CÂMARA CASCUDO, Luis da:
Literatura Oral no Brasil . Belo Horizonte, Ed. Itatiaia ; São
Paulo, Ed. da Universidade de São Paulo, 1984, 3ª ed.;
por Mirella Farias
• Ementa:
"Literatura Oral no Brasil" foi
finalizado em março de 1949 e publicado em 1952. Segundo o autor atendia
ao plano da Informação e não "exibição". (p.11) Foi publicado também,
numa coleção organizada por Álvaro Lins sobre a História da Literatura
brasileira. ( História da Literatura . Rio de janeiro: José
Olympio Editora, tomo VI, 1952.)
Livro composto por dez capítulos não
intitulados e subdivididos em itens. O primeiro capítulo aborda a
temática da literatura oral, enfatizando sua importância e valor no que
se refere ao estudo e entendimento da mentalidade popular. Aponta,
também, para algumas questões chave que estarão presentes no decorrer do
livro: a existência de duas Literaturas paralelas – Literatura oral e
Literatura escrita, a primeira ignorada e a segunda reconhecida pela
notoriedade; a questão da origem e os embates teóricos e metodológicos
em torno dessa perspectiva de busca de uma fonte inicial [ método atual
X método anterior] ; as contraposições entre regional – universal, elite
letrada – povo ; assim como, a influência das três raças (portugueses,
africanos e índios) na formação brasileira.
O segundo capítulo desenvolve os temas e
elementos que abrangem a literatura oral – canto, dança, mito, lenda,
adivinha, anedota ...
No terceiro, quarto e quinto capítulo, o
autor procura enfatizar a contribuição dos três elementos (branco, negro
e indígena) na constituição da cultura brasileira, "Participação"
indígena, "Sobrevivência" negra e "Permanência" portuguesa; chamando
atenção para a influência decisiva do colonizador nesse processo.
O sexto capítulo aborda a questão da
permanência dos romances impressos e suas variantes. O sétimo capítulo
trata a questão da narrativa popular (ambiente, narradores, recursos
utilizados para a exposição das estórias ...) destacando, os métodos de
sistematização do conto. O oitavo capítulo apresenta uma "pequena
antologia do conto popular brasileiro", abordando seus diferentes tipos.
No penúltimo capítulo a poesia oral é enfocada a partir dos seus
diversos gêneros, tipos e modelos. Já o ultimo capítulo, dá destaque aos
autos populares brasileiros e as danças dramáticas.
• Interlocução:
Etnógrafos:
- Clássicos da etnografia: Frazer
(145,239), Saint Yves (25,31, 32,129,176), Paul Sebilot (23); Van Gennep
(32,36,90,98); Mistral (116), Reinhold Kohler(p.17,185), Miss
Charlotte-Sophie Burne (25), Alexandre Haggerty Krappe (25,32), Prof. R.
S. Bogg (26,32), Emile Dominique Nourry (31), Frobenius (31, 163),
Raffaele Corso, André Varagnac, Robert R. Marret (32), Erich M. von
Hornbostel (44), M. J. Herskovits (44), Weldon Johnson(44), Walter
Williamson (44), Stradelli (78), Antti Aarne (90,179,243,255) Stith
Thompson (227,246,255,260).
- Etnógrafos portugueses: J. Leite de
Vasconcelos (61,116,168); Teófilo Braga (54,66,117,167,168,174,258),
Joaquim Ferreira (44),
- Etnógrafos espanhóis e
hispano-americanos: Augusto Raul Cortazar (25,32), Ismael Moya (32),
Jesus C. Romero, Nieves de Hoyos Sancho (32), Afonso Reyes (33),
Lehmann-Nitsche (66,118), Liodoro Flores (66), Aden Mason (66), Aurelio
M. Espinosa (157,246,255)
- Autores citados como etnógrafos
brasileiros: Pereira da Costa (PE - 18,42,62,209,210 ), João Ribeiro
(18),Leonardo Mota (18,246) , Sílvio Romero (17,42,174,209,257,369),
João Ribeiro (18,42,55, 59), Lindolfo Gomes (18,63,230,257), Gustavo
Barroso (18,43,230,369), Artur Ramos (18,144,164), Silva Campos
(18,164), Basílio de Magalhães (18,33,162,257), Renato Almeida
(28,40,49,377), Amadeu Amaral (33), Oneyda Alvarenga (48), Teodoro
Sampaio (84-85),
- Dicionários e obras de referência:
Moraes e Silva (29)
- Literatura; Camões (52,337); José de
Alencar (365), Gil Vicente (38,39,76,163,167), Machado de Assis (368),
Afrânio Peixoto, ,Kaarle Krohn (52,179,242)
- Clássicos: Shakespeare (172); Montaigne
(140),Cícero (19), Homero (53), Ovídio (88), Cervantes (193), Santo
Agostinho (352)
- Historiadores e cientistas sociais:
Menendez y Pelayo (17,185),Capistrano de Abreu (82,87,103), , Nina
Rodrigues (93) Heródoto (88).
