1893 - A 9 de outubro, nasce em São Paulo, na casa da rua
Aurora, 320, Centro da cidade, Mário Raul Moraes de Andrade. Segundo
filho de Carlos Augusto de Andrade, jornalista e tipógrafo vindo de
família humilde e de Maria Luíza Leite Moraes, segunda filha de seu
antigo patrão Joaquim de Almeida Leite Moraes, professor da Faculdade de
Direito de São Paulo e político oriundo de tradicional família local.
Este, quando nomeado presidente da Província de Goiás, em 1881, havia
realizado uma longa viagem à região em companhia de Carlos Augusto,
então seu secretário particular, percorrendo os rios Tocantins, Vermelho
e Araguaia, chegando até o Pará. Neste percurso Leite Moraes tomou seus
Apontamentos de Viagem, livro por ele publicado em 1883.
1896 - A família de Mário muda-se para o Largo do Paissandú,
26, um sobrado construído por Carlos Augusto após a morte do sogro em
1895. A madrinha de Mário, Ana Francisca, irmã mais nova de sua mãe,
passa a morar com eles e continuará em companhia da família por toda a
vida. Para a casa ao lado, muda-se outra tia, Isabel, e seus filhos.
"Essa vizinhança proporcionará a Mário e seus irmãos infância e
juventude cheia de primos e outros parentes. Ao pessoal de São Paulo
juntavam-se, periodicamente, primos de Araraquara, da família de Cândido
Lourenço Correia da Rocha, marido de tia Isabel." (A imagem de Mário,
p.19).
1899 - Nasce Renato, em fevereiro. Mário entra, aos 6 anos,
para o Grupo Escolar da Alameda do Triunfo.
1900 - Neste período, Carlos Augusto é dono da Casa Andrade,
tipografia e papelaria, sendo conhecido guarda-livros e simpatizante do
teatro – será um dos proprietários do Teatro São Paulo. Escreve e edita
a comédia Palavra antiga. Promove em sua casa representações de
peças de sua autoria e de outros autores.
1901 - Nasce a irmã caçula Maria de Lourdes, em agosto.
1904 - Primeira comunhão de Mário de Andrade, na Igreja de
Nossa Senhora do Carmo. Desta ano, provavelmente, é o seu primeiro poema
"Fiorí de-la-pá". Em dezembro, conclui o grupo escolar.
1905 - Mário ingressa no Ginásio Nossa Senhora do Carmo, dos
Irmãos Maristas, congregação de origem francesa destinada à educação da
juventude católica. Os professores são belgas, franceses e brasileiros.
Viaja com
parentes para Santos, nas férias de junho, tendo seu primeiro contato
com o mar.
1909 - Entra para a Congregação da Imaculada Conceição da
Igreja de Santa Efigênia, da qual fazia parte seu irmão mais velho,
Carlos, formado em Direito neste mesmo ano.
Mário
torna-se bacharel em Ciências e Letras pelo Ginásio Nossa Senhora do
Carmo. "Terminado o curso, empenha-se em cuidar de sua formação:
multiplica suas leituras,... freqüenta concertos, conferências e
exposições. Compra o primeiro quadro: Torquato Bassi, pintor
acadêmico... Começa a estudar piano em casa, com a mãe e a tia." (A
imagem de Mário, p.20)
O irmão
Renato estuda no Conservatório Dramático e Musical, desejando ser
pianista concertista.
1910 - Matricula-se na Escola de Comércio Álvares Penteado,
para obter a carta de Guarda-livros, como seu pai. No entanto, permanece
por apenas dois meses, desentendendo-se com seu professor de português.
Matricula-se na Faculdade de Filosofia e Letras de São Paulo, vinculada
à Universidade de Louvain e localizada no Mosteiro de São Bento. Cursa
somente o primeiro ano, mas é neste curso que entra em contato com a
literatura e autores modernos: Verhaeren, Francis Jammes, Claudel,
Gustave Kahn, Bergson, os unanimistas e os poetas da Abadia. Começa a
comprar livros.
1911 - Entra para o Conservatório Dramático e Musical de São
Paulo depois de exames que o qualificaram para o terceiro ano. Estuda
piano e matérias teóricas para, assim como o irmão, ser concertista.
1912 - É nomeado, no Conservatório, "aluno praticante"
(monitor), ensinando Teoria Musical.
