábios, conselho de sumidades, derrota a imortalidade que a História dedica aos que marcou em seu juízo supremo.
Muitos homens ficam imóveis e graves durante anos e anos, em seu altar histórico.
Um documento ignorado tempos longos, amarela para derrubar o ídolo, como um raio despedaça um boneco de barro. Por isso, chamava a História, Luz da Verdade, luz veritatis...
No movimento abolicionista, os chefes dos clubes, os jornalistas, os diretores da opinião, os tributos que empolgavam O POVO, vêm na frente das citações como bandeiras flamejantes abrindo a marcha da procissão. Muitos nomes escuros desapareceram e se apagaram embora, em dadas ocasiões fossem vibrantes e rebocadores como uma trovoada de verão. Durante um momento, certos homens foram decisivos, completos, incrivelmente úteis. Depois ninguém se recorda mais”.[24]

Nessa citação transparece a agonia de Cascudo com os silêncios injustos que a história pode cometer. Ao mesmo tempo em que a história pode levar um homem à glória, ela também o pode destruir. Tudo depende dos documentos que serão achados pelos historiadores do futuro, segundo Cascudo, se o historiador não interpretar, não interferir. E por isso também a importância de registrar a memória, pois se nada de concreto for achado ninguém “recordará”.
E com o medo do esquecimento que esta concepção carrega consigo, como já foi dito inúmeras vezes, Cascudo prepara sua memória. Mas a contradição fundamental que mais me surpreendeu foi a de um historiador convicto de que podemos encontrar a verdade ao mergulharmos nos arquivos, não obedecer a essa convicção em relação a sua própria. Cascudo “acredita” que fazer história é ressuscitar a verdade, mas com a história de sua própria vida ele faz o contrário: ele forja a verdade, ele constrói a memória que ele desejaria ser encontrada. Ao selecionar a memória de sua vida, Cascudo está interferindo na matéria prima de sua história. O que se evidencia é que Cascudo adivinhando os processos de como é feita a história já deixa pronta à memória o que deseja que se recorde.
Os arquivos, são para Cascudo, a “casa da História[25], segundo o artigo escrito por Câmara Cascudo titulado "A Função dos Arquivos". Neste artigo Cascudo nos apresenta sua visão sobre os arquivos históricos e qual é o papel desses documentos para estudos futuros. O destino dos arquivos é guardar os elementos para a posteridade com o intuito de se construir a memória dos acontecimentos. É nos arquivos que o historiador encontrará o que precisa para relatar o passado construindo o futuro. Entretanto devemos mencionar que este não é o trabalho para qualquer historiador, afinal este tem que ser honesto suficiente para não interpretar os fatos modificando-os. Nos arquivos estão as informações que Cascudo considera como o elo entre o passado e o futuro, e cabe àquele que os interpretar que sejam honestos para que a posteridade possa ter mais proveito.
Anna Stegh Camati, Doutora em Língua e Literatura Inglesa, reflete sobre os mecanismos da memória, e chega a conclusões que legitimam meu argumento:

A memória voluntária é processada no intelecto, que devido a sua tendência utilitária, está sempre censurando novas experiências e rejeitando todos os elementos que não se encaixam em suas idéias pré-concebidas. Esse mecanismo censor, no entanto, é necessário porque a realidade seria intolerável se tivéssemos que enfrentá-la como ela realmente é. Esta é a razão porque a nossa mente está sempre adaptando, falsificando e forjando falsas evidências para ajustar nosso organismo as condições de sua existência. Esta adaptação é realizada através da memória voluntária, que recupera as impressões do passado que foram formadas consciente ou inteligentemente. As imagens selecionadas por esse processo são tão arbitrárias quanto as da imaginação, e igualmente remotas da realidade[26].”

A autora, que no momento dedica-se ao estudo da memória, nos mostra que esses mecanismos de seleção que todos fazemos constantemente, não passam de defesa. É uma explicação que faz da ação contraditória de Cascudo algo não tão absurdo. É claro, que o fato de Cascudo ter escrito e publicado livros de memória foi o que o fez ser contraditório, pois a autora refere-se ao ato natural de estarmos sempre editando nossa memória.
Cascudo escreve inúmeras crônicas. Dedica-se ao ofício de cronista durante 50 anos, tempo em que foram diariamente publicadas, em vários órgãos da imprensa de Natal, em especial no jornal A República. A maioria delas são somente biografias de velhas figuras, que foram compiladas e transformadas recentemente em livros por iniciativa do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte: até agora já foram publicados 6 volumes, mas 4 outros já estão a caminho.
A finalidade desses escritos ele mesmo define para seus leitores: “As coisas desapareceram. A memória ficou. Esse livro ressoa como a voz da História trazendo a Justiça de Deus.”[27] Sua preocupação com o esquecimento é algo notável, e uma constante em sua obra que será analisada na próxima etapa do trabalho. Cabe aqui destacar apenas que Câmara Cascudo parece sugerir ser, através de seus escritos, instrumento da divindade para preservar da morte definitiva o que pode permanecer vivo pelas artes da memória.