- Bíblia: (52)
- Documentação Histórica: Pero Vaz de
Caminha (38), Anchieta (80,107), Fernão Cardim (107, 104,211,337).
- Relatos de viagem: Koster (96), Jean de
Lery (81,108), Frei Ivo d’Evreux (81,108), Gabriel Soares de Souza (82)
- Informantes : o pescador Chico-Preto
(Francisco Ildefonso, 1894-1966 p.48), Leandro Gomes de Barros
(1868-1918) ( p. 219,354) – poeta popular do nordeste, Hermenegildo F.
da Rocha ex-escravo – poeta popular norte-rio-grandense (359).
- Mario de Andrade: (40,370)
- Africanistas: Livingstone, Cameron,
Stanley, Burton, Savorgnan Brazza(154), Serpa Pinto (155)
- Não sei: Thomas Wright, D. Francisco
Manuel de Melo (254), Rodney Gallop (377), Jean Desy (377)
- Não sei onde colocar: Roquette Pinto
(139), irmãos Grimm (246), Melo Morais Filho (42,51)
• Fichamento:
[Introdução] pp. 15-20
- Traça um panorama da vida nas povoações
e fazendas nas duas primeiras décadas do século XX, destacando a questão
do poder que fundamentava as relações cotidianas nesses espaços. "(...)
O fazendeiro só faltava mandar nas estrelas e nos xexéus (...)" (p.15)
"(...) A instituição do compadrio era uma potência, determinando o
vínculo obrigacional sagrado entre o compadre rico e o compadre pobre
(...)" (p.15)
- Aponta a existência de duas Literaturas
Paralelas: "Literatura Oral – Literatura Escrita" [Oficial] . "Voltando
a Natal, fui para o curso secundário e pude ver a diferença entre as
duas Literaturas, ambas ricas, antigas, profundas, interdependentes e
ignorando as pontas comunicantes (...)." (p.16)
- Transita pelas duas Literaturas.
Literatura Oral, pela convivência (experiência provinciana). "Era
primeiro leite alimentar da minha Literatura. Cantei, dancei, vivi como
todos os outros meninos sertanejos do meu tempo e vizinhanças, sem saber
da existência de outro canto, outra dança, outra vida." (p.16)
"Compreendera a existência da Literatura Oral brasileira onde eu mesmo
era um depoimento testemunhal." (p.16) Literatura dita Oficial, pela
erudição (Biblioteca).Marca sua autoridade, justamente, por estar no
[meio da ladeira], entre a cultura popular (Literatura Oral – Povo) e a
cultura letrada (Literatura Oficial – Biblioteca). "Verifiquei a unidade
radicular dessas duas florestas separadas e orgulhosas de sua
independência exterior." (p.16)
- Faz referência a sua produção
intelectual e a projetos futuros. "Todos os volumes que tenho publicado
a partir de 1939 estudam gêneros da Literatura Oral, poesia, contos,
mitos, lendas, com bibliografia, classificação e sentido de
sistematização. Seguir-se-ão autos , com os textos musicais,
superstições, etnografia tradicional e Dicionário do Folclore
Brasileiro, onde se fará o possível de registo." (p.18)
- Apresenta um histórico dos intelectuais
que desenvolveram trabalhos relacionados a Literatura Oral e a
novelística. (p.17-18). Destaque para Silvio Romero. "As pesquisas da
literatura oral brasileira começa-as realmente o onipresente Silvio
Romero(...)." (p.17) "(...) abrindo a estrada na mata escura." (p.18)
- Destaca a importância da Literatura
Oral. "(...) este volume coloca diante do leitor letrado, do professor
de literatura, um material vivo, atual e poderoso, insusceptível de ser
negado, repelido ou rejeitado, tendo todos os poderes de tempo,
nascimento, resistência e contemporaneidade para considerar-se
proclamado em sua legitimidade indiscutida ao lado da outra literatura,
no auto da cátedra (...)" (p. 20)
- Vem datada e assinalada da seguinte
forma:
Terra de Iemanjá, em Pirangi, 6.