Juntamente
com o irmão Carlos, funda a Sociedade de Cultura Artística.
1913 - Passa a lecionar piano no Conservatório. Torna-se,
ainda, professor substituto de História da Música.
Participa
das comemorações do 4º aniversário da Congregação da
Imaculada Conceição, da Igreja de Santa Efigênia, tocando Schubert.
Em junho,
morre seu irmão Renato. Mário sofre uma crise emocional. Seu "Tio Pio"
leva-o para a fazenda da família em Araraquara. Mário volta para São
Paulo em setembro e desiste da carreira de concertista, mantendo-se como
professor.
1914 - Como aluno do Conservatório, Mário participa de uma
audição pública, tocando piano. Matricula-se no curso de canto.
1915 - Conclui seu curso de Canto.
1916 - Como congregado mariano, pede permissão ao Vigário Geral
do Arcebispado de São Paulo para ler livros do Index: Madame
Bovary, Salambô, Maeterlinck, Heine e o Grand Dictionnaire
Larousse. Em Heine, Reisebilder e Neue Gedichte, a
primeira menção a obras na língua alemã.
1917 - Diploma-se como professor de piano e dicção no C.D.M. de
São Paulo, lecionando na instituição até 1938.
Morre seu
pai, Carlos Augusto de Andrade. Mário continuaria a morar com sua mãe,
D. Maria Luiza, até o fim da vida - exceção feita ao par de anos que
passou no Rio de Janeiro.
Assiste a
conferências na Sociedade de Cultura Artística – como a de Alfredo Pujol
– e na Faculdade de Filosofia do Mosteiro de São Bento, onde o irmão, já
formado, participa do centro de estudos.
1918 - Pede admissão ao noviciado da Venerável Ordem Terceira
do Carmo.
Em abril,
apresenta a 1ª
audição de seus alunos de piano do Conservatório.
Começa a
estudar inglês e alemão.
Em junho
recebe diploma de membro da Congregação da Imaculada Conceição, da
Igreja de Santa Efigênia.
1919 -
Profissão de fé como irmão da Ordem Terceira do Carmo.
Estuda
alemão com Else Schoeller Eggebert. Por influência sua, amplia seu
conhecimento musical: Berg, Schoenberg.
Lê e assina
a revista Deutsch Kunst, onde há reproduções de obras
expressionistas.
Em junho,
viagem a Minas Gerais, passando pelas cidades históricas, admirando o
barroco e as obras de Aleijadinho.
1920 - Lê
obras de Walt Whitman e das principais vanguardas modernistas européias,
entre elas, a antologia de poesia expressionista, Menschheits
Dämmerung.
Congregado
mariano, solicita permissão para ler Ada Negri, Fogazzaro, d’Annunzio.
Inicia a
coleta de documentos musicais do folclore e da cultura popular.
Compra o
bronze de Brecheret, Cabeça de Cristo.
1921 -
Mário muda-se com a família para a rua Lopes Chaves, na Barra Funda.
Participa
do Banquete de Trianon, quando Oswald oficializa o movimento modernista.
Participa
de conferências na Vila Kyrial, do mecenas Freitas Valle, apresentando
Debussy e o Impressionismo.
1922 - Torna-se professor catedrático de Estática e História da
Música, no Conservatório.
Mário
participa da Semana de Arte Moderna lendo, na escadaria do Teatro, um
texto teórico, provável primeira versão de A escrava que não é Isaura,
anunciada na revista Klaxon, como A poesia moderna.
Pela
repercussão da Semana na sociedade paulista, Mário perde seus alunos
particulares.
Participava também de rodas
literárias, de passeios e do chá das cinco na Confeitaria Vienense, com
os amigos da Revista Klaxon.
1923 - Estuda alemão com Kaethe Meichen-Blosen, de quem se
enamora.
Primeiras leituras sobre
psicanálise e sobre o marxismo.
1924 - Mário entusiasma-se com a Revolução e com a figura de
Isidoro Dias Lopes.
Faz sua
primeira viagem a Minas Gerais, a histórica "Viagem da descoberta do
Brasil". Durante a Semana Santa, Mário visita Belo Horizonte, Congonhas
do Campo, Sabará, Ouro Preto e Mariana, em companhia de Oswald e seu
filho Noné, Tarsila do Amaral, D. Olívia Guedes Penteado, René Thiollier
e Godofredo da Silva Teles, ciceroneando o poeta Blaise Cendrans.