Conclusão
As conclusões do trabalho são apenas provisórias. No entanto cabe destacar, desde já a contradição entre, por um lado, uma memória, que para ele, é resgate e recuperação do passado e parece ter uma função fundamentalmente interpretativa, uma vez que pela seleção que opera, pela versão que fixa e pelo julgamento moral que leva consigo se erige como instrumento, nada menos, que da justiça divina, vencendo assim a própria morte e, por outro lado, uma história que afirma sua isenção interpretativa e seu caráter meramente informativo.
Apesar dessa aparente imensa contradição na história de vida de Cascudo e na história que escreve, sabemos que todos nós estamos preocupados com os nossos “cinco minutos de fama”. E, talvez com a preocupação de uma perenidade maior e mais controlada por ele mesmo para sua memória pessoal e para a memória daqueles que considera exemplares Cascudo, um intelectual do Rio Grande do Norte, atuando numa cidade distante dos centros urbanos mais populosos e de ressonância para o país como um todo, autor de um número tão grande de publicações, no final de sua vida decide construir sua persona para seus futuros leitores.
Foucault aponta:

A História, como se sabe, é efetivamente a região mais erudita, mais informada, mais desperta, mais atravancada talvez de nossa memória; mas é igualmente a base a partir da qual todos os seres ganham existência e chegam à sua cintilação precária.”[28]

Esse talvez seja o resumo do argumento principal que justifica seu esforço memorialístico e forneça a chave de leitura de suas memórias pessoais, das memórias exemplares que escreve e da memória coletiva que pretende deixar para a posteridade. Ao desenvolvimento desse argumento, referido à base empírica constituída por seus livros de memórias, pretendo dedicar meu trabalho futuro na etapa final do projeto.

BIBLIOGRAFIA:

CASCUDO, Luís da Câmara. Dois Ensaios de História. Natal, Imprensa Universitária do Rio Grande do Norte, 1965.

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SOUZA, Itamar de. Câmara Cascudo – Vida e Obra. Ed. O Diário, Natal, 1998.


[1] Jacques Le GOFF “Memória” IN: Enciclopédia Einaudi, vol.1 Imprensa Nacional da Casa da Moeda, 1984, p.14.
[2] Idem, Ibidem, p.16.
[3] Idem, Ibidem, p.11.
[4] Pierre NORA: “Entre a Historia e a memória. A problemática dos lugares” IN: Revista Projeto História n°10, São Paulo, Educ, 1981.
[5] Idem, Ibidem, p. 8 e 9.
[6] Jacques Le GOFF “Memória” IN: Enciclopédia Einaudi, vol.1 Imprensa Nacional da Casa da Moeda, 1984, p.13.
[7]89 CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. São Paulo, 1988.
[10] CASCUDO, Luis da Câmara. Na Ronda do tempo: Diário de 1968. Natal: EDUFRN, 1998, p.16.
[11] Luís da Câmara CASCUDO: O tempo e eu. Confidências e proposições. Natal, Imprensa Universitária, 1968, p.17.
[12] Idem, Ibidem, p.15
[13]: Jacques Le GOFF “Memória” IN: Enciclopédia Einaudi, vol.1 Imprensa Nacional da Casa da Moeda, 1984, p.11.
[14] Idem, Ibidem, p. 34 e 35.
[15] Pierre NORA: “Entre a Historia e a memória. A problemática dos lugares” IN: Revista Projeto História n°10, São Paulo, Educ, 1981, p.8.
[16] CASCUDO, Luís da Câmara. “Um provinciano incurável.”IN: Revista Província n 2. Natal, UFRN/IHGRN, 1998 (re-edição do número especial sobre Câmara Cascudo, editado em 1969). p.5
[17] NEVES, Margarida de Souza. “Artes e ofícios de ‘um provinciano incurável’” IN Projeto História n. 24. São Paulo, Educ, 2002.
[18] CASCUDO, Luís da Câmara. História da Alimentação no Brasil. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1967.
[19] Idem, Jangada: uma pesquisa etnográfica. Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Cultura, 1957.
[20] Idem, Rede de dormir: uma pesquisa etnográfica. Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Cultura, 1959.
[21] CASCUDO, Luís da Câmara. Dois Ensaios de História Natal, Imprensa Universitária do Rio Grande do Norte, 1965, p.3.
[22] Luís da Câmara CASCUDO: História do Rio Grande do Norte. Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Cultura, 1955, p.7.
[23] CASCUDO, Luís da Câmara. O Livro das velhas Figuras (vol. 1) Natal, Ed. do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, 1974, p.92.
[24]CASCUDO, Luís da Câmara. O Livro das Velhas Figuras (vol. 4).Natal, Ed. Do IH6/RN, 1978, p. 27.
[25] Idem, "A Função dos Arquivos". Separata da Revista do Arquivo Público, ano 7 a 10, n.9-12. Recife, Arquivo Público, 1952-1956, p.1.
[26] - CAMATI, Ana Stegh. “Peça de memória”. IN Portfólio. SL, Sutil Companhia de Teatro, [2001]. p.7.
[27] CASCUDO, Luísa da Câmara. . O Livro das Velhas Figuras (vol. 4).Natal, Ed. Do IH6/RN, 1978, p. 90.
[28] FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas. São Paulo, Martins Fontes, 2002, p.300.

 



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