Cidade do Natal, 8 de março de 1949.
- Pp. 23-31 ( 1. Literatura oral, fontes.
2. O folclórico e o popular, características, processos de
despersonalização. 3. Objeto da Literatura Oral, utilização
universitária, valor cultural. 4. Vitalidade, presença popular. 5.
Limites, transmissão. 6. Elementos, prejuízos da unilateralidade
literária, ausência de registos maiores, dificuldade de técnica
pesquisadora e da decisão erudita. 7. Folclore e o estudo da mentalidade
popular e a Literatura Oral sua expressão.)
- Estabelece a diferenciação entre
Folclore e Produção Popular. "A literatura folclórica é totalmente
popular mas nem toda produção popular é folclórica. Afasta-a do folclore
a contemporaneidade. Falta-lhe tempo. (...)" (p.24) [ Folclore –
Antigüidade]
- Folclore – Antigüidade, Persistência,
Anonimato e Oralidade. " Os elementos característicos do Folclore
(...)." (p.24) "O folclore decorre da memória coletiva, indistinta e
contínua. Deverá ser sempre o popular e mais uma sobrevivência." (p.24)
[Folclore – Memória Coletiva – Persistência] "(...) tornar-se-ão
folclóricos quando perderem as tonalidades da época de sua criação."
(p.25) [ Folclore – Anonimato – "despersonalização"]
- Importância da Literatura Oral. Enfatiza
a necessidade de reconhecimento dessa temática nas universidades. (p.26)
- Literatura Oral X Literatura Oficial.
Literatura Oficial – subordinada a vaidade, busca sempre homenagens.
Literatura Oral – modesta e ignorada. "A literatura oral é como se não
existisse. Ao lado daquele mundo de clássicos, (...) digladiando-se,
discutindo, cientes da atenção fixa do auditório, outra literatura, sem
nome em sua antigüidade, viva e sonora, alimentada pelas fontes
perpétuas da imaginação, colaboradora da criação primitiva com seus
gêneros, espécies, finalidade, vibração e movimento, continua rumorosa e
eterna, ignorada e teimosa, como rio na solidão e cachoeira no meio do
mato." (p.27) Literatura Oral – desprendimento, sinônimo de vida.
Literatura Oficial – obediência. "A literatura que chamamos oficial,
pela sua obediência aos ritos modernos ou antigos de
escolas(...)expressa uma ação refletida e puramente intelectual. A sua
irmã mais velha, a outra, bem velha e popular, age falando, cantando,
representando, dançando no meio do povo, nos terreiros das fazendas, nos
pátios das igrejas (...)" (p.27)
- Referencia às três raças formadoras:
"Indígenas, Portugueses e Africanos". "A literatura oral brasileira se
comporá dos elementos trazidos pelas três raças para a memória e uso do
povo atual.(...)" (p.29)
- Afirma que a influência maior foi a do
colonizador. "O português deu o contingente maior. Era vértice de ângulo
cultural, o mais forte e também um índice de influências étnicas e
psicológicas. Espalhou, pelas águas indígenas e negras, não o óleo de
uma sabedoria, mas a canalização de outras águas, impetuosas e revoltas,
onde havia a fidelidade aos elementos árabes, negros, castelhanos,
galegos, provençais, na primeira linha da projeção mental. Passada essa,
adensavam-se os mistérios de cem reminiscências, de dez outras raças,
caldeadas na conquista peninsular em oitocentos anos de luta, fixação e
desdobramento demográfico. (...)" (p.29-30) [Português – Reagente]
- Método de trabalho: Traçar as origens,
porém não procurando delimitar uma fonte inicial, mas sim, o caminho
percorrido, percepção dos temas e elementos que convergem, que
coincidem, enfim que persistem em lugares distintos. Utiliza os termos,
"convergência, coincidência, presença, influência, persistência"
(p.30).(...) "Estuda-se a procedência pela mentalidade determinante mas
é preciso prever que essa ‘mentalidade’ já tinha sido adquirida pela
proximidade com elementos de outras civilizações (....). O típico, o
autóctone, continua tão difícil quanto a indicação definitiva dos tipos
antropológicos como constantes num determinado país." [regional –
universal] (p.30) "(...) O que era africano aparece sabido pelos gregos
e citado numa epígrafe funerária. (...) A bibliografia sempre crescente
empurra os horizontes da certeza. Ficamos dançando diante do assunto
assombrados pela multiplicidade das orientações, pela infinidade dos
sinais, apontando para a rosa- dos- ventos. Vezes paramos porque vinte
estradas correm na mesma direção." (p. 30-31) "(...) Só a visão de
conjunto, marcando nas cartas as zona de influência dará a idéia da
universalidade do tema pela sua assimilação nos inúmeros países
atravessados. E ninguém dirá, com segurança, se esse país foi
atravessado ou dele partiu o motivo que se analisa."(p.31)