Contato com a cultura popular.
Desenvolve
pesquisa sobre a língua nacional, adotando a fala brasileira como forma
de expressão do narrador de Amar, verbo intransitivo e de
Belasarte nos Contos.
Compra a
sua máquina de escrever Remington, apelidada de Manuela em homenagem ao
amigo Manuel Bandeira.
1926 - Através de suas leituras de literatura popular e de
etnografia, encontra o mito de Macunaíma no lendário indígena recolhido
por Koch-Gruenberg em Von Roraima zum Orinoco.
Reúne
material para a rapsódia que redigirá nas férias de fim de ano na
chácara do Tio Pio, em Araraquara.
Inicia
experiência de fotógrafo que irá até 1931.
1927 - Mário, neste período, está empenhado em sua poesia, em
sua ficção e em definir-se dentro do nacionalismo crítico. Desejando
conhecer o Brasil e o povo brasileiro através da cultura popular, elege
o Norte e o Nordeste como regiões privilegiadas que deveria visitar em
viagens de estudo e pesquisa. Realiza entre maio e agosto a primeira
"viagem etnográfica" ao norte, percorrendo parte da Amazônia e chegando
a Iquitos, no Peru, sua única saída do país. Mário viaja em companhia de
D. Olívia Guedes Penteado, sua sobrinha Mag e a filha de Tarsila,
Dolour.
Filia-se ao
Partido Democrático.
Viaja para
Santa Tereza do Alto, fazenda de Tarsila do Amaral, em companhia de
Segall, Souza Lima, Oswald e o palhaço Piolim.
1928 - Participa da fundação do Partido Democrático.
Entre
dezembro deste ano e fevereiro do seguinte, realiza a segunda "viagem
etnográfica", demorando-se no Nordeste em trabalho de coleta de
documentos musicais: música de feitiçaria, cocos, danças dramáticas,
romances, cantos de trabalho. Encontra Chico Antônio, cantador que muito
admira e que transforma em personagem de um romance abandonado O café
e de Vida do cantador.
1929 - Rompimento da amizade com Oswald de Andrade.
1930 -
Mário apóia a Revolução que, vencedora, liberta seu irmão Carlos, preso
pelo PRP.
Participa
da Comissão Reformadora da Escola Nacional de Música do Ministério da
Educação.
1931 - Dirige com Paulo Prado e Antônio de Alcântara Machado a
Revista Nova.
1932 -
Adere à reação paulista e apóia o movimento.
1933 -
Torna-se crítico do Diário de São Paulo (até 1935).
Ao
completar 40 anos, sofre uma crise de depressão. Este estado se instala,
com crises mais brandas ou profundas, prolongando-se até o fim de sua
vida.
Doente,
recorre às temporadas em Sapucaia, na chácara de Tio Pio.
Conferência
na Escola Nacional de Música sobre "Música de feitiçaria no Brasil".
1934 - Faz
conferência sobre danças folclóricas na Sociedade Felipe de Oliveira, no
Rio de Janeiro.
Cria e
dirige a Coleção Cultura Musical, das Edições Cultura Brasileira, de São
Paulo.
Fábio
Prado, prefeito de São Paulo, convida Mário de Andrade para participar
do Departamento de Cultura.
1935 - É nomeado, em maio, chefe da Divisão de Expansão
Cultural e diretor do Departamento de Cultura.
Em agosto,
cria a Discoteca Pública, convidando Oneida Alvarenga para dirigí-la.
Lança as
bases do atual edifício da Biblioteca Municipal de São Paulo.
Cria os primeiros parques
infantis e a Discoteca Pública de São Paulo.
1936 - No Departamento de Cultura, promove concursos sobre
assuntos variados: mobília proletária, suíte para banda, peça sinfônica
e quarteto de cordas, leitura educativa.
Elabora a
lei que dispõe sobre a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (SPHAN), juntamente com Paulo Duarte.
Como
paraninfo no Conservatório, profere o discurso "Cultura musical", um
importante ensaio.