II. Pp. 34-75 ( 1. Elementos e temas. 2.
Canto, dança, auto popular, dança dramática. 3. Mito, lenda, fábula,
tradição, conto. 4. Rodas infantis, parlendas, mnemonias. 5. Adivinhas.
6. Anedotas. 7. Outras espécies na literatura oral.)
- Conceitos centrais continuaram a ser
abordados na primeira parte do capítulo.
- Chama atenção para a dificuldade em se
fixar o local, nacional e próprio. "(...)Atualmente conhece-se a
dificuldade máxima em fixar o raro ‘local’ e o fugitivo ‘nacional’ no
que dizíamos ‘próprio’ e mesmo ‘característico’." (p.34)
- Afirma que a "fisionomia" de uma cultura
pode ser estabelecida a partir da percepção das "variantes". [elemento
central + elementos locais = variantes = fisionomia] "Essas variantes
são os enredos com diferenciações que podem trazer as cores locais,
algum modismo verbal, um hábito, frase, denunciando , no espaço, uma
região e no tempo, uma época." (p.34)
- Partes 2./3./4./5./6./7. – temas que
abrangem a literatura Oral (canto, dança, mitos, fábulas, lendas,
adivinhas ...).
- Cascudo observa turistas japoneses.
(p.36)
- Influência das três raças na formação
brasileira. "O canto e dança no Brasil são águas desses três estuários.
Serão possíveis as identificações influenciadoras? Podemos determinar os
elementos exclusivamente africanos, portugueses, ameríndios? (...)"
(p.40)
- Não hierarquiza as fontes. "Os
folcloristas portugueses (...) registam uma roda (...). Minha avó
materna, Maria Ursulina da Câmara Fernandes Pimenta, nascida em 1835,
cantou inúmeras vezes e dizia ser a ‘cantiga mais conhecida entre as
meninas daquele tempo." ( p.57)
- III. IV. V.
– Nesses capítulos, Cascudo, aprofunda a temática da influência das
três raças na formação da Cultura brasileira. [III. Participação
Indígena IV. Sobrevivência Africana V.
Permanência
Portuguesa.]
III. Pp. 78-137 ( 1. Participação Indígena,
a Poranduba. 2. Difusão da língua geral 3. Fábulas; ciclo do jabuti é de
origem africana? 4. Lendas 5. Mitos 6.tradição 7. Poética )
- Não hierarquiza as fontes.
[Seringueiros, viajantes e pequenos mercadores – Stardelli, cronistas
coloniais ...] (p.78-79-80)
- Origem – dificuldade em se encontrar uma
fonte inicial. "(...) não é possível identificar na confusão da vertente
a procedência das águas pela distinção específica das fontes." (p.87)
- Convivência (experiência provinciana)
"Um pequeno grupo de indígenas Timbiras do Maranhão passou por
Natal(...). Levei-os para uma pequena refeição. Depois pedi que
cantassem ou dançassem (...)." (p.90) "Em São José de Mipibu, na minha
meninice, conheci uma paraguaia (...). Era mestiça de guarani, mameluca.
(...)" (p.90)
- Dificuldade no recolhimento de
documentação – relação de poder. "A documentação pequenina do século
XVIII e avolumada da centúria imediata já fixou uma massa indígena
deformada pelo contato branco, desviada pelos costumes, humilhada pelas
derrotas, um indígena hóspede, triste, desconfiado, cheio de vícios
reconhecidamente pecados, quando antes não os conhecia nessa
classificação, livre de ação e pensamento, bebida e amor."(p.91)
- Regional – Universal ["simpatias de
outrora" X "método atual"] "Infelizmente ambos os etnógrafos
[Lehmann-Nitsche e Theodor Koch-Grunberg] já não vivem, para confrontar
os métodos atuais com as simpatias de outrora, abaladas ante os mapas
etnográficos e a universalidade do que julgávamos regional e típico."
(p.97)
IV. Pp. 144-162 (1. Sobrevivência
afro-negra: origens étnicas e diversidade dos folclores. 2. Gêneros na
literatura oral negra; os narradores(...).Conversação entre negros. 3.
Algumas estórias africanas. 4. Elementos africanos no conto popular.)
- Origem ("convergência, coincidência,
presença, influência, persistência") "(...) o continente africano não
era impermeável às influências culturais da Ásia e Europa (...)"(p.145)
- Universalidade dos temas. "O que se
pensava estritamente negro, estava na memória de siberianos e ingleses,
alemãs e gregos, italianos e centro americanos, marroquinos e
brasileiros (...)" (p.146)
- Embates teóricos com relação a questão
da busca da origem. "Durante muito tempo houve um processo simplista de
localizar a origem de influências. Uma estória no Brasil e outra
semelhante n’Africa? Será que Portugal não explicaria a situação de
ambos os motivos, tendo-os levado para África e Brasil? (...) O encontro
de histórias sabidamente velhas n’Africa, na Europa central e de leste,
na Lapônia, na Finlândia, na Lituânia, ou na extrema Oceania, perturbou
o método. Os próprios mapas etnográficos só podem evidenciar o diagrama
de percurso e não o ponto indiscutível da velocidade inicial."
(p.147-148)
- Destaca a importância das amas de leite
na transmissão das estórias de geração para geração. Ressalta o fato da
"velha indígena" ter sido substituída pela velha negra no Brasil.
(p.153)
- Não hierarquiza as fontes. "Meu avó
materno, Manuel Fernandes Pimenta, dizia (...)" (p.154) "Os livros de
africanistas (...), missionários e pesquisadores (...) registam, com
palavras mais e palavras menos, o dito do meu avô. (...)" (p.154)
- Relação de Poder – Dificuldade na
documentação. "O espírito do afro-negro em toda sua naturalidade aparece
raramente nas citações européias. Desvirtuam e subalternizam a
interpretação dizendo-a fiel e completa. (...)" (p.155)
- Origem. (universalidade) (...) "O
Fatalismo negro veio pelo árabe muçulmano mas toda a Grécia clássica era
fatalista." (p.163)
- Influência Africana na formação
brasileira. (...) "muitos são os ventos que sopram na terra brasileira
vindos d’Africa (...)" (p.164)
V. Pp. 165-183 ( 1. Permanência portuguesa:
a tradição oral. 2. Contos, lendas, mitos. 3. Italianos, castelhanos e
orientais na novelística tradicional portuguesa.)
- Não hierarquiza as fontes. "Um
chacareiro de meu pai, o português Antônio Portel, contou para mim quase
todos os contos que constituem Os melhores Contos Populares de
Portugal. (...)" (p.165) "Reuni, ouvindo-os de emigrantes
portugueses (...)" (p.176)
- Influência do elemento português
(Descobrimento) (...)"E, no século do Descobrimento, no fecundo século
XVI, partindo-se da expedição geográfica de 1501,as estórias populares
de Portugal são semeadas no Brasil, para uma floração sem fim..."
(p.170) "O Português emigrava com seu mundo na memória (...)" (p.170)
- Origem. (...) "Difícil será um conto
popular sem correspondência alienígena."(p.172) [universalidade]
- Regional – Universal – Nacional "Tanto
mais universal um conto mais será popular num dado país. O típico será
sempre o regional. O nacional já evidenciará uma amplidão denunciadora
de sua universalidade. (...)" (p.176)
- Origem. "(...) raramente é possível
identificar na confusão da foz a origem das águas que correm." (p.183)
VI. Pp.192-208. (1. Fontes impressas da
literatura oral brasileira. 2. Os romances e sua sobrevivência.)