Como
diretor do Departamento, convida o casal Lévi-Strauss para ministrar um
curso de Etnografia. Cria, com Dina Lévi-Strauss, a Sociedade de
Etnografia e Folclore, tornando-se o primeiro presidente. Realiza ali, a
conferência sobre o seqüestro da dona ausente, cujo resumo é publicado
em 1937, no número 4 do Boletim da Sociedade.
1937 - Posiciona-se contra o Estado Novo.
Projeta o
"Regulamento do Departamento de Cultura".
Através do
Departamento, é um dos organizadores do I Congresso da Língua Nacional
Cantada. Apresenta os trabalhos "Anteprojeto da língua nacional
cantada", "Os compositores e a língua nacional", "A pronúncia cantada" e
"O problema da nasal nos discos".
1938 - Na impossibilidade de acumular cargos, desliga-se do
Conservatório.
É
contratado como assistente técnico do SPHAN para a região de São Paulo e
Mato Grosso.
Desliga-se
do Departamento de Cultura.
Assume, no
Rio de Janeiro, os cargos de diretor do Instituto de Artes e de
catedrático de Filosofia e História da Arte, da Universidade do Distrito
Federal. Sua aula inaugural é o ensaio "O artista e o artesão".
No Rio, mora na Rua Santo
Amaro, 5, Glória. A saída do Departamento de Cultura e a frustração de
ver seu trabalho interrompido, lançam Mário em crise: isola-se e
entrega-se à bebida, adoecendo. Torna-se cliente de Pedro Nava.
1939 - Torna-se consultor técnico do Instituto Nacional do
Livro, onde elaborou o anteprojeto de uma Enciclopédia Brasileira.
Colabora na
programação cultural do Ministério Capanema.
Viaja para
Belo Horizonte para pronunciar as conferências "Música de feitiçaria no
Brasil" e "Seqüestro da Dona Ausente".
1940 - Intercâmbio com a Argentina, através de Newton Freitas e
Lydia Besouchet. Reata antigos contatos da década de 20 com amigos
portenhos.
Ainda no
Rio de Janeiro, muda-se para Santa Teresa.
Trabalha no SPHAN.
1941 - Retorna a São Paulo. Em carta a Paulo Duarte, em abri
escreve: "Andei sofrendo por demais... Me esqueci de toda a gente, só
interessado em digerir meu bolo cotidiano de desgraça. Desgraça que era
mais ou menos um ovo de Colombo; bastou que numa noite de porre imenso
eu batesse com o punho na mesa do bar e falasse para mim mesmo: Vou-me
embora pra São Paulo, morar na minha casa. E ei que, zás, num átimo e de
sopetão, minha desgraça diminuiu de seus sete décimos – que os outros
três décimos são a dor humana universal, eterna pelos outros homens,
coisa sem cura nem ovo possível." Em outra carta de abril: "Acusam que
estou bebendo demais. Porém enquanto eu não me achar nesta cidadezinha,
como pegar o ritmo antigo, manhãs de acordar cedo, ora já se viu! Isso
foi num tempo antidiluviano em que se falava na existência de um
Departamento de Cultura que teve a estupidez de ser cultural nesta
Loanda."
Permanece
no SPHAN, como técnico da seção paulista e viaja por todo o estado,
fazendo pesquisas. Inicia a pesquisa sobre o pintor e padre Jesuíno de
Monte Carmelo. Ainda, promove a restauração do Convento do Embu e da
igrejinha de São Miguel Paulista.
1942 - Em carta para Paulo Duarte: "Ando vivendo bem e
milhorzinho de minhas crises moraes de andrade."
Reassume a
cátedra de História da Música no C.D.M. A aula inaugural é "A atualidade
de Chopin".
É
sócio-fundador da Sociedade dos Escritores Brasileiros.
Sócio
correspondente da Sociedade de Etnologia e Antropologia.
Envia o
programa de um curso de História da Poesia Popular Brasileira, que iria
ministrar na Escola de Sociologia e Política.
1944 -
Repúdio ao nazismo.
Compra o
Sítio Santo Antônio, em São Roque, construção bandeirista do século
XVII.
Viaja a Belo Horizonte.
1945 - Participa do Primeiro Congresso Brasileiro de
Escritores, em São Paulo, de 22 a 26 de janeiro.
Morre a 25 de fevereiro, de
enfarte, na sua casa na Rua Lopes Chaves. É enterrado no cemitério da
Consolação.