- "Meninos eu vi!" – "Ainda em 1910, no
sertão do Rio Grande do Norte, vi o Feliz Independente do Mundo e da
Fortuna, ou a Arte de Viver Contente em qualquer Trabalho da Vida,
do padre Teodoro de Almeida (...)" (p.193)
- Convivência – experiência provinciana
"Conheço folhetos nordestinos narrando a estória da ‘formosa Mangalona’
(...)" (p.195)
- Portugal exercendo grande influência na
nossa formação. (...) "Todos os romances populares no Brasil vieram de
Portugal." (p.208-209) "Todos os romances vieram na memória portuguesa e
ficaram vivos no Brasil. (...)" (p.209)
- Tradição – sendo perdida, não existe
espaço e tempo no mundo contemporâneo para seu cultivo. "Há uns bons
setenta anos que as crianças não adormecem ao som da estória(...)"
(p.209)
- Ao longo de todo capítulo transcreve as
variantes de alguns romances.
- Cita algumas versões que ele mesmo
recolheu e ouviu no Rio Grande do Norte. (p.212) (p.215) [experiência
provinciana]
- Chama atenção para a persistência dos
romances na memória popular. "romances (...), atravessando as épocas"
(p.227) "(...) E esses versos vieram aos nossos dias, numa persistência
que denuncia a vitalidade da espécie popular no espírito coletivo."
(p.227)
VII. Pp. 228 – 247 ( 1. Técnica da
narrativa popular, fórmulas, informações, recursos auxiliares. 2. Estudo
do conto popular, a escola finlandesa, método histórico-geográfico,
motivos e elementos. 3. Interpretação, ... dos gêneros principais da
literatura oral.)
- Afirma que a literatura oral necessita
de um ambiente específico para sua exposição. "Noventa por cento das
estórias, adivinhações, são narradas durante as primeiras horas da
noite. Não apenas se explicaria a escolha desse horário pelo final da
tarefa diária como igualmente por ser indispensável a atmosfera de
tranqüilidade e de sossego espiritual para a evocação e atenção do
auditório." (p.228) Ressalta que escolher o período noturno para contar
estórias é um hábito universal. (...) "os velhos irlandeses têm
repugnância de contar estórias de dia porque traz infelicidade. Os
Bassuntos africanos crêem que lhes cairá uma cabaça ao nariz ou a mãe do
narrador se transformará numa zebra selvagem. (...)" (p.228)
- Convivência (experiência provinciana)
"Não ouvi uma estória desinteressante nos anos que vivi no sertão (...)"
(p.232)
- Destaca a importância dos gestos e dos
recursos sonoros na exposição das estórias. (p.233-234-235)
- Conto Popular (documento vivo) –
"primeiro leite intelectual". "O conto popular revela informação
histórica, etnográfica, sociológica, jurídica social. É um documento
vivo, denunciando costumes, idéias, mentalidades, decisões, julgamentos.
Para todos nós é o primeiro leite intelectual.(...)" (p.236)
- Crítica aos métodos de estudo do conto
popular.
"O conto popular era estudado apenas
fazendo-se o confronto entre eles e outros, de localidades próximas
ou distanciadas. O coletaneador raramente se dispensava de
aformosear a narrativa. A indicação impressa do folclore
deveria ser a justificativa de uma legalidade inexistente porque já
fora violada.
(...)"Os grandes
estudiosos da Literatura Popular e da Novelística expunham o conto e
suas variantes através de uma extensa bibliografia. Não se pensava
num estudo sistemático dos elementos que constituem o conto nem a
fixação da persistência desses elementos através da maioria das
variantes, calculando qual o tipo possivelmente mais antigo e que
dera origem aos demais (...)". (p.242)
- Destaca o método de sistematização dos
contos populares de Antti Aarne. (p.243-244) "A mera citação de um
algarismo, depois do convencional Mt (motivo), leva imediatamente ao
assunto do conto. (...)" (p.244) Chama atenção também para um outro
método de sistematização, formulado pelo professor Stith Thompson.
(p.244) " Com Antti Aarne e Stith Thompson o estudo do conto popular
em suas formas e tipos mais essenciais, ficou extremamente
simplificado e com uma visão imediata e clara de sua extensão,
universalidade e importância." (p.244)
- Diferentes Interpretações – Diferentes
Escolas
Cascudo – Escola
"humana"
"A interpretação dos
elementos de um conto tradicional depende da escola a que esta
filiado o explicador. O mais lógico é recorrer a uma escola que
existe eme toda a parte, humana, acomodadora, (...) a Escola
Eclética." (p.249)
VIII. Pp. 256-333 (Pequena antologia do
conto popular brasileiro – Classificação –Contos de encantamento –
Contos de exemplo – Contos de animais – Facécias – Contos religiosos –
Contos etiológicos – Demônio Logrado – Contos de adivinhação – Natureza
denunciante – Contos acumulativos – Ciclo da morte.)
- Cita o método de divisão dos contos
estabelecido por Sílvio Romero. "Sílvio Romero dividiu os oitentas
Contos populares do Brasil em três secsões, orientando-se pela
possibilidade de uma origem étnica. (...)" (p.257) [Contos de origem
européia, indígena, africana e mestiça.] No entanto critica essa
divisão: "Dizer que tal conto pertence a tal raça é impossível. Os
contos são tecidos cujos fios vieram de mil procedências (...)." (p.257)
- Cita outros métodos de classificação
desenvolvidos por, – Lindolfo Gomes, Basílio de Magalhães, Teófilo
Braga, Consiglieri Pedroso, Cláudio Bastos, Antti Aarne e Stith
Thompson.
- Delimita sua posição com relação a
classificação dos contos. "Os contos devem classificar-se pelo seu
gênero ou pelos motivos típicos do enredo. Não há mais outra permissão."
(p260) "Uma classificação, atendendo ao caráter brasileiro do conto e
que satisfaça aos requisitos técnicos modernos, prestando-se para
qualquer coletânea , foi apresentada por mim e aprovada pela Sociedade
Brasileira de Folclore, utilizando-a nas duas coleções de contos
portugueses e brasileiros (...). É baseada nos gêneros , respeitando a
nomenclatura tradicional, que embora esparsa, é a mais conhecida na
Europa e América." (p.261)
- Transcreve alguns contos , fazendo
comentários sobre as variantes.
IX. Pp. 337-365 (1. Poesia oral; gêneros,
tipos, modelos. 2. Desafio. 3. Poesia mnemônica. 4. Ciclo do gado 5.
Gesta dos valentes. 6. Cantiga social.)
- Formação do povo brasileiro. "(...)
Soldados e marinheiros, colonos, administradores, trouxeram para o
Brasil os usos e costumes que sobrevivem parcialmente desgastados pelo
contato com outros hábitos e elementos vitais de raças também presentes
e convergentes para a tarefa comum de formar outra gente, a gente da
terra com sangue negro e europeu." (p.337)
- Convivência (experiência provinciana)
(...) "Fabião Hermenegildo Ferreira da Rocha (1848-1928) (...) ex.
escravo, alforriado com o próprio trabalho, o mais famoso poeta popular
do agreste norte-rio-grandense. Muito o conheci e o romance do Boi da
mão de pau escrevi-o sob o ditado do autor. (...)"(p.359)
X. Pp. 367-421 ( 1. Autos populares
brasileiros e danças dramáticas. 2. Fandango ou marujada. 3. Chegança.
4. Congo ou congada. 5. Bumba-meu-boi.)
- Termina o livro dessa forma:
Cidade de Natal
15 de fevereiro de 1945.
- Bibliografia do Capítulo X P. 434.
- Observações:
- Apesar de "Literatura Oral no Brasil" e
"Folclore no Brasil" serem livros escritos em momentos distintos, o
primeiro no final dos anos 40 e o segundo em meados dos anos 60, ambos
apresentam perspectivas muito semelhantes. A questão da origem permeia
os dois livros, assim como a relação entre o universal – nacional –
regional , a questão da permanência e convergência dos temas, a
diferenciação entre Folclore e Produção Popular, e também, o amálgama
das três raças.
- A estrutura e a forma do Capítulo VIII [
Pequena Antologia do Conto Popular] se assemelha muito com a do livro
"Contos Tradicionais do Brasil" – a classificação dos contos,
comentários no final de cada conto. No entanto, os contos não são os
mesmos.
- Utiliza uma vasta Bibliografia (notas de
pé de página e uma Bibliografia no final do livro referente ao capítulo
X.
- O livro não possui epígrafes.
- Tese Central:
A questão do método é a tese central do
livro. A contraposição entre "Método Atual" e "Simpatias de Outrora"
(p.97) é uma constante. O autor enfatiza a importância de se adotar essa
nova forma de encarar a fonte oral, onde a perspectiva do regional e
típico passa a dar lugar a uma visão universal dos temas.
A influência das Três Raças na formação
brasileira é também um enfoque recorrente.
A valorização da Literatura Oral, a
necessidade de se estudá-la e principalmente respeitá-la é um ponto
também chave.
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